Líder do PSDB na Câmara dos Deputados, o baiano Antonio Imbassahy tem expectativa de que pelo menos 60 dos 81 senadores votem pela perda do mandato da presidente Dilma Rousseff no Senado. Em Salvador, o tucano exalta a gestão de seu aliado ACM Neto (DEM), “o melhor prefeito do Brasil”, e diz que acredita que ele será eleito no primeiro turno nas eleições deste ano. Já do lado de Rui Costa, o deputado do PSDB não vê nenhuma qualidade positiva no governador. "Vejo um governo anódino. Um governo sem marcas... É um governo que você não sabe o que é que é", dispara o líder do PSDB no Estado. Confira entrevista completa:
Tribuna da Bahia - Como o senhor avalia o momento da política brasileira? Ainda está muito tenso?
Antônio Imbassahy - Não. Com o afastamento da presidente Dilma Rousseff (PT) e a entrada interinamente do vice-presidente Michel Temer (PMDB), nós alcançamos uma estabilidade política, uma relação de harmonia e respeitosa entre o Executivo e o Congresso. O resultado são as votações que estão acontecendo na Câmara e no Senado. E a economia começa a dar sinais de recuperação. Eu entendo que é um momento de inversão das expectativas que tínhamos junto ao governo petista.
Tribuna - Como o senhor e o PSDB avaliam esse começo de gestão do presidente Michel Temer?
Imbassahy - Sem dúvida, no conjunto da obra é extremamente positivo. Temos que entender que o Temer é um presidente ainda interino. Portanto, com alguns condicionamentos, mas que governa com muita parcimônia e moderação. Ele fez uma equipe ministerial de grande qualidade, montou uma equipe econômica eficiente e de comprovada competência, e tem dado sinais claros de que está colocando o país na direção certa. Nesse período, apesar das limitações em consequência da interinidade, o presidente está se saindo muito bem.
Tribuna - Como foi o jantar que aconteceu na última quarta entre a cúpula do PSDB e Temer? Como está a relação entre o Planalto e o partido?
Imbassahy - A relação sempre foi muito boa. Agora, evidentemente que não dispensa a possibilidade de críticas, que devem sempre ser feitas por qualquer partido ou qualquer entidade da sociedade civil, sempre no sentido de construir, de acertar. Foi um jantar muito denso do ponto de vista do debate. Foram quatro horas de conversação com a presença do presidente Michel Temer; dois importantes ministros de Estado, Moreira Franco e Eliseu Padilha; e pelo PSDB, participaram senadores liderados pelo presidente do partido, senador Aécio Neves; Aloysio Nunes; Cassio Cunha Lima; Tasso Jereissati e Ricardo Ferraço. Eu estava presente e tive oportunidade de verificar o alto nível das conversações e o espírito público que sempre norteou o debate, e não apenas a qualidade do debate, mas também o resultado do que ficou acertado.
Tribuna - Muito se tem falado sobre a possibilidade de candidatura do ministro Henrique Meirelles para 2018. Isso tem incomodado o PSDB?
Imbassahy - De forma nenhuma. Qualquer cidadão em 2018, observada a Constituição, pode se colocar como candidato à presidência da República. Nós queremos agora, e é exatamente o que o presidente Temer e o PMDB desejam, é colocar o país na direção certa. Sem pensar em processo eleitoral, porque isso é uma coisa que teria e tem o repúdio da população, pensando notadamente na reconstrução da economia. Esse ciclo perverso do desemprego, cada vez mais crescente, e também recuperar a renda das famílias brasileiras. Esse é o norte que o PMDB está dando, e nós, ao lado do presidente Temer, estamos também dando nossa contribuição.
Tribuna - Qual o pior cenário para o PSDB em 2018? Temer tentar reeleição ou o PSDB ter dificuldade de apresentar um candidato competitivo?
Imbassahy- Não pensamos nisso. Sinceramente. Nós queremos o sucesso do presidente Temer, que consequentemente é o sucesso do governo. Portanto, os brasileiros terão os benefícios que virão. 2018 ainda está muito distante. O país vai atravessar eleições municipais e não deve de forma nenhuma presidir na cabeça do governante o alvo de processo eleitoral notadamente para 2018. Isso seria uma coisa até irresponsável, governar pensando em 2018. Tem que governar pensando em reconstruir a economia e fazer com que realmente possamos ter expectativa de desenvolvimento econômico.
Tribuna - Por que o PSDB não se beneficiou com a saída da presidente Dilma?
Imbassahy - Há um desencanto geral com a classe política. Evidentemente que isso atinge o PSDB. Nas pesquisas também você observa que atinge outras personalidades de outros partidos políticos. É a situação que nós vivemos. Economia em depressão, baixa estima da população, falta de esperança e os péssimos exemplos que estão sendo revelados na operação Lava Jato. Tudo isso atinge o íntimo dos brasileiros, e a consequência é esse tipo de reação junto à classe política.
Tribuna - Como o senhor vê o loteamento de cargos que marca o começo do governo do PMDB? Uma repetição de erros do PT?
Imbassahy - Não vejo loteamento de cargos. Sinceramente. Eu vi o presidente montando um ministério observando a estrutura política. O presidente Temer foi três vezes presidente da Câmara dos Deputados. Consequentemente ele tem uma larga experiência congressual. Ele procurou montar o ministério observando essas gerações para que ele tivesse uma base ampliada na votação das medidas importantes no Congresso Nacional. E ao mesmo tempo ele teve a percepção de montar uma equipe econômica de extrema qualidade e elogiada por todos. Não foi loteamento. Foi uma estruturação observando a base de apoio político no Congresso Nacional.
Tribuna - Tem-se falado muito nos bastidores que o PSDB queria ter mais espaço no governo Temer. O PSDB quer mais cargos?
Imbassahy - Não há esse tipo de disputa por espaço político. O PSDB tem na sua estrutura personalidades de grande valor, como tem em outros partidos políticos também, e nós queremos que nossas ideias, nossos programas possam ser aproveitados. Queremos participar da formulação, da conceituação de propostas das reformas estruturantes. Foi isso inclusive que se debateu longamente nesse encontro no Palácio do Jaburu. O presidente Temer acha que realmente tem que ser assim mesmo. Partidos que têm quadros de qualidade devem colaborar para recuperar o país.
Tribuna - Michel Temer vai conseguir tirar o país da crise? Quando a população vai conseguir perceber essa melhoria?
Imbassahy - Eu confio, porque sem dúvida nenhuma é tudo o que ele tem dito e reiterado. Ele quer colocar o país na rota do desenvolvimento econômico, pacificar a nação, e a partir do momento que for consagrado o afastamento definitivo da presidente Dilma Rousseff, eu acho que ele reunirá plenas condições para tomar as medidas que a população espera e merece. Eu não tenho dúvidas por tudo que eu ouço não apenas da parte do presidente, mas também de ministros importantes, como o próprio ministro Geddel Vieira Lima (PMDB), é nessa direção, de acertar as coisas. Agora, evidentemente o legado do governo do PT é um desastre completo, uma economia destroçada, uma desorganização administrativa e também um aparelhamento enorme do petismo. O PT confundiu o Estado com o partido, colocou praticamente o Estado brasileiro a serviço de um partido. Tudo isso demanda tempo. Não se pode de uma hora para outra, em três meses, quatro meses, dar uma solução. Mas quem acompanha com interesse percebe que a cada momento tem acontecido um avanço.
Tribuna - Ao ser efetivado no cargo, Michel Temer vai ter mais força para dar uma guinada na gestão do país?
Imbassahy - Acredito nisso. Acredito muito. Eu acho que ele vai aprofundar as relações dele com o Congresso Nacional, vai dissipar dúvidas. Muitas dúvidas existem ainda em relação à perspectiva de sucesso do governo, tem muitas imprevisibilidades. Tudo isso, a partir do momento em que ele assumir definitivamente vai diminuir. É claro que o que havia antes, com a presença da presidente afastada governando o país, era a mais absoluta certeza de que o país caminhava a passos largos para o abismo. Quando Temer assumiu, essa perspectiva já mudou. A partir do momento em que ele for efetivado, é claro que isso aí vai modificar de uma maneira muito intensa.
Tribuna - Foi a política, a economia ou a roubalheira quem derrubou a presidente Dilma?
Imbassahy - Acho que é um conjunto da obra. A presidente Dilma foi uma invenção do ex-presidente Lula, uma criatura que foi imaginada, fantasiada como se fosse uma supergerente, de uma mulher que combatia as coisas erradas, que passava a vassoura em qualquer tipo de suspeita. E de repente, o que se viu foi uma personalidade completamente desqualificada para o exercício da Presidência da República, que mentiu aos brasileiros, que conviveu e permitiu que fosse ampliada a corrupção, tendo em vista o petróleo, tudo que tem sido publicizado. Foi a economia, foi ela ter violado a Constituição brasileira, foi ela ter feito gastos sem autorização do Congresso Nacional, foi ela ter dito que na eleição ia fazer o diabo. E fez. O resultado foi esse legado traduzido em números financeiros.
Tribuna - Qual a expectativa do senhor para a votação final do processo de impeachment no Senado?
Imbassahy - São necessários 54 votos (para a presidente perder o mandato). Pelas contas que são feitas hoje, eu acho que o Temer terá pelo menos 60 votos. Pode ter até 61 votos.
Tribuna - Alguma estratégia para o dia em que ela for se defender no Senado? Vocês, do PSDB, pretendem apertar a presidente Dilma?
Imbassahy - Não. O que a gente vai fazer é continuar tratando o assunto com todo cuidado, observando rigorosamente a Constituição brasileira, a legislação, para que não haja nenhum tipo de conotação de agressão à legislação. Isso tem acontecido desde o início. As sessões no Senado já estão sendo presididas pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Ricardo Lewandowski, o que consolida uma decisão constitucional. Agora é aguardar o juízo final, na certeza de que esse grande mal que o ex-presidente colocou para dirigir o país vai ser afastado definitivamente.
Tribuna - Até o PT já jogou a toalha sobre o retorno da presidente?
Imbassahy – Sim. É o que eu ouço todos os dias. Ouço de deputados e de senadores petistas, que resta para o PT um pouco do discurso, essa coisa de que esse enfrentamento não tem base legal, mas eles mesmos não querem mais a Dilma. O partido já jogou a toalha sobre o retorno dela. A Dilma, quando feito seu afastamento definitivo, nem o PT vai querer mais que ela se aproxime. É o que eu ouço lá. É uma figura tão execrada pela população e também pelos petistas. No fundo, ninguém quer mais ter convivência com ela. Esperam até que ela não queira ter carreira política. É o que o PT fala no Congresso.
Tribuna - Qual a expectativa do PT agora de volta à oposição? Uma oposição raivosa?
Imbassahy - Acho que vão voltar a fazer o que eles sabem fazer. Na verdade, governando, eles deram demonstrações claras de que foram incompetentes. Não governaram bem. O PT sempre soube fazer oposição. Só que agora, eles vão ter que ter muito mais cuidado, porque o partido entrou em declínio, em descrédito. Tudo isso vai obrigar os petistas a uma reinvenção. A gente percebe isso até nas eleições municipais deste ano. O PT tem dificuldade de arranjar candidatos para as grandes cidades brasileiras. Salvador é um exemplo. Não tem candidato do PT aqui. Dizem até que o próprio governador Rui Costa (PT) não quis colocar candidato do PT para não ser obrigado a aparecer na televisão com o número 13, porque isso pode prejudicar a imagem do governador. É o que dizem. Não sei se é verdade.
Tribuna - E a operação Lava Jato? Há expectativa de que o cenário possa complicar para o meio político, já que até agora só os empresários pagaram pela fatura da corrupção?
Imbassahy - Essa é a consequência natural. Pelo que está acontecendo, é o que se tem colocado. A Lava Jato se transformou num patrimônio da sociedade brasileira. É uma operação que vem sendo realizada com equilíbrio pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal. Evidentemente a gente tem que ter todo cuidado, porque em qualquer tipo de acusação o direito de defesa tem que ser oferecido. E agora começam a surgir informações de que nomes da área política deverão ser revelados. Agora é aguardar um pouco com bastante tranquilidade, e dizer que a operação segue. Agora, tudo dentro da constituição.
Tribuna - Com as delações de Marcelo Odebrecht e da OAS a situação do senador Aécio Neves e do ministro José Serra se complicou. Qual a expectativa dentro do partido?
Imbassahy - Discordo dessa sua afirmação. São acusações já antigas em relação ao senador Aécio, uma falsa lista de Furnas, que já foi inclusive dito várias vezes que é uma fraude. Mas voltou. Tem também revelações contra outras pessoas do PSDB e de outros partidos também. É natural que se faça isso. É aguardar com tranquilidade. Quem não cometeu qualquer tipo de equívoco não tem porque se preocupar. É o caso do senador Aécio. Tranquilo. Aguarda as investigações. Ele tem dito isso reiteradas vezes. O fato é que o senador já foi provado à exaustão, como um homem que já foi eleito governador de Minas Gerais por duas vezes, senador da República, combateu o PT, e agora recentemente numa disputa com o PT, tanta coisa que foi colocada contra ele, até do ponto de vista da sua família. E tudo isso depois foi visto que era uma técnica sórdida do PT. É aguardar as coisas com serenidade e a verdade vai prevalecer.
Tribuna - Como o senhor avalia o governo de ACM Neto? Ele chega fortalecido na eleição deste ano?
Imbassahy - Muito fortalecido. Eu acho que a reeleição do ACM Neto vai ser dar pelo mérito da administração que ele está fazendo. Ele é um prefeito de atributos inquestionáveis; um governante aplicado, responsável, competente, formou uma grande equipe, fez um excelente programa de governo, conseguiu a autonomia da prefeitura da cidade, do ponto de vista financeiro, e realiza uma administração com um caráter social inequívoco. Isso lhe dá uma posição de melhor prefeito do país nas pesquisas de opinião pública. Isso é bom para a cidade, é bom para a administração, faz bem aos baianos de uma maneira geral e dá a ele uma possibilidade enorme, e eu tenho uma certeza muito grande de que a vitória dele vai se dar no primeiro turno.
Tribuna - O PT vai sofrer os impactos da crise pela qual atravessa o país nesta eleição?
Imbassahy - Vai. Se você olhar o Brasil como um todo, são poucos os candidatos a prefeito pelo PT nas grandes cidades brasileiras. É um negócio impressionante. A decadência do partido é enorme. Aqui na Bahia ainda tem um resíduo em função de o governo do Estado ser comandado pelo PT. Mas ainda assim, você percebe que já há também uma exaustão, uma redução, e as pessoas não querem nem essa logomarca ‘eu sou petista’, ‘eu sou número 13’, porque lamentavelmente, até para a tristeza de todos, ficou um partido com a marca muito desagradável da corrupção.
Tribuna - Como avalia o governo de Rui Costa? Qual o principal erro e qual o principal acerto?
Imbassahy - Vejo um governo anódino. Um governo sem marcas... É um governo que você não sabe o que é que é. Você não tem na Bahia um planejamento, você não sabe para onde é que a Bahia vai, qual é a direção da Bahia, quais são as novas fronteiras de desenvolvimento do estado, qual é o planejamento estratégico, não tem nada disso. É um feijão com arroz. Pega o avião e vai ali, inaugura uma coisa e inaugura outra. Coisas pequenas. Você não vê nenhuma coisa estruturante que dê à Bahia um posicionamento de vanguarda. O fato é que durante esse período do PT, a Bahia perdeu posição na economia nacional, com relação ao PIB brasileiro. Nós tínhamos uma posição e perdemos. Não apenas no país, como também na região Nordeste, e mais ainda, perdemos prestígio político. Você não tem um governante que quando fale, o país ouça. Se você chegar em Brasília, é uma coisa lamentável. É muito triste para um estado como a Bahia passar por uma situação como essa. Portanto, é um governo que não tem características que você possa definir.
Colaboraram: Fernanda Chagas e Romulo Faro