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"ACM Neto é o maior prefeito do século", afirma Carballal

Confira entrevista à Tribuna da Bahia

Vice-líder do governo na Câmara Municipal, o vereador Henrique Carballal (PV) é o terceiro entrevistado pela Tribuna na série especial com os 43 integrantes do Legislativo soteropolitano. Ex-filiado do PT, ele avalia a atuação dos vereadores nos últimos anos, critica o governo Rui Costa e elogia o trabalho do prefeito ACM Neto (DEM), que, em sua opinião, é insuperável. 

Tribuna - Como avalia a atuação da Câmara na atual legislatura?
Henrique Carballal -
Essa foi uma legislatura vitoriosa. Afinal de contas, a Câmara Municipal de Salvador conseguiu cumprir o seu papel no que tange à fiscalização das ações do Executivo, na elaboração de projetos de lei que de fato impactaram na vida da população e, principalmente, na questão da representação social. A Câmara conseguiu representar muito bem a população de Salvador, e um exemplo disso é que todos os grandes temas da cidade passaram pela Câmara. E o sucesso da gestão do prefeito ACM Neto, além da sua competência e da sua capacidade de liderança que ele exerceu no Executivo, foi também fruto das opções que o Legislativo conseguiu dar a ele.

Tribuna - Como avalia o seu próprio mandato? 
Henrique Carballal -
A Lei da Ficha Limpa, aprovado pela Câmara de Salvador, foi fruto de um projeto de minha autoria, que foi apresentado antes mesmo de a Lei da Ficha Limpa ter sido aprovada no Congresso Nacional. Uma lei que estende a compreensão de que não apenas políticos que se candidatam a cargos públicos e têm ficha suja não possam concorrer, mas também quem tem ficha suja não pode ocupar cargo público nem gerir recursos. Acho que essa é uma grande contribuição que conseguimos dar. Além disso, apresentamos, principalmente no campo ambiental, um projeto que obriga as novas construções a ter políticas de sustentabilidade tanto na questão da água quanto na da energia. Isso sem dúvida vai dar saltos qualitativos na construção de uma cidade com uma melhor urbanização. Então, entendo que o nosso mandato, principalmente hoje, é linkado ao Partido Verde, que é um partido mundial, com uma pauta de defesa da sustentabilidade, da construção de desenvolvimento que respeita o meio ambiente e que garanta a cidadania a partir de uma lógica que é justamente o respeito a todos os segmentos que compõem sociedade. Sem dúvida, o grande link político que fiz foi a migração para o PV.

Tribuna - Como avalia a gestão do prefeito ACM Neto?
Henrique Carballal -
ACM Neto é o maior prefeito do século XX. Apesar de ele não ter sido vitorioso no século XX, ele construiu toda a sua política nesse período. Dificilmente um prefeito vai conseguir em tão pouco tempo transformar uma cidade que estava arrasada. Salvador parecia a cidade de Hiroshima, parecia que uma bomba atômica havia devastado. Pois o prefeito conseguiu reconstruir Salvador, reconstruir a autoestima do povo, trazendo o sentimento de que a política ainda é a grande condutora das transformações e que é preciso que ela esteja comprometida para fazer com que isso venha de fato acontecer. Então, a gestão do prefeito ACM Neto mudou os rumos de Salvador, que estava em uma encruzilhada, ou se mantinha em decadência de administração pública que levaria a praticamente, dentro de alguns anos, a você não ter como coexistir pacificamente dentro da nossa cidade. Ele mudou para um rumo que ainda nos dá esperanças, apesar de todos os problemas com os quais a cidade ainda convive, que são fatores históricos e são fatores de um governo do Estado que pouco investe para que Salvador possa dar o pulo necessário para conseguir o seu pleno desenvolvimento.

Tribuna - Quais as principais carências de Salvador hoje e o que deve ser colocado como prioridade pelo próximo prefeito?
Henrique Carballal -
Primeiro, o grande problema de Salvador é a sua capacidade de gerar emprego. Mesmo quando o Brasil vivenciou momentos de euforia econômica, acompanhando o desenvolvimento econômico mundial, a cidade sempre teve um nível de emprego abaixo do país inteiro. E quando a crise econômica se abate sobre a nação, Salvador é quem primeiro reflete isso. Temos uma cidade sem grandes indústrias, pouca capacidade de atrair investimentos por conta das suas características naturais, mas, por outro lado, temos uma cidade com um grande potencial que é o seu povo. Então, se eu entendo que temos um grave problema na área de emprego, a saída para isso é o seu próprio povo. O segundo problema de Salvador que eu sinalizo é a questão da saúde. A prefeitura pensou muito agora na questão da atenção básica. Mas a alta complexidade, que são as cirurgias, é uma tragédia. É preciso mais compromisso do governo do Estado para com as políticas de saúde que estão sob responsabilidade desse mesmo governo. A atenção básica avançou muito, o prefeito aumentou os PSFs, colocou os postos de saúde para funcionar, dando eficiência, aumentando as equipes, mas há um grande problema na questão da regulação que o governo do Estado criou. É uma regulação fictícia, é uma verdadeira falácia. Os hospitais estaduais atendem apenas as vítimas da violência urbana, que é outro grave problema da cidade. O tráfico de drogas tomou conta, e o governo do Estado assiste passivamente a isso. Não existe uma política real de enfrentamento dessa situação. A polícia enfrenta a criminalidade com as armas que tem, com a pouca capacidade estratégica, por falta de uma política mais eficiente nessa área, mas tem problemas no Judiciário, no Ministério Público, que não conseguem dar vazão ao enfrentamento disso. Então a sociedade toda precisa se mobilizar. O crime tomou conta de Salvador. As pessoas que vivem em seus condomínios só percebem isso quando acontece um ato criminoso diretamente vinculado a elas, quando tem assalto em um restaurante ou na frente de um shopping center. Mas na periferia as pessoas já se acostumaram a ver cadáveres.

Tribuna - Causa algum tipo de mal-estar o fato de ter siso aliado do governo do PT e hoje ser um dos seus principais críticos?
Henrique Carballal -
Primeiro, eu nunca fui aliado deste governo que está aí. Fui militante do Partido dos Trabalhadores, nunca tive vergonha disso. Estive ao lado do governador Jaques Wagner, que foi um grande governador. É um grande homem público. Agora, esse governo que aí está nunca contou com o meu apoio. Todo mundo sabe, recebi críticas por isso, é que, como eu não confiava nesse governo, nunca fiz campanha para ele, mesmo quando ainda era filiado ao PT. Então essa é uma crítica que não tenho nem como absorver porque nunca apoiei o governo que aí está.

Tribuna - Com as mudanças na legislação eleitoral, como será a campanha deste ano a vereador, sobretudo no quesito arrecadação?
Henrique Carballal -
A Justiça Eleitoral errou ao proibir a doação a campanhas eleitorais por empresas. Acho que é uma hipocrisia apontar que o problema da criminalidade na política está associada ao financiamento privado de campanha. Nos Estados Unidos isso é legal; inclusive, mesmo depois da eleição, parlamentares continuam aceitando doação para que eles utilizem esse recurso para ações além das oficiais. Atividades que fazem parte do mundo político e que não são financiadas pelo recurso público, e que são financiadas pela iniciativa privada. No início, diziam que as campanhas eram muito caras por causa dos ‘showmícios’; aí, tira ‘showmício’. Depois, disseram o mesmo do outdoor. E no fundo as campanhas vão continuar muito caras. Teve um diretor da Petrobras que só em um acordo de delação premiada devolveu US$96 milhões, e ele nunca concorreu a um cargo público. Esse dinheiro não foi desviado para financiar campanha eleitoral. Então, o problema da corrupção não está necessariamente associado a uma disputa eleitoral. Vai ser muito difícil esse ano fazer uma campanha limpa, e eu estou fazendo todo o esforço, como sempre fiz e farei para uma campanha limpa. Mas a legislação foi criada de forma demagógica, para dar uma resposta à população por conta dos problemas da Operação Lava  Jato, e que não resolve nem o problema da corrupção, nem a garantia de uma eleição limpa.