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Vereador diz que marca de ACM Neto "é indústria das multas" em Salvador

Nesta entrevista, o vereador também fala sobre os desafios a serem enfrentados na campanha

Militante político há mais de 30 anos, o vereador Arnando Lessa (PT) acredita que a gestão do prefeito ACM Neto (DEM) é excessivamente midiática e não resolveu os principais problemas da cidade, como a mobilidade, o trânsito caótico e a desigualdade social.

O petista não teve papas na língua ao dizer que o democrata promoveu uma “indústria da multa”, gerando com isso a terceira maior receita do município.

Por outro lado, Lessa defende que a atual legislatura foi marcada pela produtividade, contemplando todas as áreas e setores da cidade.

Nesta entrevista, o vereador também fala sobre os desafios a serem enfrentados na campanha e as prioridades do próximo prefeito.

Tribuna da Bahia - Como avalia a atuação da Câmara na atual legislatura?
Arnando Lessa -
Vejo a Câmara com uma visibilidade muito boa, conseguindo passar esses quatro anos sem nenhum escândalo, sem nenhuma denúncia do ponto de vista administrativo ou político, e com uma produtividade muito boa. Obviamente que nós da oposição nos queixamos do rolo compressor, da aceleração da pauta, manobras naturais do processo legislativo, mas que quem é minoria sofre muito. Mas, em um contexto geral, gosto muito de ser vereador. Já fui deputado, agora sou vereador, preservo muito essa instituição que se chama Câmara Municipal.

Acredito muito que, com todas as dificuldades que passamos, porque temos uma Câmara muito heterogênea, a Câmara é a expressão da cidade. Não tem que ter uma Câmara só de intelectuais, com pessoas com formação política, ideológica; é preciso ter uma Câmara como é mostrada na cidade verdadeira, não pode ser artificial.

Uma Câmara verdadeira é aquela em que a cidade expressa os seus incômodos mais diversos, tanto o Caminho das Árvores, como o Bairro do Uruguai, Massaranduba… Então, é na amostragem, no conjunto da sociedade que se tem cada um dos 43 vereadores. A gestão da Câmara, a mesa diretora, trabalha muito no sentido de prestigiar o vereador, de fortalecer o mandato, o que facilita a vida do vereador. Quem tem mandato hoje já sai na campanha com uma certa vantagem, porque o vereador tem uma estrutura que o candidato não tem.

Tribuna - Como avalia o seu próprio mandato? O que você colocaria como destaque de benefício à população?
Lessa -
No nosso mandato, tivemos duas fases muito distintas. Na primeira, nos dedicamos a fiscalizar as ações do Executivo, as questões que achávamos que a população deveria tomar conhecimento, e procuramos fazer isso de forma contundente, fazendo uma oposição sem uma visão personalizada, sem xingamentos. No segundo momento, fizemos um debate mais de construção. Trabalhamos com o PDDU, que é uma lei extremamente importante, em que nós estivemos à frente, procurando contribuir, debater, e fazer com que a cidade conhecesse o que é PDDU e Lei de Ordenamento e Uso do Solo.

Tribuna - Como o senhor avalia a gestão de ACM Neto?
Lessa -
É um governo que tem uma mídia muito forte, ocupando todos os espaços tendo uma presença extremamente midiática. Percebemos isso quando estamos nos bairros. Essa realidade do prefeito ACM Neto, que se apresenta como um imbatível candidato a prefeito, poderá se refletir nas urnas. Eu até disse outro dia que precisamos ocupar os espaços vazios da cidade, os espaços onde a mídia não chegou. Você tem ações e estratégias apenas nos bairros ricos. Nos bairros populares, você tem a borra do asfalto ali, mas não tem uma presença. O governo dele não teve desgastes nem maiores problemas. E na campanha nós vamos procurar mostrar as fragilidades do governo, onde que ele não atuou com qualidade. Como o governo atuou na saúde, na educação, na infraestrutura da cidade, nas obras estruturantes.

O governador Rui Costa foi o grande investidor. O governo do Estado tem uma grande presença na cidade com obras estruturantes, obras que vão marcar e dar reflexo na qualidade de vida das pessoas. Em saúde, segurança, planejamento estratégico, coisa que Neto não teve. Ele foi tocando a partir do momento e quando a situação financeira permitia, e não tem um governo que se ressalta pela qualidade da educação, da saúde e da manutenção da cidade.

A cidade continua tendo os mesmos problemas, os mesmos alagamentos de quatro anos atrás, os mesmos engarrafamentos. Não temos uma mudança de qualidade nos serviços que possa ressaltar uma identificação do governo.

Qual é a identificação do governo ACM Neto? O arrocho na cobrança de impostos no início da gestão, as coisas que aconteceram do ponto de vista da elevação dos tributos, ações substanciais e pontuais aqui ou acolá. É um governo que tem uma marca muito midiática e que não tem uma identificação com a qualidade daquilo que apresentou.

Tribuna - Quais as principais carências de Salvador hoje e o que deve ser colocado como prioridade pelo próximo prefeito?
Lessa -
A principal carência é a manutenção da cidade, o fortalecimento da população de baixa renda. Até hoje você tem obras estruturantes realizadas na gestão de Manoel Castro. No governo de Mário Kertz, as passarelas, a marca do governo teve intervenções feitas. A gestão de Lídice, as encostas, a questão do Cidade Mãe, tem uma marca. Até no governo Imbassahy você tinha alguma identificação com ações na periferia, na melhoria da qualidade de vida. Você não tem isso no governo de Neto. Olha quantas pessoas morreram por falta de encosta, quantas pessoas ficaram sem casa, quantas ruas foram alagadas…

Quais foram as soluções apresentas para o trânsito, por exemplo? Os mesmos engarrafamentos que ele garantiu que iria resolver em 2011 continuam hoje. A marca do governo ACM Neto é a indústria das multas.

Transformar as multas em receita, é a terceira maior receita do município. Isso é inquestionável. Você tem uma sinalização que induz o motorista a cometer erros e sofrer infração. Não se tem uma campanha de educação, de teoria de trânsito, de estimular as pessoas a cumprir o estabelecido na lei do ponto de vista do limite de velocidade. Tem uma pegadinha nos semáforos, e a sinalização vertical e horizontal sem refletir na qualidade.

Então, é uma marca negativa, a indústria das multas e a falta de investimentos na área estruturante.

O próximo prefeito precisa mudar essa realidade de ver a multa como uma receita; tem que se pautar na manutenção da cidade, uma cidade onde possa chover e as pessoas não estarem preocupadas com alagamento, poças, movimentos de terras, entupimento das sarjetas; uma cidade que seja boa para quem passa na Avenida Paralela, ou quem passa na Avenida Beira-Mar, na Suburbana ou em qualquer avenida de bairros populares.

Então, a cidade não pode ser apenas uma cidade dos ricos. Redução da desigualdade social deve ser a prioridade da próxima gestão, para que não dê continuidade a essa modelo excludente e extremamente penalizador para a população de baixa renda.

Tribuna - Acredita que o cenário nacional e a crise política que o Brasil atravessa vão impactar nas eleições aqui na Bahia?
Lessa -
Acredito que haverá algum reflexo, é uma preocupação que muita gente tem, mas eu não tenho percebido essa situação. Pode ser que na hora que a campanha majoritária se estabelecer no debate venham à tona algumas questões. Muito ruim essa eleição que se dá no contexto da corrupção, onde desvios de recursos, onde partidos e pessoas são envolvidas, mas o que tenho dito sempre é que precisamos separar o joio do trigo.

Quem errou que pague pelo seu erro. Não devemos ter vergonha de levantar a bandeira do partido, nem a bandeira que defendemos, nem as ideias, porque estamos comprometidos e dando o exemplo de como é que nós fazemos política. Eu, por exemplo, não tenho nenhuma vergonha de dizer que sou PT, que o meu número é 13 e que estou ao lado do governador Rui.

Tenho muito orgulho dessa relação que tenho com os parceiros, porque não tenho nada a temer; não estou e nunca estive envolvido em nenhuma irregularidade.