Pode ter sido 250 mil ou 1 milhão de pessoas o número dos que estavam na Avenida Paulista, em São Paulo, no domingo (15/3), para protestar contra a gestão Dilma Rousseff e dar um basta à corrupção que permeia amplos setores da sociedade.
O fato é que - sem ajuda financeira ou de transporte - lá estavam pelo menos 3 vezes mais do que dois dias antes, quando centrais sindicais financiaram uma manifestação em favor do governo.
O movimento, que se repetiu nas principais cidades do País, exigia ser ouvido, mas os dois ministros escalados para falar após os protestos mostraram que o governo está surdo.
A mensagem que passaram foi a de que embora Dilma Rousseff tenha sido eleita para ser presidente de todos, vai governar voltada apenas para quem lhe deu votos; que vai continuar no mesmo rumo, fazendo as mesmas coisas, com o mesmo discurso amplamente rejeitado.
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, e o da Secretaria-Geral da Presidência da República, Miguel Rossetto, protagonizaram um desastre de comunicação na entrevista coletiva que concederam após as manifestações, foram quase arrogantes.
Democracia pressupõe a convivência de contrários, aceitar posições divergentes, falar mas igualmente ouvir. No Brasil, hoje, o governo parece surdo e a oposição não dá mostras de que tem o que dizer.
Os políticos estão acuados por uma investigação que ameaça expor as vísceras do parlamento – e elas cheiram mal; a economia roda perigosamente em direção ao muro.
Continuamos flertando com o precipício, abrindo espaço para o radicalismo inaceitável.