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"É preciso se pensar a cidade de maneira democrática", diz Hilton Coelho

Confira entrevista à Tribuna da Bahia

Opositor ferrenho do prefeito ACM Neto (DEM), o vereador Hilton Coelho (PSOL) avalia que o desemprego é um dos principais problemas de Salvador. Para Hilton, é preciso acabar a “superconcentração” da atividade econômica em determinadas áreas da cidade, e “acabar com a perseguição” aos trabalhadores ambulantes.

Hilton avalia também que o momento político pelo qual passa o país terá impacto direto no resultado das eleições da capital baiana, e diz que ACM Neto “é incontestavelmente aliado das forças do golpe”. O vereador também critica a atual composição da Mesa Diretora da Câmara Municipal.

Tribuna da Bahia - Como o senhor avalia a atual legislatura da Câmara Municipal de Salvador?
Hilton Coelho -
Hoje fazemos uma avaliação bastante crítica em relação ao papel que a Câmara deve cumprir, que é não apenas de elaboração de projetos. Talvez nesse quesito nós tenhamos uma atuação bem interessante. Mas especialmente no quesito fiscalização do Executivo, a Câmara ficou muitíssimo aquém do que ela poderia fazer. Temos muitas críticas em relação à gestão do prefeito ACM Neto. Isso se materializa não apenas na minha avaliação. Baixo número de sessões na Câmara e a dificuldade dos vereadores através de uma condução autoritária da Mesa Diretora, especialmente por parte do presidente. Tudo isso compromete a intervenção da Câmara. Isso fica parecendo que os vereadores não têm atuado. Por exemplo, na Comissão de Educação, que teve uma atuação muito incisiva, muito presente. Como diria o presidente (da comissão), Sílvio Humberto (PSB)... nós visitamos as escolas. Nós chegamos a fazer visitas a todas as unidades de escola em tempo integral. Fizemos um relatório sobre isso. Teve a questão do programa Alfa e Beto, e o programa acabou sendo retirado do município com autocrítica do próprio prefeito.
 
Tribuna - E seu mandato? O que pode ser destacado em benefício da população?
Hilton - 
Eu destacaria a questão da educação. Nós tivemos um posicionamento ativo. A negação do Alfa e Beto, o debate sobre o plano de carreira. Levantamos a necessidade de resgatar o plano de carreira dos servidores da educação. A reserva de jornada foi uma grande vitória. E também teve nossa movimentação que garantiu que a educação não fosse privatizada do artigo nono do plano municipal de educação. Foi uma sessão extremamente conturbada, onde eu fui agredido. Foi uma demonstração de rigorosidade muito grande do movimento social e também de articulação com nosso movimento. Aprovamos uma moção de repúdio à redução da maioridade penal por unanimidade na Câmara de Vereadores.
 
Tribuna - Como o senhor avalia o governo de ACM Neto? Qual o principal erro e o principal acerto?
Hilton - 
O principal acerto é um conjunto de iniciativas relacionadas aos espaços públicos em bairros de periferia. É inegável que muitos espaços foram reformados e revitalizados. Ainda que de maneira insuficiente, a questão da pavimentação avançou nos bairros populares. Insuficiente porque carece de saneamento básico. Em relação a grandes intervenções de revitalização, muitos problemas aconteceram porque foram feitas de maneira autoritária, como na Barra e no Rio Vermelho. Apesar da estética bonita, a prefeitura dialogou muito pouco com a população desses locais. Especialmente a prefeitura não conseguiu resolver um problema fundamental de Sa lvador, que é o problema do desemprego. Salvador é a capital do desemprego, com quase 25% de sua população nessa situação. É quase o dobro da média nacional, que está em torno de 13 a 14%. Tem também a expulsão dos ambulantes, a forma como se tratou os autônomos. Isso agravou significativamente a situação de desespero das famílias. Outros dois problemas são saúde e educação. Do ponto de vista da estética, o prefeito conseguiu construir uma imagem, mas em conteúdo, saúde e educação continuam sendo direitos que a população não tem encontrado de maneira digna.
 
Tribuna - Entre as carências da cidade, o que deve ser colocado como prioridade pelo próximo prefeito?
Hilton - 
Em primeiro lugar, a questão do emprego. Precisamos fazer com que a prefeitura deixe de ser um instrumento de agravamento dessa situação e procure estimular potenciais que Salvador tem. A economia criativa, explorar os potenciais artísticos e tecnológicos devem ser estimulados. Precisamos sair desse quadro de superconcentração em determinadas regiões da cidade. Tem que pensar a cidade como um todo, de maneira democrática. A mobilidade é outra questão importantíssima. Salvador precisa responder ao miolo da cidade. Se não você vai excluir uma imensa parte da população, e ao mesmo tempo não vai dar passos significativos na região do Iguatemi. Toda aquela região da Avenida ACM é impactada pelo miolo da cidade. A Paralela também. E tem a questão do subúrbio ferroviário. A ligação com o metrô precisa ser feita com o trem do subúrbio ferroviário. Precisa rever também PDDU e Louos. Porque a proposta que foi aprovada vai criar sombreamento nas praias e uma quantidade ainda maior de esgoto vai ser despejada nas praias de Salvador.
 
Tribuna - A crise nacional está impactando nas eleições de Salvador neste ano?
Hilton -
Com certeza. Temos aí um presidente que não foi eleito pelo povo. Portanto, ele é ilegítimo, e ele aumentou essa ilegitimidade logo depois do impeachment da presidente eleita. Ele fez cair por terra o principal argumento que teria fundamentado o impeachment, que seriam as pedaladas fiscais. É um poder central desmoralizado, que quer retirar conquistas históricas dos trabalhadores. Eles querem rasgar a CLT, tirar mais direitos de aposentados e pensionistas. Isso nacionaliza as eleições que são municipais. Em Salvador, por exemplo, temos o prefeito ACM Neto, que é incontestavelmente um aliado dessa movimentação golpista. Mas acreditamos nas manifestações populares que vão impactar no Brasil, e aqui em Salvador não vai ser diferente. Estou muito confiante nesse momento que se abre.