Entrevistas

"Oposição está preparada para comparações", diz Geddel Vieira Lima

Tribuna da Bahia – Como o senhor avalia esse cenário atual e início de campanha?
Geddel Vieira Lima – Com muita humildade, mas acho que as andanças que temos feito no estado comprovam o que as pesquisas demonstram que estamos numa situação muito confortável em relação aos nossos adversários. Isso tudo porque é nítida uma fadiga no modo petista de governar, as pessoas manifestam que querem alternância, que querem sangue novo, novas ideias, que é preciso trazer novas pessoas e motivação e a minha sensação é que estamos caminhando com muita firmeza para conquistar uma grande vitória em outubro.

Tribuna Qual o grande desafio da oposição nesta campanha?
Geddel - Acho que o grande desafio é você concorrer contra a máquina pública que está sendo usada despudoradamente a chantagear prefeitos, forçando-os a gravar depoimentos sob a pena de não receberem convênios que não receberão mesmo, é a atuação deletéria da funcionária Ana Pelegrini, que telefona, pressionando prefeitos, utilizando todos os artifícios da máquina pública. Mas, eu uso e modifico um ditado popular que diz: fogo morro acima, água morro abaixo. O povo quando quer é difícil você conter. A sensação que eu tenho é que o povo quer alternância de poder, quer dar uma nova chance a Paulo Souto, um administrador inquestionavelmente sério, competente, que traz tranquilidade no ponto de vista da gestão pública e lhe devolver a oportunidade de fazer um bom trabalho na Bahia, que lhe foi tirado em 2006, não por Wagner, mas pela onda comandada pelo então candidato Luís Inácio Lula da Silva.

Tribuna- O que vai ser mais difícil para o governador Jaques Wagner? Será reverter o desconhecimento de Rui Costa junto ao eleitorado ou mostrar que o PT é capaz de continuar avançando na prestação dos serviços públicos?
Geddel – Eu acho que na medida em que ele faça o candidato dele ser mais conhecido, vai ficando mais difícil porque as pessoas vão ver que essa história de querer eleger poste não está dando certo. Todo o respeito pessoal pelo candidato, mas o reconhecimento é de que há experiência nenhuma. É um continuísmo terceirizado e um projeto que não está dando conta de resolver problemas na área de segurança, de saúde, da educação, que sucateou a EBDA, que mente desavergonhadamente na propaganda e que agora na reta final tenta maquiar alguma coisa para tentar mostrar, através da propaganda mostrar a sociedade o que fez, o que efetivamente não fez.

Tribuna - A unidade da oposição torna a chapa favorita nessa disputa?
Geddel – Olha, eu não gosto de dizer que é favorita porque no dia seguinte quando vocês forem fazer o contraponto com os adversários, eles vão dizer que estão arrogantes, prepotentes, mas torna a chapa extremamente competitiva e que caiu no gosto popular.

TribunaQual deverá ser o principal discurso de Paulo Souto nesta campanha?
Geddel – Primeiro é acabar com essa história de que criticar não é politicamente correto. Nós somos oposição a este governo e temos que mostrar que esse governo faliu em determinados setores. Por exemplo, a área de segurança. Querer comparar números nessa área, o nosso grupo está disposto a comparar. Quando Paulo Souto saiu do governo – eu fui debruçar sobre isso, - havia algo em torno de 23 mortes por cem mil habitantes, hoje existe em torno de 44. A Bahia hoje está entre os cincos estados mais violentos do Brasil. Saiu o Mapa da Violência e das dez cidades mais violentas do Brasil, cinco estão no nosso estado. Isso não pode continuar. Vou dar um exemplo que não se preocupa sequer com simbolismos. Simões Filho está entre as três cidades mais violentas do país há vários anos consecutivos. Simões Filho é governada pelo irmão do vice-governador, secretário de Infraestrutura até bem pouco tempo e candidato ao Senado. Ora, se essa gente não tem capacidade e competência de resolver o problema numa cidade metropolitana, governada pelo irmão do vice-governador, se por razões humanitárias e capacidade não fossem, por razões emblemáticas, por razões de simbolismo, imagine o que eles podem oferecer à Bahia? O desafio é mostrar que a propaganda é mentirosa, e quando eu digo que é, eu tenho que mostrar por que. Eu desafio aqui nas páginas da Tribuna que o governo diga quais foram os cinco hospitais que construíram conforme diz a propaganda. Quando eu me refiro a construir, eu digo construir, começar e terminar, não concluir, o que é meritório, mas não está sendo dito na propaganda. Eu quero que o governo diga aqui nas páginas da Tribuna, qual foi a barragem no estado, que tem dois terços do seu território no semiárido, que ele construiu nesses sete anos e meio de governo? Quando eu digo construir, é começar e terminar. Nenhuma. Nós temos que mostrar essas questões. Abordar a segurança pública o fato de você ter tido em sete anos de governo 37 mil assassinatos. É uma cidade onde 37 mil pessoas morreram. É você falar dos ferry-boats fantasmas que devem esta chegando sendo empurrado a nado por alguém lá da Grécia porque não chegam nunca, apesar das promessas. Enfim, acho que esse é o desafio primeiro, e depois é mostrar, o que já estamos fazendo, que é  o que fazer para corrigir essas questões.

Tribuna O senhor teme algum tipo de comparação nos números?
Geddel - Acabei de lhe dizer que não. Até porque eu peguei alguns dados que eu queria colocar, que solidificam a ideia da propaganda enganosa.    Se você pegar o tal do programa participativo que foi registrado no Tribunal, tem um trecho que diz mais ou menos assim: – As condições de moradia melhoraram substancialmente na gestão do governador Jaques Wagner; o percentual de domicílios com energia elétrica saltou de 93% para 99%; os domicílios cobertos pela rede geral de abastecimento de água aumentaram de 77% para 83%; entre 2006 e 2012, a proporção de domicílios com esgotamento sanitário adequado ampliou de 52% para 63%. Ora, 6%, portanto, teria sido acréscimo de percentual de domicílios com acesso a abastecimento de água em rede geral entre 2006 e 2012. Se você considerara que a Bahia tem 14 milhões de habitantes, esses números dizem que supostamente 200 mil domicílios ou algo em torno de 800 mil baianos tiveram acesso a água durante o atual governo. Esse número é muito diferente, desmente categoricamente as propagandas que vocês que me leem já viram e você que me entrevista conhece de que 6 milhões de baianos tiveram acesso a água por causa do trabalho do governo. O mais grave para eles é que isso inferior ao crescimento de 2001 a 2006 que teve acréscimo de 1,1 milhão com moradores com acesso a rede geral, segundo o PNAD, IBGE, e 1,3 milhão segundo dados do Ministério das Cidades. São vários dados que a gente pode comparar com absoluta tranquilidade. Podemos comparar na segurança pública, por exemplo, a explosão de caixa eletrônico virou brincadeira. Se você abrir agora aqui qualquer site vamos ver notícia de explosão de caixa eletrônico ou de um banco. Isso não pode continuar. Não temos receio de nada. Vamos sim comparar e lembrar que é a primeira vez na Bahia que um governante fica oito anos consecutivos no governo. Paulo Souto não ficou. Foram três anos e fração e depois mais quatro. Isso é até para começarmos a ser honestos na comparação e, evidentemente, é preciso auditar esses números que, como eu mostrei aqui, não é só contabilidade criativa em nível nacional não. Tem manipulação de números aqui na Bahia.

Tribuna - Como o senhor avalia o fato de o governo ter partido para o ataque contra a oposição?
Geddel – Eles partiram para o ataque? Não senti. Se partiram para o ataque foi com muita fragilidade. Eles não têm discurso, não têm argumentos. Não tem propaganda e ataque que contrarie o sentimento popular. As pessoas, apesar da propaganda, sabem que hospital público na Bahia virou local de filas intermináveis, sabe que tem a tal de uma regulação mal gerenciada e mal administrada que virou uma moeda que você joga pra cima pra, na sorte ou na falta dela, discutir quem vai viver e quem vai morrer. Está faltando se entregar remédio de uso continuado, se atrasa pagamento de terceirizados. Uma passarela demorou dois anos para ser realizada. Um ferry boat que era pra chegar durante o verão segundo o meu oponente, não se tem data para chegar. Parece a piada do foguete brasileiro que jogaram pra cima e que vai cair qualquer dia e em qualquer lugar. Ninguém sabe. É um governo sem controle do ponto de vista gerencial. Quebraram a Bahia. Isso é um fato e eu não vi nenhuma crítica, nem ataque que mereça ser respondido com rigor.

Tribuna – A troca de partidos, sobretudo do barco governista, e a chapa da oposição com 19 siglas dão mais fôlego ao grupo oposicionista na Bahia?
Geddel – Eu acho que do ponto de vista político sim. O que está dando fôlego efetivamente para nós é o sentimento da população. Eu vivi 2010. Eu já ganhei e já perdi eleições. Eu vivi 2006. Eu conheço quando a eleição tem cheiro de vitória. Você não compara eleições. Você compara sentimentos e o que eu sinto da rua é que a população não quer mais essa gente que está aí. Chega de PT. Já tiveram a sua oportunidade. Passem um tempo na oposição, se reciclem e quem sabe no futuro, já que a democracia dá direito à alternância, terão nova oportunidade? Não vai ser desta vez. 

Tribuna – A segurança pública e a demora para a entrega de obras serão os principais calcanhares de Aquiles do governo?
Geddel – Se eles tivessem apenas dois seria até mais fácil, mas eles têm vários. A cultura está completamente abandonada, a agricultura também. Arrebentaram com a EBDA, acabaram com a assistência técnica            e a extensão rural no estado. Os produtores, aqueles que têm responsabilidade de levar a adiante a nobre tarefa de produzir alimentos para todos, vivem sobressaltados. Veja o que acontece em Buerarema, onde produtores, donos de pequenas propriedades, uma cadeia centenária ver o governo inerte, assistir à invasão de suas terras, a violência. Assim tem sido em todo o lugar.  As promessas não saem do papel. Eu vou lhe mostrar aqui que eu, passando em Maracás, fiquei tão curioso que me dei ao trabalho de parar pra tirar uma foto, e olha quem está ali? O trenzinho da Ferrovia Oeste Leste está lá em verde e amarelo. Não tem nem ferrovia e eles induzem a acreditar que ela está nos trilhos. E o Porto Sul? Há quanto tempo você ouviu prometer isso? Imagine que situação inusitada. Vamos admitir que eles tivessem conquistado fazer uma obra no prazo, sendo a Oeste Leste? Aí iria lá, pegava os grãos do Oeste, passava em Caetité, pegava o ferro e quando chegasse em Ilhéus o maquinista iria perguntar: - E agora, o que eu vou fazer? Disseram que tinha porto e não tem porto. E o Polo de Informática de Ilhéus? E o Polo Calçadista? E a JAC Motors que era para estar inaugurada este ano? Antes que amanhã venha a violência dessa gente que não gosta de ser criticada, eu estou falando de fatos, realidade indesmentível  e que só pode ser contestada por fatos. 

Tribuna - A disputa ao Senado promete ser uma das mais intensas. O que diferencia o candidato Geddel Vieira Lima dos demais? 
Geddel - Primeiro eu acho que a disputa do Senado será do tamanho da disputa do governo. Historicamente, elas caminham muito juntas. Tenho respeito a todos os candidatos, aqueles que se submetem, na democracia, ao crivo popular. Eu acho que posso neste momento representar para a Bahia um papel extremamente importante, por ter exercido o mandato durante vinte anos em Brasília, ter sido líder do meu partido por sete anos, ter sido presidente de todas as comissões daquela Casa, o fato de ter sido ministro, conhecer os caminhos de Brasília. Eu vou chegar em Brasília, no arriar das malas, trabalhando. Quero ser a voz da Bahia na defesa de seus interesses. Evidentemente estou pronto para fazer os grandes debates que a contemporaneidade exige, discutir o código penal. Nós não podemos ter mais um código da década de 40, que permita que o estuprador vá às ruas, machuque a integridade física e a alma de uma mulher, seja preso e no dia seguinte esteja solto para cometer um novo crime. Temos que discutir a questão da redução da maioridade penal, temas mais contemporâneos como a descriminalização das drogas, a questão da reforma tributária, dividindo-a em duas, a questão da pessoa que não pode mais pagar tanto imposto e a redefinição do papel da Federação. Não é possível que o prefeito eleito por uma sigla fique com essa história da governabilidade, sendo cooptado por quem tem poder. Isso avilta, esbagaça o quadro partidário e a democracia no país. Eu me sinto absolutamente preparado, pronto, sem demérito aos outros, para, vencendo essa eleição e sendo o seu representante, fazer uma confusão naquele Senado, dar vida àquele Senado. 

Tribuna - Qual a sua avaliação do mandato dos atuais senadores da Bahia?  
Geddel – Quem tem que fazer essa avaliação é o povo da Bahia. Se eleito, eu farei a minha própria atuação e evidentemente com o meu estilo e na mina ótica com mais rigor do que aqueles que lá estão, mas quem tem que fazer essa avaliação é o povo da Bahia.

Tribuna – Dentro do atual cenário, corre o risco de se despontar algum favorito ou a campanha vai ser realmente muito embolada e vai dificultar qualquer tipo de vantagem?
Geddel – Você quer que eu fale com muita modéstia, mas com muita serenidade e muita verdade como eu sempre falo? Eu acho que o favorito somos nós. A favorita é a nossa chapa, está mais no gosto popular, o que não significa nem desrespeito, nem menosprezo a quem quer que seja, e muito menos que não signifique que não devamos estar como estamos, diariamente, de mangas arregaçadas, trabalhando de manhã, de tarde, de madrugada, buscando contato com a sociedade, levando nossas posições, fazendo enfretamentos que precisam ser feitos e buscando fazer com que as ideias briguem para que a Bahia vença.

Tribuna – O que o senhor pretende fazer para reverter a rejeição que por ventura exista ao seu nome?
Geddel – Eu não conheço rejeição ao meu nome. De onde saiu esse folclore? De algum cientista político? A última pesquisa registrada e publicada mostra que eu sou o candidato com menor rejeição. Eu não comento tititi, nem ficção cientifica. 

Tribuna – Uma das estratégias do PT sinalizada até o momento é dividir em classes? 
Geddel- Eu repudio isso de uma forma absoluta. Eu acho isso de uma pequenez dividir o país, criar um conflito em um país que historicamente é pacífico e depois uma demagogia brutal o conceito de que o pobre fique cada vez mais pobre e que o rico passe a ser pobre. O conceito é que o rico continue rico e gerando emprego e que o pobre deixe de ser pobre. Não dá mais esse discurso demagógico de que eu nasci pobre e vou morrer pobrezinho. As pessoas nascem pobres e querem melhorar de vida, e o nosso desafio de quem abraçou a vida pública como vocação é criar as condições para que o Estado possa ofertar oportunidade a todos e mais oportunidade ainda àqueles que mais precisam.

Tribuna- Qual o maior desafio do próximo governador?
Geddel - Eu acho que, seja ele quem for, é organizar as finanças que estão dilaceradas. A Bahia perdeu a capacidade de investimento. Segundo é resgatar a capacidade de planejamento. A Secretaria de Planejamento foi alvo de barganha política ao longo desses anos, com vários secretários. Não se faz nada sem planejamento. Precisamos de um governante que faça menos política e mais gestão. Eu acho que eficiência e eficácia vão ser os desafios de quem assumir o próximo governo.

Tribuna – Caso eleito senador, pretende ser o novo Antonio Carlos Magalhães da Bahia?
Geddel – Não. Eu pretendo ser um Geddel cada vez mais conhecido da Bahia. Antonio Carlos é uma figura que hoje faz parte da história da Bahia. Deixa ele em paz. Ele já deu a sua contribuição. 

Colaboraram Fernanda Chagas e Lilian Machado.