Desde o seu primeiro mandato, em 2005, a vereadora Vânia Galvão (PT) é conhecida na Câmara de Vereadores de Salvador por sua atuação com os movimentos sociais. Em 2014, voltou à Casa após assumir a vaga deixada por Edvaldo Brito.
Vânia Galvão é mais uma dos 43 parlamentares que participam de uma série de entrevistas da Tribuna.
Na conversa, ela avalia a gestão do prefeito ACM Neto e critica o atual prefeito. “A prefeitura atual não tem uma ação republicana com relação à Câmara de Vereadores. Quem for ligado ao prefeito, tudo bem. Quem não for, não adianta fazer requerimento que os seus pleitos não são considerados”, disse.
Tribuna da Bahia - Como a senhora avalia a atual legislatura da Câmara de Salvador?
Vânia Galvão - Em termos de votação de projeto, eu acho que foi bastante positiva. Projetos de modo geral. O que teve de mais relevante foram os projetos do Executivo, foram aprovados, mas temos uma crítica muito grande em vários que foram apresentados, no nosso entendimento deveríamos ter tido um maior debate, porque são projetos muito complexos que não deu para fazer uma avaliação completa dos efeitos para a cidade do Salvador. O PDDU foi um desses casos, agora a discussão da Louos. No momento em que você estabelece todo o debate sem uma grande discussão, porque as audiências foram feitas, mas e as contribuições que saíram desses debates? Foram todas contempladas? Todas observadas? No caso do PDDU, por exemplo, as entidades de classes, os problemas que poderiam acontecer, foram considerados? Nós questionamos muito o fato das emendas terem sido apresentadas sem um debate, da mesma forma a Lei de Ordenamento e Uso do Solo, vai na mesma linha. Isso nos preocupou muito porque achamos que um plano diretor é a espinha dorsal da cidade, e a Louos regulamenta o que está no plano diretor, e esse plano vai tornar nossa cidade mais humana? Na minha visão, não. Vai servir apenas para os interesses imobiliários, o que infelizmente tem ocorrido. O governo se utiliza da maioria que tem na Câmara e aprova o que bem quer aprovar. Por isso nossos posicionamentos contrários. Temos vários projetos na Casa que estão parados nas comissões porque não existe o debate.
Tribuna da Bahia - Como avalia o seu mandato e o que pode ser colocado em destaque para a população?
Vânia Galvão - O nosso mandato tem se caracterizado por uma relação boa e positiva com os movimentos sociais. Todos os nossos projetos vão nessa direção, procurando contemplar segmentos da nossa sociedade que foram excluídos, seja na questão da mulher, que até esse momento você não vê sinalização nenhuma da prefeitura, que é o empreendedorismo das mulheres negras. Somos uma população constituída majoritariamente de mulheres negras, que são as principais vítimas desse desemprego. Temos projetos voltados para idosos, pessoas com deficiência, que infelizmente não vejo sendo considerado aqui na Câmara como prioridade, porque vai ferir interesses de outros segmentos. Apresentamos o projeto ‘Quarto Degrau’, que seria implantado nos ônibus e cria um dispositivo para que na hora que o ônibus chegasse no ponto parasse para o idoso subir, infelizmente isso não foi considerado. Várias outras capitais têm esse sistema implantado. Apresentamos, junto com o vereador Gilmar Santiago, um projeto que garante a gratuidade do transporte para o desempregado após o término do seguro desemprego, também não foi considerado. Nós temos uma atuação constante, além do trabalho legislativo, estabelecemos uma relação boa com os movimentos sociais, procurando mediar ações por parte do poder público municipal.
Tribuna da Bahia - Como avalia o governo ACM Neto? Qual o principal erro e o principal acerto?
Vânia Galvão - Inegavelmente, ele tem procurado realizar algumas ações, mas priorizando a chamada orla atlântica da cidade. Tem feito obras em bairros carentes, mas a qualidade não é a mesma das entregadas nos bairros considerados mais nobres de Salvador. O grande problema é a falta de investimento na área social. Na saúde, na educação. Nosso problema de creche é imenso. Não basta inaugurar uma creche bonita em Vista Alegre, é importante? É, mas não é só isso. E na área da saúde, basta ver as reportagens. Temos uma equipe de saúde da família bastante reduzida, a população se dirige aos postos e não encontra o profissional, não encontra o medicamento, não consegue fazer o exame. Essa é uma situação bastante crítica do ponto de vista com relação às políticas sociais de forma geral. Avalio a gestão de ACM Neto como muito ruim, não contempla a população. Tem ainda a mobilidade urbana. O governo do estado que tem feito as grandes obras de mobilidade em Salvador. Seja abrindo avenidas, viadutos e agora com o metrô. Depois de 12 anos, o metrô de fato entrou nos trilhos.
Tribuna da Bahia - Quais as maiores carências da cidade e o que deve ser colocado como prioridade pelo próximo prefeito?
Vânia Galvão - A área social. Temos que pensar mais nas pessoas, nos problemas enfrentados pela maioria expressiva da cidade de Salvador, que reside nas áreas mais carentes, que precisa do olhar mais diferenciado por parte do poder público. Seja na saúde, na educação, política de creches, qualificação profissional, inserção no mercado de trabalho. Acho que esse olhar tem que existir por parte do futuro gestor de Salvador.
Tribuna da Bahia - Com as mudanças na legislação eleitoral, como será a campanha deste ano a vereador, sobretudo no quesito arrecadação?
Vânia Galvão - Um momento difícil, mas para que nunca teve nada, como é o meu caso… Nossas campanhas sempre foram muito espartanas, sempre procuramos fazer o debate político, é essencial, e o debate político é muito rico para isso, a população fica mais atenta. Por outro lado, acredito que vai acontecer muito caixa dois. Vai ser necessário que os órgãos de fiscalização estejam atentos, não existe mais financiamento privado. Acho que vai ser mais difícil. Agora, para aqueles candidatos que nunca tiveram grandes recursos para suas campanhas, facilita muito mais. A hora é de bater na porta de cada um, pedir o voto, mostrar para que veio, estabelecer o debate com as comunidades. Tem que se repensar o modelo político como um todo. É preciso uma reforma ampla no nosso país.
Tribuna da Bahia - Acredita que o cenário nacional e a crise política que o Brasil atravessa vão impactar nas eleições aqui na Bahia?
Vânia Galvão - Acho que o cenário nacional pode impactar, se nacionalizarmos o debate. Vejo muito o cidadão vivendo com as suas dificuldades, quer mesmo saber quais são as propostas que vão contribuir para a sua qualidade de vida. Lógico que o cenário nacional vai influenciar nesse processo. Tem que trazer o debate, mostrar exatamente o que aconteceu no nosso país. Quais foram as políticas sociais que estavam em curso e que estão sendo cortadas por um governo que usurpou o poder, um governo golpista, que não foi votado. Os problemas estão aí. O que se anuncia, se vislumbra, são grandes dificuldades que teremos pela frente.