Eles vêm de todas as partes e do jeito que dá. Seja a pé, ao lado de parentes e vizinhos, ou de carro, eles vêm munidos com baldes, garrafas, galões e até tonéis para estocar o líquido cada vez mais precioso. O objetivo deles é um só: levar para casa, a água que não chega às torneiras e chuveiros desde o rompimento de uma adutora de água tratada da Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa) danificada pelas obras no metrô de Salvador, na última quarta-feira, dia 1º.
Próximo ao Largo do Retiro, na capital baiana, moradores de diferentes bairros chegavam aos montes no desejo de encontrar água para manter as necessidades mais básicas. “Estou sem água desde quarta da semana passada. Tomar banho, cozinhar e fazer a limpeza da casa está sendo difícil”, disse a dona de casa Jucilene Santos. “Nós ficamos sabendo que tinha água aqui através dos vizinhos, já que a que estávamos pegando em um colégio lá no bairro acabou”, contou a aposentada Celina de Jesus, que veio do bairro da Fazenda Grande.
A preocupação e o desespero de muitos era tão grande em busca do líquido precioso que muitos até saíam encharcados dos locais onde ainda havia disponibilidade. A falta de notícias quanto o restabelecimento do fornecimento também levou muitos a buscar água potável onde existisse. Alguns metros mais frente, na localidade do Arraial de Baixo, era praticamente possível ver um formigueiro humano se formando próximo a outra adutora rompida. Teve gente que até aproveitou mais este desperdício para tomar banho.
Muitos chegaram ao local em picapes. No fundo, vários tonéis de plástico prontos para estocar água. “É para garantir o nosso da semana, já que não sabemos quando vamos ter nas torneiras em casa”, falou um morador que não quis se identificar. “Nós já pagamos caro por ela e agora temos que vir aqui buscar e carregar até em casa para levar até parentes que estão necessitando”, reclamou a dona de casa Linalva da Silva.
“Essa é a quarta viagem que estamos dando apenas no dia de hoje. Tem gente que está vindo do bairro de São Caetano só para buscar água aqui no local”, comentou a garçonete Bárbara Nacassio. De acordo com os moradores, se a situação não fosse resolvida logo, eles iriam fazer uma manifestação nesta segunda-feira, fechando a BR-324, para cobrar uma solução quanto o fornecimento de água por parte da Embasa.
Outra queixa deles é com relação ao preço cobrado, por parte de comerciantes da região, pelo galão de 20 litros de água. “Tem gente que está cobrando até R$ 60. Isso é exploração”, bradou Linalva. “A procura aqui está muita, são mais de 200 galões que vendemos por dia. Muitos vêm de longe comprar aqui por que no seu bairro ou não encontram mais ou acha o preço salgado”, contou Antônio Santos, funcionário de um posto que fica na Sete Portas, onde o galão é vendido a R$ 8.
Unidades de saúde
Além dos moradores que vivem na periferia de Salvador sofrerem com a falta de água, o desabastecimento também já chegou a Unidades de Pronto Atendimento (UPA) da cidade. No 16º Centro de Saúde, no Pau Miúdo, o atendimento foi suspenso. Já no posto da Avenida San Martin, um grupo de moradores tentou invadir o local para retirar água das torneiras, mas logo foram contidos pela Polícia Militar. A unidade do bairro de Itapuã também teve o atendimento comprometido na última sexta-feira. Segundo a assessoria da Secretaria Municipal de Saúde, a quantidade de água fornecida pelos carros pipa foi insuficiente para a demanda das unidades.
Prazo para fim das obras está previsto para hoje
No local para vistoriar o andamento das obras na manhã de ontem, o presidente da Embasa, Rogério Cedraz, explicou o motivo de as intervenções não terem ficado prontas. “A gente definiu duas frentes de serviço aqui. Uma era a recuperação da adutora. Mas, no último sábado, a gente teve um acidente aqui com um carregamento de um talude e passamos a ter uma situação de risco muito grande. Tínhamos quase 14 metros de desnível e esse trabalho, que era o mais rápido e mais ágil acabou ficando inviabilizado de ser executado”, comentou.
Segundo Cedraz, paralela a esta adutora, desde o inicio do serviço, técnicos e operários vem construindo uma nova, de cerca de 500 metros de extensão e 1,5 metro de diâmetro, além de reforçar a estrutura. No local estão cinco frentes trabalhando para restabelecer o abastecimento de água no prazo mais curto possível. “A expectativa nossa é que o prazo de conclusão das obras se estenda até meados desta segunda-feira. Mas, estamos trabalhando para minimizar este prazo o máximo possível. A principio, teríamos até amanhã como prazo para conclusão deste serviço”, explicou.
Caso as obras sejam concluídas ainda nesta segunda, a expectativa do presidente da Embasa é de que o sistema já comece a normalizar gradativamente. “Depois disso, a gente sabe que tem aquele tempo gradativo de recuperação. Com relação às zonas mais baixas e de mais fácil atendimento, elas amanhã mesmo já serão abastecidas. Quanto ao restante, acredito que até a próxima quarta-feira deverá ser regularizado”, garantiu.
Em nota, a Embasa informou que além de ter reforçado a produção de água da estação de tratamento da Bolandeira, no dia de ontem foi ampliada a frota de carros-pipa de forma emergencial, dando prioridade para hospitais e postos de saúde. Até o restabelecimento do serviço, a empresa orientou a população a economizar água. Além dos bairros periféricos, outros nobres, como a Barra, já sofrem com o desabastecimento.
Com a interrupção da adutora, o sistema teve uma redução na vazão de água tratada distribuída e está afetando o fornecimento de água em cerca de 60% da cidade. Ela é uma das principais tubulações que alimentam o sistema da capital, aduzindo água da Estação de Tratamento Principal, em Candeias até o Centro de Reservação do Cabula, o maior do município.