Ministro da Secretaria de Governo do interino Michel Temer, Geddel Vieira Lima (PMDB) acredita que o Brasil voltou a caminhar no rumo certo após o afastamento da presidente Dilma Rousseff.
Em converda com a Tribuna, fala sobre os planos que a atual gestão vem elaborando para a economia, sobretudo no que tange à previdência social.
“Acho que o presidente já começa a mostrar que já há um governo que tem diálogo com a sociedade […] e a partir da votação do impeachment, teremos cada vez maior rapidez nas sinalizações de que o país pode de novo olhar o futuro com esperança.”
Tribuna da Bahia - Como você vê esse momento da política nacional? Ainda é um momento tenso?
Geddel Vieira Lima - Não deixa de ser um momento tenso, mas experiência para viver com tranquilidade, aguardar as coisas acontecerem, ir monitorando, ajudando o presidente nas articulações com o Congresso e outras áreas do governo. Mas não deixa de ser um momento tenso.
Tribuna da Bahia - Como tem sido a sua atuação como um dos homens de confiança do presidente?
Geddel - Tenho uma relação de absoluta confiança com o presidente, de quase 30 anos, nós nos entendemos de olhar. A equipe no Planalto é muito unificada, eu Padilha, chefe da Casa Civil, o próprio presidente… É um governo que não tem disputas internas nem dificuldade de relacionamento entre os integrantes. Da minha parte, procuro desempenhar as funções que o presidente me delega, faço o que estou autorizado para fazer. Ajo como uma pessoa do presidente na articulação com o Congresso Nacional, nessa articulação política, nessas missões que por vezes ele me dá de relacionamento com outros ministros, missões federativas com governadores, prefeitos, com movimentos sociais, que são também muito afeitas à nossa secretaria.
Tribuna da Bahia - Como você avalia o governo de dentro para fora?
Geddel - Não dá para fazer uma avaliação de um governo interino. Ele tem as dificuldades de um governo interino. A relação com o Congresso fica mais tensionada, a relação com a sociedade ainda não é uma relação definitiva. Então, acho que é um governo que vamos avaliar de forma mais clara, e tenho absoluta convicção disso, no momento em que o Congresso Nacional, através do Senado, se manifestar e o presidente for efetivado nessa função. A partir daí acho que teremos grandes desafios pela frente, reformas importantes: a reforma da previdência, reforma política, reformas sem as quais o Estado brasileiro, tanto do ponto de vista social quanto econômico, não se sustenta. Acho que esse é o grande desafio do governo, que precisa olhar para a história.
Tribuna da Bahia - Como vê as críticas de que houve loteamento político no início do governo Temer?
Geddel - Isso é absolutamente natural, é uma coisa recorrente. Acho que precisamos definir o modelo de governo que queremos. Se é uma democracia, não tem outro caminho, é a negociação política, é a conversa, é a participação de aliados ajudando a governar. Esse lero-lero de “troca isso”, “troca aquilo por isso” existe desde que o mundo é mundo e sempre vai existir. O importante é que o presidente tenha o comando, a lealdade dos ministros, das pessoas que está nomeando.
Tribuna da Bahia - O que esperar do governo do PMDB, já que havia um momento de descrédito muito grande há muito pouco tempo?
Geddel - Acho que os resultados já estão surgindo. Se você for para a área econômica, apesar de todas as dificuldades da interinidade de resgatar a confiabilidade, a credibilidade, você vê investidores brasileiros com disposição de já voltar a investir no país. Há uma perspectiva de queda de inflação, de retomada de postos de trabalho. Agora evidentemente que sobretudo o mercado, os investidores, aquele que corre o risco, eles querem definições. E essas definições só poderão ocorrer quando for votado o impeachment no Senado da República.
Tribuna da Bahia - Acha que o presidente interino vai conseguir tirar o país da crise?
Geddel - Acho que o presidente já começa a mostrar de forma clara que já há um novo governo, um governo que tem diálogo com a sociedade, com o Congresso Nacional, um governo que tem base parlamentar, que está procurando conversar com clareza com o empresariado. E às vezes isso é confundido com um governo que recua, que não avança, e devo dizer e volto a insistir: a imprensa reiteradas vezes é injusta nessa área, “o governo recuou”, “o governo propôs e voltou atrás”. Vivemos em uma democracia. Lugar onde as propostas do governo são aprovadas do jeito que ele faz é nas ditaduras. Em uma democracia, você tem que negociar com o Congresso, com grupos de pressões, com o empresariado, com os trabalhadores… O importante é que o governo saiba aonde quer chegar, e ele sabe. Por exemplo, o governo estabelece um teto de gastos, renegocia a dívida dos estados, “ah, mas ele cedeu aqui e ali”. Meu amigo, mil caminhos levam a Roma. A negociação política, a paciência, a temperança, fazem com que os projetos sejam aprovados, e aprovados com essa ou aquela modificação que pode parecer ser recuos, mas com o objetivo de serem atendidos. Então, acho que o governo vai avançar, e a partir da votação do impeachment no Senado, teremos cada vez maior rapidez nas sinalizações de que o país pode de novo olhar o futuro com esperança.
Tribuna da Bahia - Acredita que a presidente Dilma consiga de alguma forma retornar ao poder após o julgamento no Senado?
Geddel - A presidente Dilma perdeu as condições políticas, perdeu as condições de legitimidade. Tanto é que ela fica dizendo que vai fazer uma carta à sociedade, se comprometendo com plebiscito, coisas sem pé nem cabeça. Até o PT já entendeu que o retorno dela só levaria o país ao caos absoluto.
Tribuna da Bahia - Como vê essa movimentação do ex-presidente Lula para tentar reverter o impeachment?
Geddel - Natural. O ex-presidente Lula é um homem da política, que não quer sair da política, enfrenta dificuldade, mas se movimenta para se manter vivo, para animar a sua militância, para manter uma parte do seu legado. Acho que é natural e é próprio dos homens que têm a política como instrumento de luta.
Tribuna da Bahia - Como viu o resultado do último Data Folha, que mostra que 50% da população quer a continuidade de Temer e apenas 32% quer a volta de Dilma?
Geddel - Vejo com moderado otimismo de quem percebe que a sociedade começa a ver, mesmo na interinidade, que há um presidente que tem tranquilidade, temperança, capacidade de diálogo, sem autoritarismo, quer ouvir a todos e marchar para frente. Que quer devolver ao país a capacidade de sonhar, que quer devolver aos trabalhadores a capacidade de imaginar que pode ter o seu emprego, devolver a renda às pessoas que perderam muito de sua renda, lutar pelos pobres. Enfim, um presidente que tem a exata noção que o destino lhe ofereceu uma oportunidade única de marcar a sua presença na história.
Tribuna da Bahia - 2018 já é pensado e delineado dentro do governo?
Geddel - 2018 é pensado e delineado nas especulações da imprensa. Estamos às vésperas das eleições de 2016, quem vai pensar em 2018 agora? São dois anos e meio, a gente não sabe nem se vai estar vivo, não tem que estar especulando sobre 2018. De qualquer forma, o presidente Temer já deixou claro que ele não é candidato à reeleição. Isso não está nas nossas cogitações, é absolutamente incompatível o que precisa ser feito para o país retomar o trilho com qualquer perspectiva de você trabalhar uma candidatura presidencial. O presidente Temer tem e terá compromisso com a história, que exige e cobra dele agora que tenhamos a capacidade de devolver a esperança, fé no futuro, crença na previsibilidade desse país para que empresários, profissionais liberais voltem a acreditar, voltem a investir no setor produtivo, surjam empregos, melhore a renda e que toda a nova geração possa olhar o futuro de uma forma mais amena.
Tribuna da Bahia - E a Operação Lava Jato? Há algum excesso em sua condução?
Geddel - Excesso sempre há. Talvez o maior excesso seja essa fase aí de misturar alhos com bugalhos, joio com trigo. Mas acho que tudo isso é um momento que o país passa, um momento delicado, e as próprias instituições se encarregarão de resolver isso.
Tribuna da Bahia - Com a queda de Eduardo Cunha, acha que ele vai ter o mandato realmente cassado?
Geddel - Tenho dito que o Planalto não tem que apoiar nem que não apoiar. Isso é de alçada e competência do Parlamento. As pessoas no Brasil precisam parar de achar que o governo se mete em tudo, esse é um assunto da esfera parlamentar e ponto. A Câmara dos Deputados, quando achar que é o momento, julgará se é procedente ou não a representação do Conselho de Ética sobre Eduardo Cunha.
Tribuna da Bahia - A eleição para presidente da Câmara dos Deputados, como avalia a ascensão do Democratas, que até então era um partido pequeno e alvo do PT?
Geddel - É natural da democracia. É nosso parceiro, tem sido leal ao nosso projeto, participa do governo do presidente Temer. Rodrigo Maia é um jovem parlamentar capaz. Fiquei muito feliz com o resultado, acho que o governo, do ponto de vista do espectador que é nesse processo, venceu naquela eleição quando dois aliados foram para o segundo turno. Qualquer que fosse o resultado, mereceria o nosso aplauso.
Tribuna da Bahia - Quais são as prioridades do Planalto para o Congresso?
Geddel - Esse é um semestre particularmente difícil. Desde que o mundo é mundo, quando você está nas vésperas das eleições, é difícil ter quórum no Congresso, os parlamentares não vão a Brasília com a mesma intensidade porque estão na luta em suas bases eleitorais, em seus municípios e na eleição dos seus prefeitos. Aliás, tem também outra peculiaridade, que é a questão da Olimpíada, que sempre gera dúvidas, mas quando começa mobiliza a opinião pública, as torcidas, e isso dificulta a mobilização no Congresso Nacional. Mas, fundamentalmente, temos uma pauta que agora é a renegociação da dívida dos Estados.
Tribuna - O governo começou a realizar uma reforma com os estados, mas os municípios começaram a gritar. Como vai ser a relação agora com os municípios?
Geddel - Acho que esse é outro grande desafio do presidente Temer e ele tem repetido isso de forma reiterada. Temos uma federação absolutamente distorcida. Grande parte da arrecadação dos tributos nacionais está na União. Desde a Constituição de 1988, foi delegada aos municípios sobretudo uma série de atribuições sem a correspondente contrapartida de recursos. Isso precisa ser enfrentado. Isso é bom que não seja enfrentado apenas do ponto de vista da gestão, do ponto de vista político. Nada é mais imoral na relação política do que essa tal da governabilidade. Você elege um prefeito por um partido político, com um discurso, para no dia seguinte, sob o argumento da governabilidade, de que se não estiver próximo ao governo não terá sua gestão eficaz, ele abandonar o discurso de campanha e trazer o seu partido para aderir aos governos de plantão. Portanto, essa discussão do pacto federativo é fundamental. Difícil, sim, porque trata de recursos, de divisão de dinheiro, de reforma tributária, mas insisto: apesar do pouco tempo, o governo do presidente Temer tem que começar a propor uma mudança clara no sistema federativo brasileiro.
Tribuna da Bahia - E a relação com o governo Rui Costa?
Geddel - Telefonei para o governador Rui Costa, colocando a discussão. Tenho acompanhado os interesses do governador. Acho, no entanto, deselegante continuar insistindo nesse discurso de golpe e ao mesmo tempo pleitear recursos. Em determinado momento, tem que ter humildade, marcar uma audiência com o presidente da República, conversar, o que não significa que nem um nem outro tenha que capitular ou se render a teses políticas de quem quer que seja. Agora, é evidente que não dá para ter o governador de um estado federativo que o tempo todo fica agredindo o governo federal. Em algum momento, o governador Rui Costa terá que colocar acima das suas convicções partidárias os interesses da Bahia nessa relação com o governo federal, e eu sempre estarei de portas abertas para ser intermediário nessa relação e na defesa dos interesses da Bahia.
Tribuna da Bahia - Como avalia o governo ACM Neto? Ele chega fortalecido na própria reeleição?
Geddel - Não tenho dúvida. Ele fez uma gestão qualificada. Do ponto de vista das contas públicas, ajustou; do ponto de vista daquilo que interessa ao cidadão, intervenções urbanas, a questão da saúde, da educação, ele trouxe avanços apesar das dificuldades na relação tanto com o governo do Estado quanto com o governo federal. O maior exemplo disso é o BRT. Cheguei em Brasília e em dois meses consegui destravar, isso vai começar, o presidente deve vir aqui para lançar uma licitação. Algo que o governo federal poderia ter feito, mas não. Tinha o discurso e uma prática diferentes. O discurso de que todos somos iguais, mas por baixo dos panos prendendo os interesses de Salvador, querendo fazer com que a prefeitura ficasse subjugada ao governo do Estado como ele sendo o intermediário de recursos federais sem uma ponte direta com o governo municipal. Isso acaba. Então, acho que ele chega fortalecido com uma grande aliança, e não tenho dúvidas que vamos reeleger o prefeito nessa chapa com o PMDB no primeiro turno.
Tribuna da Bahia - Ao que credita a vitória de Bruno Reis na disputa pela vice?
Geddel - Ele é um jovem qualificado, veio para o PMDB, se credenciou, conquistou apoios, com lealdade, com decência, transparência, é amigo do prefeito. Acho que quem ganha é Salvador e o PMDB se sente absolutamente representado por Bruno Reis na candidatura a vice-prefeito.
Tribuna da Bahia - O PT vai sofrer impactos na próxima eleição diante desse cenário de crise que ainda vivemos?
Geddel - Não tenho dúvidas. O PT enfrentará dificuldades para convencer a sociedade nessa quadra de que ele pode ser uma alternativa política e gerencial para o Brasil e os municípios.
Tribuna da Bahia - Como avalia o governo Rui Costa?
Geddel - Digo sempre que é um governo sem marca, um governo mediano, sem brilho. É um governo meeiro.
Tribuna da Bahia - Qual vai ser o tamanho do PMDB após essa eleição? A chegada ao Planalto vai dar robustez ao partido?
Geddel - Acho que vai ser o tamanho que o PMDB conseguir conquistar junto à sociedade. Hoje você tem um lado partidário muito fracionado para um partido conseguir grande hegemonia em uma eleição como essa em cinco mil municípios brasileiros. O PMDB tem que participar do processo político: eleger prefeitos, perder outros, mas levantar a sua militância, formatar lideranças, o que talvez seja o grande mal do Brasil de hoje. A falta de lideranças, e nem me refiro a lideranças políticas, mas lideranças médicas, empresariais, advocatícias, educacionais, jornalísticas, em todas as áreas. Quem são Ulisses Guimarães e Trancredo Neves de hoje? E isso é muito ruim em um país como o nosso. Precisamos de lideranças que apontem rumos.
Tribuna da Bahia - Como viu as vaias que o presidente tomou na abertura da Olimpíada?
Geddel - Acho que Nelson Rodrigues disse que no Maracanã se vaia até minuto de silêncio. Evidentemente que há mobilizações para que haja isso, mas nesse caso de crônica de vaia anunciada, não cria nenhum constrangimento. A vaia e o aplauso são as duas faces da mesma moeda em uma democracia.
Tribuna da Bahia - O que esperar de Geddel na condução dessa relação com a Bahia?
Geddel - As mesmas manifestações de amor à minha terra. O que eu puder fazer para colocar a Bahia em primeiro lugar, vou fazer. Do ponto de vista pessoal, as minhas ambições políticas maiores foram sepultadas sete meses atrás.
Colaboraram Fernanda Chagas e Guilherme Reis.