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"Não tenho sentimento de dívida com a cidade", diz ACM Neto

Confira entrevista exclusiva à Tribuna da Bahia

Candidato a reeleição em Salvador, ACM Neto (DEM) já tem em mente os principais pontos que quer focar em um possível novo mandato. Crítico do cenário político e econômico que o país atravessa, ele mira a criação de empregos e afirma que faria de novo tudo o que fez nos três anos e meio de gestão. Em entrevista exclusiva à Tribuna, Neto falou ainda sobre as relações com a sua atual vice-prefeita, Célia Sacramento (PPL), e com o governador Rui Costa (PT), além da possibilidade de concorrer ao governo do estado em 2018. Confira:  

Tribuna da Bahia - O senhor se sente dormindo com o inimigo com a sua vice, Célia Sacramento, que decidiu enfrentá-lo nas urnas, ou seria ela, que o acusa de traição, quem dormia com o inimigo?
ACM Neto -
A minha relação com a vice-prefeita Célia sempre foi uma relação de respeito. Ela, até os 45 minutos do segundo tempo, não saiu do meu lado, muitas foram as vezes que trocou cotoveladas com vereadores para ver quem aparecia mais do meu lado. Diversos são os vídeos da vice-prefeita dizendo que eu sou o melhor prefeito do Brasil, que é uma administração de sucesso e por aí vai. Eu poderia passar a entrevista toda falando das qualidades que a vice-prefeita colocou ao longo dos anos em suas palavras ao meu respeito, inclusive, até pouco tempo da convenção, muito próximo da convenção essas eram as palavras. Depois, de repente, ela partiu para uma série de ataques que, na minha opinião, são irrazoáveis. Eu me sinto traído por ela porque, eu entendo o direito dela de ser candidata, faz parte do processo democrático, cada um tem o direito de tomar a decisão sobre seu futuro na vida pública, mas isso não significa ter que passar uma borracha em tudo que ela disse, se contradizer da forma que está se contradizendo e, sobretudo, recorrer a ofensas inaceitáveis, calúnias, difamações que estão sendo devidamente questionadas por mim na Justiça. Esse assunto eu deixo agora a cargo da Justiça, para quem ela vai ter que se explicar. 

Tribuna - Como cidadão, que nota o senhor dá para o governo Rui Costa e que nota dá para o governo estadual como prefeito de Salvador?
ACM Neto -
Eu não sou jurado, não participo de programa de auditório, nem me chamaram para participar de concurso nenhum. Então, me reservo ao direito de não dar nota. Se um dia me chamarem para a escolha do Rei Momo, da Princesa do Carnaval, eu dou nota. Nesse concurso eu prefiro não dar nota.  

Tribuna - Melhorou a relação com o governo Rui Costa, que já foi alvo de críticas do senhor por falta de investimentos e parcerias com a prefeitura de Salvador?
ACM Neto -
A relação institucional existe. Quando os interesses da cidade estão em jogo há um diálogo entre a prefeitura e o governo. O maior exemplo disso foi a solução para o metrô de Salvador. Uma novela que se estendia há mais de dez anos e eu cheguei na prefeitura e resolvi em pouco mais de três meses. Sempre que o interesse da cidade está em jogo, existe uma linha de diálogo entre prefeitura e governo. O que não existe é uma relação política, e não teria sentido existir, mas também não existe uma relação pessoal. Essa poderia existir. Eu digo sempre que não posso cobrar do governador simpatia, esse tipo de coisa a gente não pede. Ou as pessoas são genuinamente simpáticas, ou a gente tem que se adequar a conviver com o estilo delas. Eu sou uma pessoa tranquila, relaxada, já me relacionei com diversas pessoas de partidos adversários meus, que a gente estava ali debatendo intensamente, se enfrentando, mas depois do enfrentamento político, nas relações pessoais, se tinha uma relação leve, tranquila. O governador hora nenhuma quis dar leveza à relação dele comigo e eu respeito, não tenho que exigir isso dele. Tenho apenas que exigir respeito à cidade. Caso não aconteça, eu vou fazer valer minha prerrogativa de prefeito. Caso aconteça, vamos ter um diálogo institucional até o dia que eu for prefeito e ele governador. 

Tribuna - O senhor disse que não renunciaria à prefeitura para entrar em uma aventura. Isso significa que, se reeleito, o senhor cumprirá todo seu mandato, ou a eleição para o governo já é tranquila que o senhor não considera mais uma aventura?
ACM Neto -
Isso seria irresponsável da minha parte estar conjecturando a respeito de 2018. Primeiro, eu não tenho nenhuma obsessão em 2018. Ao contrário do que os meus adversários pensam, essa coisa de ser candidato a governador está de fato na cabeça deles, dos meus adversários, que não enxergam outra situação, já me enxergam candidato. Mas não está na minha cabeça. Eu não tenho pensado a respeito disso, da mesma forma que não tenho tratado sobre esse assunto. O meu foco está todo voltado para 2016. Não enxergo nada hoje que não seja a eleição no dia dois de outubro. Apesar da grande vantagem que tenho nas pesquisas, não tem nada ga-nho, estamos trabalhando cada vez com mais intensidade nas ruas, procurando mostrar a Salvador que o seu futuro estará em jogo no dia dois de outubro. Por tanto, 2018 não está nem em discussão, nem em reflexão neste momento. Esta é a questão central. Ademais, eu já disse que o meu destino, o meu futuro, vai depender da vontade do povo de Salvador. Não é da minha vontade pessoal, do meu partido, do meu grupo político. 


Tribuna - Os seus adversários dizem que o senhor caprichou na maquiagem e pouco fez de obras estruturantes na cidade. Quais as três grandes obras que podem marcar a sua gestão?
ACM Neto -
Quem me defende a respeito disso não sou eu, mas o próprio povo de Salvador. Outro dia eu estava no Subúrbio fazendo evento e uma moça se aproximou e disse assim, claro que eu não vou repetir com o linguajar exato porque foi uma coisa espontânea, mas ela disse: ‘prefeito, maquiagem? Pelo amor de Deus. Será que esse povo já veio aqui na Suburbana ver as obras que o senhor fez?’ Então, eu poderia passar a entrevista toda citando centenas de obras que fizemos, de projetos e programas, e aí me permita. O projeto Morar Melhor, reformando 20 mil casas por ano de pessoas mais pobres, o projeto Primeiro Passo, ajudando a mais de 30 mil crianças de zero a cinco anos a completar suas rendas, o projeto Casa Legal, dando título de propriedade para milhares de famílias, obras viárias estruturantes como a ligação Cajazeiras - Valéria - BR-324, a ligação Cajazeiras V - Abrantes, Avenida Suburbana, nova Baixa do Fiscal, nova Eduardo Doto, Ladeira do Cacau, poderia citar a nova Estação da Lapa, o Bilhete Único, Domingo é Meia, termos dobrado o número de vagas em creches pré-escolas, das mais 190 escolas construídas ou reformadas, dessa fantástica notícia que tivemos do aumento da qualidade do ensino, sendo a capital que mais avançou, do hospital municipal que estamos construindo, das oito UPAs que construímos. De termos mais do que dobrado o número de equipes de Saúde da Família, das centenas de escadarias que fizemos, dos mais de 411km de asfalto que recuperamos, dos diversos canais que limpamos, das mais de quatro dezenas de encostas que construímos. Poderia falar de uma série de coisas, mas não preciso, apesar de já ter citado algumas, porque as pessoas viveram, sentiram e veem. Muito mais do que qualquer tipo de agressão que venha dos meus adversários, está o testemunho dos que tiveram as suas vidas transformadas nos últimos anos da nossa gestão. Por isso mesmo é que os ataques, as ofensas não estão surtindo efeito. Eles batem, cada vez batem mais, e as pesquisas mostram que eles não estão conseguindo crescer. Por outro lado, eu não usei nenhum minuto da minha campanha para bater. Estou mostrando o que fiz e o que vou fazer. O que consolidamos e o que temos para o futuro. Essa é a questão. Para mim o mais importante é o testemunho do povo de Salvador, que vai ser confirmado nas urnas no dia dois de outubro. 

Tribuna - Muitos pais de família buscam no Uber uma forma de obter renda, mas o senhor segue inflexível na proibição do serviço, mesmo com a OAB tendo considerado inconstitucional a medida. Por quê?
ACM Neto -
Primeiro, eu não tenho obrigação de pensar igual à OAB ou ao Ministério Público neste assunto. A prefeitura tem uma posição diferente. Segundo, eu disse sempre que fizemos um grande esforço para regulamentar os serviços de transporte como um todo na cidade. Com a concessão dos ônibus, que estava na gaveta há 40 anos e conseguimos tirar do papel, com a atualização do regulamento dos táxis. Depois de 20 anos sendo debatido nós conseguimos tirar do papel, com a regulamentação do serviço de transporte regulamentar, do serviço de transporte turístico, agora estamos concluindo a regulamentação do serviço de transporte escolar, com a regulamentação do mototaxi, que era uma luta antiga da cidade, e simplesmente chegou o Uber ao arrepio do diálogo da prefeitura, ao arrepio de qualquer desejo de regulamentação e pôs o serviço com situações desiguais com quem está regulamentado. Quem está regulamentado precisa seguir regras que são fundamentais para a harmonia da cidade e para a segurança do usuário. Eu sei que em geral, as pesquisas mostram que a maioria da população é a favor do Uber. Se eu quisesse agora, véspera de eleição, tomar uma decisão eleitoreira, populista, dizia: ‘não, vou fazer’. Eu como prefeito tenho a responsabilidade de tomar medidas que não são as mais populares, mas que são necessárias para a cidade. Eu sei como é pesado garantir que todo um sistema de transporte funcione. Esse é o motivo principal e, por tanto, esse assunto não está hoje na minha pauta, não está aberta na prefeitura, vamos seguir com o reforço do sistema com os serviços que já temos hoje funcionando. 

Tribuna - O senhor pretende levar o Centro Administrativo Municipal para o Comércio?
ACM Neto -
Nós temos um projeto, que chegou a ser estudado, de uma Parceria Público-Privada (PPP) para a implantação do Centro Administrativo, que em nenhuma hipótese deve sair do Centro Histórico. Eu acho que seria possível compatibilizar dois grandes módulos, um na região da Rua Chile, outro no Comércio. Os estudos mostram que ou ele deve ficar na região do Centro Histórico, onde está hoje, ou deve ser compatibilizadas essas duas áreas. Sair do Centro Histórico seria tirar um movimento histórico fundamental. Se eu puder, eu vou trazer, e não tirar do Centro Histórico. Um Centro Administrativo precisa respeitar uma decisão estratégica de cidade, não é apenas a conveniência, o conforto do funcionamento do dia a dia da prefeitura. Quando meu avô, como governador, fez o Centro Administrativo da Bahia, o CAB, ele enxergou a cidade crescendo e devendo se desenvolver para aquela região da Paralela em direção a Lauro de Freitas. Hoje a gente vê o Centro Histórico precisando de investimentos,  não tendo que conviver com a fuga de pessoas. Agora, para que o projeto de Centro Administrativo possa ir adiante, é preciso que a economia brasileira volte a ter uma perspectiva de crescimento, pois aí os investidores privados voltarão a ter interesses em operações estruturadas como essas, que em todo o Brasil foram paralisadas nos últimos dois anos por conta da crise.

Tribuna – E o exemplo do Aeroclube, tem alguma perspectiva para aquela área?
ACM Neto -
O Aeroclube foi outra vítima da crise. Temos uma concessão que está em vigor, houve um avanço, aquele elefante branco não existe mais, foi demolido, a área está toda limpa. O parque público ao lado do Aeroclube está em construção e a previsão da sua conclusão é para o final do ano, que é a principal contrapartida do concessionário, só que o Grupo Jereissati que estava comprometido com a construção de um shopping center, que passou por uma série de discussões com a prefeitura até sua aprovação, quando veio a crise segurou esse investimento. Ali não adiantava brigar com os fatos. Esse ramo de shopping center está tendo problema no Brasil todo. Tem muitos shopping centers que foram inaugurados e estão com 30%, 40% da ocupação. Não nos interessava que fosse iniciada uma obra que parasse no meio. Seria péssimo para a cidade e nos deixaria sem um plano B ou C. Hoje a prefeitura ao passo que dialoga com o concessionário, também procura estudar alternativas. Abri conversas com outros grupos que possam ter interesse naquela área e o nosso desejo é que a partir do próximo ano tenhamos uma solução, claro que isso necessariamente passa por uma retomada da economia do país. 

Tribuna – Representantes do setor imobiliário não escondem a preocupação com a situação atual do ITIV, que hoje tem que ser pago no momento da compra do empreendimento. De alguma forma o senhor avalia a possibilidade de fazer mudanças, já que o momento atual é bem diferente do período em que a lei foi modificada pela Câmara?
ACM Neto -
Nós temos um pacote que está no forno, não posso antecipar e não quero ser acusado amanhã ou depois de estar utilizando isso com objetivos eleitoreiros, mas temos um pacote de medidas que de alguma forma trata dos principais tributos, inclusive do ITIV, que vai ser apresentado depois da campanha. Sem querer antecipar detalhes, nós estamos examinando as coisas. Eu peço a devida compreensão em função do momento, mas estou sensível a todo tipo de argumento do setor produtivo. Neste momento a discussão em Brasília é aumentar imposto, não reduzir. No nosso caso aqui eu estou preparando um pacote que vai sinalizar a redução de impostos. Detalhes só após a eleição.

Tribuna - Quais são as três prioridades do senhor para uma eventual nova gestão na cidade?    
ACM Neto -
Eu vou focar em três vetores. No vetor administrativo em si eu diria que o nosso maior desejo é oferecer produtividade à prefeitura, que é um conceito muito presente na vida privada, no dia a dia das empresas e ainda muito distante do setor público. Como a gente pode fazer mais com o mesmo recurso? Como a gente pode garantir a contratação de soluções que resolvam a demanda perante a prefeitura utilizando tecnologia, recurso de gestão e gastando menos? No campo administrativo a regra, a palavra principal vai ser produtividade. No campo dos serviços públicos, essenciais à cidade, nós queremos aprofundar ainda mais esses números que aconteceram na educação e na saúde. Temos números muito expressivos nessas duas áreas, como se a gente tivesse plantado para agora colher. No caso da educação, garantido que mais vagas de creche e pré-escola sejam criadas, que mais vagas de ensino em tempo integral sejam oferecidas através das Escolabs e que a nossa rede continue se qualificando para que o resultado dos próximos Idebs sejam tão bons quanto os anunciados este ano. No caso da Saúde, garantir a construção do Hospital Municipal de Salvador, que é uma prioridade absoluta do nosso governo, continuar ampliando a atenção básica e expandir os multicentros com atendimento especializado. Esse é o segundo vetor. O terceiro vetor é o papel da prefeitura como indutora, como estimuladora e fomentadora do futuro de Salvador. Aí entra a intervenção que pretendemos fazer na área econômica, gerando atrativos para que novas empresas, empreendimentos possam se instalar em Salvador. A cidade do passado, aquela que eu assumi em janeiro de 2013, não tinha a menor condição para isso. Ela não transmitia segurança, confiança e respeito a ninguém. Hoje a cidade criou as bases para chamar o investidor em uma política de incentivos fiscais séria, parceira com a iniciativa privada tentando fomentar o emprego. De uma maneira geral, eu diria que são essas três grandes áreas que a gente foca para um segundo período de governo. 

Tribuna - O que não foi feito por ACM nesses primeiros anos de gestão e que fica a sensação de que poderia ter sido feito?
ACM Neto -
Eu confesso que fiz muito mais do que imaginava fazer. Fui muito seguro nas minhas promessas em 2012. Lembro bem das minhas palavras e dizia que a principal tarefa seria arrumar a casa. A gente revisita as promessas de 2012 e quase todas elas foram cumpridas. As principais foram cumpridas. Eu confesso que no dia 1º de janeiro de 2013, quando assumi a prefeitura, eu não imaginei que fosse possível fazer tanto. Isso não quer dizer que eu sou perfeito, que a gestão foi perfeita, que não tem o que melhorar, o que aperfeiçoar. Sempre tem, mas eu, com muita tranquilidade, e humildade, faria tudo que foi feito e como foi feito. Não tenho esse sentimento de dívida com a cidade. O que não quer dizer que a gente não pode fazer ainda mais, e eu espero me reeleger justamente para isso. 

Colaboraram: Fernanda Chagas e Gabriel Silva