O vereador Everaldo Augusto (PCdoB), fazendo jus ao seu papel de oposicionista, afirmou que a gestão de ACM chega ao final sem ter resolvido os principais problemas da cidade, sem obras macrodrenantes, seja nos bairros populares ou de classe média.
“A cidade de hoje é igual ou pior que a cidade quatro anos atrás. Continua campeã de desemprego, violenta, desigual, sem oportunidades de trabalho. Neto fez intervenções pontuais na Barra, Itapuã, mas no conjunto da cidade não apresentou um projeto de resgatar a parte humana de Salvador”, disparou.
Tribuna da Bahia - Como o senhor avalia a atuação da Câmara na atual legislatura?
Everaldo Augusto - A Câmara teve oportunidades ímpares de se firmar como poder autônomo e discutir os temas mais importantes para a cidade. Foram vários os projetos importantes do Executivo que chegaram, dando a oportunidade dos vereadores interferirem no planejamento da cidade, finanças da cidade, instrumentos de planejamento urbano, o PDDU, a Louos, mas fica a sensação de que a Câmara não aproveitou a oportunidade. Serviu apenas como instância homologadora dos serviços do Executivo.
Acho que essa foi a principal debilidade que a Câmara teve, agora, teve uma boa produção, debates, audiências públicas, um processo transparente de administração. Porém, no aspecto da sua afirmação política, teve essa dificuldade, sem a devida autonomia para interferir no planejamento da cidade.
Tribuna da Bahia - Como o senhor avalia o seu mandato e o que coloca de destaque para a população?
Everaldo Augusto - O destaque principal foi levar para o ambiente da Câmara de Vereadores os grandes temas da cidade. Salvador vive uma crise de crescimento urbano, uma cidade desigual pela inexistência de políticas públicas, não tem vocações econômicas, e eu procurei levar o debate sobre economia solidaria, a busca de outras alternativas econômicas, planejamento de uma cidade sustentável que preserve suas áreas verdes, tenha um sistema de transporte multimodal.
O principal destaque foi apresentar projetos nesse sentido. Uso de bicicleta na cidade, e além disso, a visibilidade de problemas importantes para os trabalhadores. Discuti a questão dos táxis e mototáxis, que são profissões que têm a ver com a gestão municipal.
Tribuna da Bahia - Como avalia a gestão de ACM Neto? Qual o principal erro e o principal acerto?
Everaldo Augusto - A gestão de ACM Neto vai passar por julgamento agora, mas na minha avaliação é uma gestão que chega ao final sem ter resolvido os principais problemas da cidade, sem obras macrodrenantes, seja nos bairros populares ou de classe média, não aguentam chuva, não tratou da mobilidade urbana, aumentou a privatização, privatizou espaços públicos como a Lapa e aumentou as finanças.
A cidade de hoje é igual ou pior à cidade quatro anos atrás. Continua campeã de desemprego, violenta, desigual, sem oportunidades de trabalho. Neto fez intervenções pontuais na Barra, Itapuã, mas no conjunto da cidade não apresentou um projeto de resgatar a parte humana de Salvador.
Tribuna da Bahia - Quais as maiores carências da cidade e que deve ser colocado como prioridade pelo próximo prefeito?
Everaldo Augusto - São várias as carências, mas a questão da mobilidade urbana não melhorou, faltam linhas de ônibus. Tem a saúde, que deixa a desejar, a recuperação da rede física não aconteceu na escala que precisa, não tratou bem os servidores públicos, teve muitas greves, mas ao mesmo tempo foi um prefeito que atendeu todas as exigências de determinados setores da economia.
Os shoppings queriam cobrar estacionamento, ele deixou, os empresário do setor imobiliário quiseram flexibilizar o IPTU, ele flexibilizou, desconstruíram as áreas verdes. Para atender os segmentos econômicos, ele foi muito dirigente, mas para tratar dos problemas da cidade, deixou a desejar.
Tribuna da Bahia - Com as mudanças na legislação eleitoral, como será a campanha deste ano, sobretudo na questão arrecadação?
Everaldo Augusto - O nosso perfil de candidatura não é de fazer campanha baseada no lastro de recursos. Acho que as medidas tomadas pela Justiça Eleitoral ainda são tímidas, precisa de uma reforma política no sistema como um todo, no entanto, a tentativa de coibir o uso do poder econômico eu acho positivo.
Do ponto de vista da nossa campanha, não teremos um impacto que possa limitar nossa campanha. A nossa campanha está no mesmo patamar que estaria sem a mudança. Contudo, essa legislação pode levar a um melhor equilíbrio das disputas, embora, aqueles que se beneficiam do recebimento desses recursos, estão compensando com o uso da estrutura da prefeitura.
A prefeitura tem uma máquina, que não atende bem a cidade como um todo, mas na hora de decidir sobre o voto do eleitor, funciona. Através do projeto que o prefeito aprovou. Reforma de casas, atender determinadas comunidades.
Tribuna da Bahia - Acha que o atual cenário político pode interferir nas eleições, principalmente em Salvador?
Everaldo Augusto - A gente não pode dizer isso ainda porque a eleição ainda não começou. Temos uma investigação séria em curso, que é a Lava Jato, lamentamos que ela tenha sido utilizada somente para desgastar o campo da esquerda, liderado pelo PT. Fica evidente que as empreiteiras do país não financiavam campanhas eleitorais, financiavam a eleição.
Queremos ver se até o final das eleições vai surgir o nome do prefeito envolvido nessas contribuições, ou outro fato mais determinante que vai impactar no processo eleitoral. O que já aconteceu até aqui vai influenciar parte do eleitorado que vai ser mais rigoroso na hora de escolher o seu voto.
Existe uma tendência de melhorar a qualidade do voto da população de Salvador, resultado desse quadro de crise. Mas vamos fazer o jogo jogando, ver o que vai acontecer daqui para frente.