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"A campanha este ano será extremamente difícil", diz Moisés Rocha

Confira a íntegra da entrevista

Pré-candidato à reeleição, o vereador Moisés Rocha, do PT, avalia que a campanha deste ano “será extremamente difícil” por causa das novas regras da legislação eleitoral, e, apesar da proibição de doação de empresários, ele pondera que “o poder econômico ainda será predominante” na disputa. O parlamentar diz que não haverá fiscalização eficaz contra o chamado caixa 2 nas campanhas.

Sobre o governo municipal, ele avalia que o prefeito ACM Neto “ainda deixa muito a desejar”, sobretudo nos quesitos educação para crianças, saúde e geração de empregos, itens que ele julga ser prioritários para o próximo gestor. O vereador do PT avalia ainda a atual legislatura da Câmara Municipal como “extremamente produtiva”, e parabeniza o presidente do parlamento, Paulo Câmara (PSDB), pela condução dos trabalhos na Casa. Abaixo, a íntegra da entrevista.

Tribuna - Como o senhor avalia a atual legislatura da Câmara de Salvador?
Moisés Rocha -
 É uma gestão extremamente produtiva, muito bem conduzida, independentemente de possíveis divergências de cunho político-ideológico, pelo presidente Paulo Câmara (PSDB). Ele fez com que a Câmara de Salvador tivesse uma legislatura com as sessões acontecendo com uma frequência acima da média dos últimos anos com projetos tanto do Executivo quanto dos vereadores sendo votados, e temos expectativa de votar ainda mais projetos de vereadores. A atual gestão conseguiu dar essa produtividade e espaço para um debate amplo, com projetos de grande interesse da cidade aprovados e também com debates importantes acontecendo. Mesmo a gente achando que ainda precisa haver mais debates, precisamos reconhecer que na atual legislatura houve discussões extremamente qualificadas. Tivemos uma mesa diretora extremamente atuante. Essa legislatura foi uma das melhores dos últimos tempos na Câmara de Vereadores de Salvador.
 
Tribuna - Falando do seu mandato, o que o senhor destaca de benefício para a população?
Moisés - 
Nosso mandato é extremamente popular e participativo. Além de o gabinete estar sempre com as portas abertas para todo e qualquer cidadão levar suas demandas, também temos uma ação constante nas ruas dos bairros onde a gente tem maior inserção, encaminhando as demandas da sociedade, visitando constantemente, caminhando lado a lado com essa parcela da população que nos escolheu para lhe representar. Conseguimos, por exemplo, aprovar o projeto de indicação que foi acatado pelo governo da instalação de câmeras de monitoramento nas viaturas das polícias Civil e Militar. Já são mais de 200 viaturas com essas câmeras instaladas para proteger tanto o cidadão de possíveis ações ilegais da polícia quanto o próprio policial de acusações de possíveis excessos nas ações. Outro projeto de nossa iniciativa é o que possibilitou descontos no IPTU para os clubes sociais da cidade em até 70%. Os clubes de Salvador estavam todos inadimplentes com a prefeitura, e a partir daí, mediante convênio com o governo municipal, os estudantes de escolas públicas passaram a poder usar esses clubes para praticar esportes. Também beneficiamos o segmento cultural da cidade, por meio da Comissão Especial do Carnaval e das Festas Populares. Conseguimos fazer com que Pelourinho e Rio Vermelho fossem considerados zonas de exclusão para que pudéssemos ter nossa cultura crescendo, e os músicos tendo espaço. Podemos dizer que no nosso mandato conseguimos fazer com que no currículo escolar fosse incluída a orientação sobre as drogas, sobre os malefícios que as drogas fazem. E também encaminhamos questões mais corriqueiras, como demandas de iluminação, recapeamento asfáltico, poda de árvores etc. Por isso, tenho certeza de que foi muito produtivo nosso trabalho durante o período legislativo atual.
 
Tribuna - Qual a avaliação do governo ACM Neto? Qual o principal erro e o principal acerto?
Moisés - 
O principal acerto de ACM Neto foi pegar uma cidade que estava extremamente descuidada... porque a segunda gestão do prefeito João Henrique, talvez por conta de uma parceria ruim com a família Vieira Lima... não foi um mandato de muita qualidade. A cidade sofreu muito com essa ausência de qualidade da segunda gestão João Henrique. O prefeito ACM Neto fez com que a cidade passasse a ter essa aparência de que tem gestão com mais eficiência. Ou seja, um pouco de maquiagem: asfalto, iluminação e praças públicas. Isso foi algo que foi feito com muita frequência e fez a cidade tão carente achar que era muito. O ponto fraco é um ponto que já vem de muito tempo, que é exatamente o investimento no social, na geração de emprego. A cidade sofre bastante, chega a ser campeã nacional do desemprego. E agora sofre mis ainda com essa situação. Acredito que na hora de fazer alguns mercados, cito o exemplo do Rio Vermelho; de Cajazeiras, com a retirada da feira; da Estação da Lapa. A prefeitura devia ter um olhar mais apurado e mais carinhoso com os trabalhadores desses locais, dando condições para que eles pudessem, no caso de Cajazeiras, que não coube todo mundo no mercado; no caso do Mercado do Rio Vermelho, a quantidade de boxes ficou menor do que a que existiu; e no caso da Estação da Lapa, os ambulantes ficaram extremamente prejudicados, e nesse quesito eu acho que precisava de um olhar mais social com a cidade que é campeã do desemprego.
 
Tribuna - Quais as maiores carências de Salvador hoje? O que deve ser colocado como prioridade pelo próximo prefeito?
Moisés -
 Não tenho nenhuma dúvida de que temos um problema sério no que diz respeito às vagas nas creches. Salvador é também uma cidade que tem um dos piores índices de crianças nas creches. Além da questão, tem a saúde. Salvador é uma das poucas capitais que não têm um hospital público municipal. Isso precisa ser olhado com carinho. A questão da saúde em Salvador é muito crítica, até porque a capital acaba recebendo pacientes que vêm de outras cidades. É preciso ter um olhar muito apurado na questão da saúde. E, sem dúvida nenhuma, a questão do desemprego. Porque essa é uma questão que afeta as famílias e contribui para a violência. Portanto, tem que ter um olhar mais cuidadoso. Salvador é uma cidade que vive basicamente do setor de serviços e de turismo, que poderia ser um grande ganho de capital para essa cidade, mas, infelizmente, também não tem os investimentos necessários. Podíamos atrair mais visitantes do nosso país e de todo o mundo para essa cidade que é tão rica em belezas naturais. Precisamos olhar com respeito para a questão das nossas crianças, para o desemprego e para a saúde.
 
Tribuna - Com as mudanças da legislação eleitoral, como será a campanha deste ano, sobretudo no quesito arrecadação?
Moisés -
 As doações empresariais contaminaram o processo eleitoral. Acredito que nenhum empresário faça doação para campanha por causa da simpatia ou do perfil ideológico do candidato. Ele corretamente tem uma visão corporativa, e quando ele faz a doação, evidentemente ele quer que aquele parlamentar eleito possa estar também contribuindo mais adiante com as demandas do segmento que ele representa. Acho acertado, mas não acredito que haja uma fiscalização eficiente para coibir esse tipo de doação, até porque está comprovado que a maioria das doações empresariais não era declarada. Não acredito ainda na eficácia dessa fiscalização. Mas tenho certeza de que vai ser uma eleição que em primeiro lugar vai proporcionar muito o corpo a corpo, a simpatia, o respeito que o candidato tenha. Mas também por não acreditar muito que a fiscalização seja eficiente, não acredito que as campanhas irão baratear como estão dizendo. As medidas que foram tomadas ao longo dos últimos anos para tentar baratear as campanhas não deram resultado. Pelo contrário. As campanhas continuaram ficando mais caras. Acredito que o poder econômico ainda será o fator predominante nas eleições que se avizinham. Nós vamos continuar acreditando muito no corpo a corpo e no resultado do dia a dia de trabalho que a gente executa todos os anos, todos os meses e todos os dias do mandato que nós tivemos. Tenho plena convicção de que será uma eleição extremamente difícil, até pelo próprio descrédito de boa parte do eleitorado com a classe política.