Candidato pelo PP à prefeitura de Salvador, Cláudio Silva aponta o desemprego como o principal problema da cidade, o que acaba refletindo diretamente no aumento dos índices de violência.
Nesta entrevista à Tribuna, o ex-superintendente da Sucom na gestão de João Henrique também aponta a falta de investimentos em infraestrutura e educação como falhas do governo de ACM Neto (DEM), e ainda critica a tensão existente entre as administrações municipal e estadual, o que seria prejudicial à vida do soteropolitano.
“Quando sente um problema de saúde, o cidadão não quer saber se está entrando em um hospital de Neto ou em um hospital de Rui. Também não quer saber se a escola é de Neto ou de Rui, quer uma boa escola. Então, é preciso haver uma convergência desses poderes”, defende. Confira entrevista completa:
Tribuna da Bahia - O senhor foi um dos auxiliares mais próximos do prefeito João Henrique na gestão passada. Que avaliação o senhor faz dela?
Cláudio Silva - Como toda gestão, existiram problemas. É claro que esses problemas não podem ser generalizados, porque alguns segmentos foram muito beneficiados. Se você comparar a gestão do prefeito João Henrique com a atual gestão no quesito aumento de salário dos servidores públicos, foi moderada. Tanto na administração de Imbassahy, que foi 0% de aumento, tanto na de ACM Neto, que foi insignificante. Se você falar em obras de infraestrutura, a anterior também ganha de moderada, porque foi feita uma megaobra de infraestrutura, que foi a drenagem do Itaigara. O que dizer também da Avenida Centenário, que quando existiam chuvas também havia alagamentos e também foi feita uma obra de drenagem? Não conheço nenhuma grande obra de drenagem da atual administração, nem na de Antônio Imbassahy. Também encontramos outros quesitos, como da educação. Os índices da educação obtidos na gestão anterior são muito superiores ao da administração de ACM Neto. Só para se ter uma ideia, com João Henrique houve um aumento significativo de classes de pessoas não alfabetizadas, mais de 20 mil pessoas foram alfabetizadas em Salvador no programa de alfabetização de adultos. Na questão do sistema público de iluminação, foi também na gestão de João Henrique que houve uma mudança no custeamento, na colocação de lâmpadas de LED, tanto na Cidade Alta quanto na Cidade Baixa. Meu papel não é defender a gestão de João Henrique, mas dizer que cada gestão contribui de alguma forma no quesito em que ela é mais forte.
Tribuna - Qual o principal erro e qual o principal acerto da gestão de ACM Neto?
Silva - O principal erro foi não dar atenção àquilo que é o maior problema da cidade, que foi dar atenção à geração de emprego e renda. Muito pelo contrário. Ele tomou atitudes que sufocaram a construção civil, que era uma indústria que gerava empregos de uma forma portentosa e não fazia de Salvador a capital nacional do desemprego. Então, ele cometeu um erro gravíssimo ao não ampliar programas de incentivo dentro de unidades pequenas de produção, não houve ação de qualificação de pessoas. São 540 mil pessoas perambulando pela cidade sem esperança, isso incrementa a violência. A questão da violência, das drogas, do vício no álcool decorre dessa situação em que a cidade se encontra. Mas houve avanços na gestão de ACM Neto. Ele tomou cuidado de zelar pela imagem da cidade no que diz respeito à pavimentação asfáltica, embora já apresente uma situação que nos preocupa. Ele teve um cuidado plástico muito grande, mas não de forma aprofundada, como é o caso da Barra. Não se fez um estudo mais apropriado da Barra e agora está voltando atrás, vai ter que voltar a passar carro. E agora quando os carros voltam, os comércios já fecharam, os moradores já foram prejudicados. Então existem acertos e erros na atual gestão, e os erros incluem não se preocupar com o desemprego e com a área de saúde. É um caos a área de saúde. Existe também uma tentativa de mascarar que obras importantes da cidade foram feitas pelo governo do Estado. O metrô foi feito pelo governo do Estado, a duplicação da Pinto de Aguiar, a duplicação da Orlando Gomes, a Fonte Nova foi feita pelo governo do Estado em parcerias com empresas privadas, a nova Concha Acústica, várias obras de contenção de encostas… Então, a nossa campanha propõe pensar diferente e mostrar que não existe escola do município e escola do Estado, hospital do município e hospital do Estado. Escola é escola e hospital é hospital. Quando sente um problema de saúde, o cidadão não quer saber se está entrando em um hospital de Neto ou em um hospital de Rui. Também não quer saber se a escola é de Neto ou de Rui, quer uma boa escola. Então, é preciso haver uma convergência desses poderes.
Tribuna - O que lhe parece o novo Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano, o PDDU, e o que esperar de Salvador nos próximos quatro anos já que temos uma nova Louos votada pela Câmara?
Silva - Em primeiro lugar, o Plano Diretor cometeu algumas falhas muito graves. Ele não olhou para a cidade do ponto de vista do ser humano, mas das obras, da questão da infraestrutura, da expansão do tecido urbano. Caso houvesse, haveria uma atenção maior das áreas mais pobres, de interesse social, que foram consideradas inclusive áreas com potencial de crescimento urbano, considerando a possibilidade de aumento de potencial construtivo, isso é um crime grave. Todos os arquitetos e urbanistas que participaram dos debates, das audiências públicas, saíram de lá horrorizados. No que diz respeito à Louos, confesso que devemos esperar para ver se o prefeito vai de fato sancionar a lei, porque a lei também tem algumas falhas. Em pleno século XXI, a lei dá plenos poderes a um administrador para dizer o que vai acontecer na cidade. Existe uma lacuna que diz que os limites das zonas serão definidos pelo prefeito e por uma comissão que ele definir. Isso não cabe em uma cidade como Salvador. Então existe uma falha muito grave. A lei não legislou para o Subúrbio Ferroviário, para as situações de pobreza que estão espalhadas pela cidade.
Tribuna - O que o senhor vai colocar como prioridade caso assuma a prefeitura de Salvador?
Silva - A prioridade maior é gerar emprego para esse povo que está passando fome e morrendo na cidade. A segunda prioridade maior é dar uma educação e uma saúde também de qualidade. E depois resgatar o amor pela cidade, porque não podemos sair por aí dizendo que a cidade voltou a sorrir e olhar nos olhos do nosso cidadão as dificuldades que ele vive. Precisamos de um programa intenso de aproximação com o empresariado, e não bani-lo com tributos. Costumo entender que o prefeito entendeu que Salvador é a Roma negra, mas ele colocou os negros de lado e transformou Salvador em Roma. É cobrar muito imposto e fazer festa para as pessoas não pensarem muito. Então, precisamos criar um programa efetivo de emprego e renda na cidade, precisamos devolver a autoestima do cidadão.
Tribuna - Quem o senhor espera ter no seu palanque para lhe dar musculatura suficiente para chegar a um eventual segundo turno?
Silva - Vou ter dois palanques. Vou ter o palanque físico, que é esse que você vai pra rua, pega o microfone e fala com as pessoas. Mas vou ter o palanque virtual, aquele em que as pessoas de casa estarão. Quem vai estar ao meu lado do campo político é o governador Rui Costa, já declarou o seu apoio, o vice-governador João Leão está ao nosso lado também e é o coordenador dessa grande transformação da cidade de pensar diferente, o nosso deputado José Carlos Araújo, o homem que expulsou o maior corrupto da história do Brasil da cadeira de deputado. Além disso, tenho fé que outros políticos vão se juntar a nós. Políticos que são candidatos a vereadores, lideranças. Tem também o ex-prefeito João Henrique, que está ao nosso lado entendendo que somos capazes de não cometer as falhas que ele cometeu e fazer o melhor pela cidade. Acertar aquilo que ele acertou, de uma forma melhor, e não cometer as falhas que ele cometeu. Porque se nós já vimos o errado, não dá para repetir o errado. Vamos fazer o certo.
Colaboraram: Fernanda Chagas e Guilherme Reis.