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Rui Costa critica Paulo Souto e diz que está preparado para governar a Bahia

Em fase de “consagração das ideias” que serão colocadas no programa de governo, o pré-candidato a governador Rui Costa (PT) destaca seu preparo para trazer mais desenvolvimento ao estado.

Ele exalta realizações do governo Wagner e a sua ajuda para que grandes projetos saíssem do papel, a exemplo do metrô.

Rui descarta ainda a dianteira da oposição. “Paulo Souto não está avançando. Está no teto do que ele tem”, diz, enfatizando que o democrata já teve  a “oportunidade de fazer e não fez”.

Tribuna da Bahia - O PT definiu uma estratégia de mobilização para dar visibilidade ao seu nome. Como tem sido essa fase de pré-campanha na Bahia?
Rui Costa - A estratégia não é dar visibilidade, mas compartilhar com a população, com os militantes, com os filiados partidários a elaboração do programa de governo. No nosso entender, isso cria um vínculo das pessoas interessadas, mesmo aquelas que não são filiadas a partido nenhum, com o que vai ser dito ao longo da campanha. Tem a ver com o que nós queremos construir da política brasileira que é um vínculo cada vez maior com propostas, com ideias e menos com pessoas, que materializam ideias. O que nós queremos consagrar nesse período é um conjunto de ideias debatidas democraticamente com a população para materializar isso em um programa de governo que vai ser registrado na Justiça Eleitoral.

Tribuna - O senhor já começou a definir ou tem um esboço dos homens que vão ser os seus principais auxiliares nessa caminhada, incluindo comunicação, propaganda, marketing?
Rui - Já começamos a definir sim a parte de coordenação de campanha, de assessoria de comunicação, assessoria de imprensa, a parte da campanha propriamente dita e a parte jurídica. Tudo isso já está definido e são coisas que temos que preparar antes para no dia 5 já estar funcionando. Já estamos fazendo reuniões nesse sentido.

Tribuna - O senhor poderia antecipar esses nomes?
Rui - A coordenação da campanha vai ser Carlos Martins. Ela vai sair do CTB; publicidade vai ter a coordenação do Sidônio Palmeira; a imprensa vamos ter ajuda da Camila Perez, que trabalhava comigo; André Curvelo vai ajudar na assessoria de relacionamento com a imprensa; e na assessoria jurídica temos um conjunto de advogados que já prestavam serviço para o PT e outros que estamos incorporando. Hoje me reúno com eles para negociar o contrato final. De hoje para amanhã eu devo assinar o contrato, na verdade um pré-contrato, já que não tem campanha ainda. A partir do dia 5, já com conta aberta e registro feito, fazer o contrato definitivo.

Tribuna- O senhor que está viajando constantemente pelo interior, o eleitor já demonstra interesse pela campanha ou a coisa está morna?
Rui - Do ponto de vista do eleitor, ainda está muito morna. É um processo gradual. À medida que a eleição se aproxima, o eleitor aumenta o interesse pela eleição. Muito lentamente neste momento, assim é toda eleição, e eu entendo que a partir do dia 5, oficialmente podendo fazer campanha, pode-se despertar o interesse do eleitor pela campanha política. Em especial, como todo ano acontece, o eleitor começa a pensar em decidir o voto para valer quando começa a campanha em TV e rádio, que é dia 15 de agosto. A partir daí ele começa realmente a decidir o voto. Até lá vai sondando, mas quando a campanha se inicia no rádio e na TV, os eleitores começam a ter os elementos de definição. Sempre é assim e este ano não está sendo diferente. Ainda temos a Copa do Mundo que ajuda a adiar as atenções. As pessoas vão ficar atentas à Copa.

Tribuna - Os partidos de oposição conseguiram se unir, o que parecia praticamente impossível. Como o senhor viu essa união? 
Rui - Previsível, dada a fragilidade das oposições. O quadro atual é muito parecido com o de 2010. Até os nomes são os mesmos, a única diferença é a candidatura de Lídice. Os dois candidatos que estão reunidos na chapa foram candidatos a governador em 2010. Portanto, para o eleitor, não vejo nenhuma novidade na parte da oposição do que vai ser proposto. Tudo o que podiam dizer ou, um deles, o que podia fazer pelo Estado, ele já disse em 2010. O outro disse em 2010, 2006, 2002, 1998, 1994 e 1990. Portanto, ele já teve muitas oportunidades de dizer, pois disputou todas essas eleições, e teve oportunidade de fazer. Ele governou este Estado por oito anos e foi vice governador por mais quatro. Então, durante doze anos ele esteve como governador ou como vice. Oito como governador e quatro como vice. Portanto, ele teve oportunidade fazer, de implementar todas as suas ideias e concepções, e o povo da Bahia conhece essas ideias e concepções. Eu não vejo novidade nenhuma, do ponto de vista de composição da oposição.

Tribuna - O que diferencia, acima de tudo, os sete anos e meio do governo Wagner com os oito anos de Paulo Souto? O que o senhor estabelece como parâmetros que bem identificam ou definem cada um? 
Rui - O projeto político e a condução são muito diferentes. Você compara os oito anos de Paulo Souto e os oito de Wagner. Não só em dados e números, mas em todas as áreas são muito diferentes. E também o que foi prioridade em cada governo, a busca por mais investimentos e por recursos externos aos recursos próprios também são muito diferentes. Um governo ficou sentado na cadeira esperando as coisas acontecerem e o outro governo buscou, de várias formas, realizar os investimentos. Seja na parceria com recursos da União, seja na tomada de empréstimos junto aos diversos organismos para materializar investimentos necessários para a Bahia. Ao longo da campanha nós vamos demonstrar isso. As prioridades são diferentes. Um projeto político nacional e estadual conduzido pelo partido priorizou a inclusão social e econômica dos mais pobres. Ele buscou dar condições mínimas de vida ao povo brasileiro, ao povo baiano. Eu me refiro não só a programas sociais de transferência de renda como o Bolsa Família, mas ao programa Luz para Todos, que vai chegar em dezembro, aqui na Bahia, levando energia elétrica a quase 600 mil casas, eu posso me referir ao abastecimento de água, que quase quatro milhões de baianos passaram a ter acesso regular a água de qualidade e, portanto, o interior de nosso Estado passou a ter processo de inclusão. Nós passamos a ter projetos estruturantes que podem alavancar o desenvolvimento do Estado. Aí eu me refiro aos projetos de logística, como o Porto Sul, a ferrovia, as duplicações das estradas federais na Bahia, os aeroportos que estão em curso e os investimentos em Salvador, que nunca existiram na história da Bahia. Na história do nosso Estado não tem nenhum período de oito anos de governo que um governador tenha conseguido reunir um conjunto de investimentos da ordem de oito bilhões de reais em Salvador. O maior investimento estrutural dessa cidade foi a Avenida Paralela há 30 anos, que foi um valor muito inferior ao conjunto de intervenções que temos hoje em curso ou concluídas. Portanto, é um governo que dá um salto na infraestrutura da logística da capital e do Estado e abre a possibilidade de gerarmos empregos e fazermos com que o Estado possa crescer ainda mais.

Tribuna - As pesquisas internas começam a mostrar um avanço da candidatura de Paulo Souto. Como vê isso?
Rui - Não vejo isso não. Não tenho nenhuma pesquisa que dê avanço não. Se você me disser que algumas pesquisas de consumo interno mostram que ele pode estar sendo mais lembrado no momento, eu até concordaria. Mas ele não aparece nas pesquisas mais do que eles tiveram em 2010, quando Wagner ganhou com 64%. A oposição, portanto, ficou com 36%. Os números que eu vi são dessa ordem de grandeza, portanto, nada de novo. Ou seja, em minha opinião, ele está no teto do que ele tem. Ele não está avançando, ele está no teto do que ele tem.

Tribuna - Ele está na dianteira, mas não está avançando. 
Rui - E no teto. Então, eu não estou preocupado com pesquisas agora. Digo com absoluta sinceridade e não é retórica de candidato. Digo isso porque basta ver quem está administrando São Paulo, Belo Horizonte e Recife. Os três candidatos, nessa época do ano, estavam com percentual baixíssimo, que nem é o meu caso, pois meus números de consumo interno, como eu não quero ser multado, não mudaram. E todo mundo se surpreende com os meus números, para uma pessoa que nunca disputou uma eleição majoritária. Mas esses três prefeitos estavam com números baixíssimos e ganharam a eleição. Isso porque quando a campanha começou, eles foram à sociedade, apresentaram o conjunto de propostas que tinham e a capacidade de executar essas propostas, e convenceram os eleitores. Em Recife, quem começou disparado na frente, com quase 50%, foi Humberto Costa, do PT, senador da República e o outro tinha dois ou 3%. No final, o candidato do PSB ganhou a eleição. O Hadad, quando começou, tinha 2 ou 3% e ganhou também. Então eu não tenho nenhuma preocupação. Isso serve muito mais para as provocações da política ou para o disse me disse, mas todos sabem que pesquisas, nesse momento, não retratam o quadro de quando a campanha começa, principalmente quando começa em rádio e TV. O grande público passa a se envolver com a campanha a partir do início do horário eleitoral.

Tribuna - A vinda do ex-presidente Lula vai ser um dos principais trunfos para o período da campanha? 
Rui - Um líder político que ajudou e deu os primeiros passos em um processo econômico e social que incluiu 40 milhões de brasileiros, obviamente tem um peso político grande. Ele é o símbolo maior de um projeto político, econômico e social. Ao ser o símbolo disso, a presença dele dispensa qualquer explicação porque ao vê-lo defendendo um projeto, o eleitor já identifica o eixo central do projeto. Portanto, ou o eleitor se identifica ou não com esse projeto e a presença do Lula é sempre bem-vinda e ele ajuda. Lula é um líder por si só reconhecido no mundo e é referência nesse processo de transformação que o Brasil está passando.

Tribuna - O fogo cruzado entre o PT e a oposição já começou. Como vê as críticas que começam a ser disparadas contra o governo Wagner? 
Rui - As críticas são naturais e sempre bem-vindas quando verdadeiras. Eu tenho dito que, a partir de agora, todas as mentiras serão respondidas. Muitas vezes, a oposição usa a tática de repetir várias vezes uma mentira até que ela se torne verdade. Essa semana foram duas: o ex governador Paulo Souto deu uma declaração na Tudo FM de que o Hospital Octávio Mangabeira só estava funcionando em horário administrativo. O próprio diretor do hospital fez uma nota pública e distribuiu nas redes sociais desmentindo o ex-governador e estranhando o comportamento eleitoreiro e inverídico da declaração do ex-governador. Aquele hospital não é de emergência, é especializado em tratamento de doenças respiratórias. E sempre foi assim nos últimos 30 anos, inclusive nos oito que ele governou. O hospital não tem emergência, funciona de domingo a domingo, 24 horas por dia porque é hospital, mas não tem emergência. Os pacientes são atendidos em outras emergências e quando é diagnosticado problema respiratório o paciente é transferido para tratamento nesse hospital, que recebe paciente em qualquer hora do dia como qualquer outro hospital. Só não tem emergência. A declaração foi infundada, ele não fez qualquer concurso para médico no governo dele e o próprio diretor relata na nota o estado deplorável e as condições físicas vergonhosas que ele deixou o hospital em 2006. Talvez ele tenha essa declaração porque nos oito anos em que governou não tenha tido tempo nem oportunidade de visitar aquela unidade hospitalar.

Tribuna - Já que falou em ataque, a senadora Lídice da Mata foi eleita com os votos, com as bênçãos e com o apoio do governador Jaques Wagner e do próprio PT. Ela integrava esse governo, tendo o ex-deputado Domingos Leonelli uma posição de destaque em uma secretaria importante para o Estado. Agora ela resolve sair candidata e já com um mês volta as baterias contra o governo Wagner e contra o senhor.  Como o senhor classifica essa posição?
Rui - Eu a considero como amiga pessoal e cabe somente a ela as escolhas das estratégias da campanha dela. Diria ainda que cabe ao eleitor julgar isso. Ela esteve há quatro meses conosco ajudando a construir esse governo. Ocupou cargos e ainda tem relações com pessoas do PSB que ainda ocupam cargos no governo estadual e federal aqui na Bahia, como Trami, na Codeba, que ainda está no cargo. Então, eu sempre digo que nesse caso é melhor, como sou parte, deixar que o eleitor ou o ouvinte faça o julgamento. E eu prefiro só recomendar cautela. O povo não gosta disso, ao seu modo, ao seu olhar sabe identificar as coisas e não gosta desse comportamento. Eu espero que ela faça essa reflexão porque senão ela será julgada pela população. Não serei eu a fazer julgamento.

Tribuna - O fato de pertencerem ao mesmo grupo, até pouco tempo, e passearem pela mesma fatia do eleitorado pode ser um fator que dificulte ao longo do processo da campanha?
Rui - Eu diria que dificultar não porque a disputa vai se estabelecer entre governo e oposição. E a oposição quer se mostrar mais forte. A Bahia não tem tradição, até aqui, de dividir em três blocos. Em minha opinião vai ser polarizada entre governo e oposição, entre um projeto político e outro. Portanto, essa vai ser a polarização, no Estado e mais na frente as pessoas vão fazer a escolha por um projeto ou outro. Esse estrago, vamos dizer assim, não é previsível.

Tribuna - Otto, Geddel, Eliana Calmon. Uma disputa que se apresenta de forma acirrada. Qual a sua expectativa e quem deve levar vantagem para o Senado?
Rui - Obviamente Otto Alencar porque é um candidato que tem força entre as lideranças do interior, conhece a Bahia, é um candidato, como os prefeitos gostam de dizer, confiável e tem um viés muito forte de defesa do municipalismo. Eu não tenho dúvida de que Otto vai ter uma campanha muito sólida porque é, entre os nomes colocados, o que tem um vínculo maior com o município, com o local, com o acesso às lideranças para pautar as reivindicações. O senador é um deputado do estado, é a representação do estado na República. É, portanto, uma instância de poder do Parlamento, e Otto é uma pessoa extremamente acessível a todas as lideranças do interior. Isso é unanimidade e é algo que as pessoas buscam muito em um parlamentar, no caso, um senador.

Tribuna - O estilo agressivo e a língua ferina de Geddel te preocupam?
Rui - Em hipótese nenhum porque ele não vai debater comigo, ele vai debater com senador. Ele até tentou ser candidato a governador, mas o grupo dele não deixou. Ele nem queria ser senador, mas acabou aceitando. Não sei como ele vai ser candidato a senador se ele não queria. Ele vai debater com Otto e com Eliana Calmon e não comigo. Ele tem que apresentar as ideias que ele vai defender em Brasília e eu vou apresentar as ideias que eu vou executar no governo de Estado. Quem vai debater comigo são os candidatos a governador. Deputados fazem debates com candidatos a deputado, senador faz debate com senador e os governadores com governadores.

Tribuna - Qual a mensagem que o senhor deixa para a população da Bahia?
Rui - Uma mensagem de otimismo, de quem teve uma vida, desde criança, de superação, uma vida de quem conhece profundamente, porque nasci em uma encosta da Liberdade, uma família pobre. Sempre estudei em escola pública, fiz meu primário no Castro Alves, o ginásio no Luís Tarquínio, escola técnica e a UFBA. Portanto, sei todos os caminhos de dificuldade que a pessoa tem para superar. Eu me preparei e me sinto em condições de fazer muito pela Bahia. Tenho novo gás, novas ideias, entendo como funciona Brasília, os grandes projetos que estão, hoje no Estado, eu ajudei dentro do governo Wagner a trazer para a Bahia, como a ferrovia, o porto, as obras de Salvador e o metrô, que estava parado há 13, 14 anos nas mãos da prefeitura. O governador me pediu para resolver em um ano e agora nós estamos colocando para rodar. Então, eu me considero em plenas condições de governar este Estado, de fazê-lo crescer de forma rápida e consistente e com um olhar especial para o seguimento de camadas sociais. Quem me conhece desde a infância sabe o quanto eu sou detalhista, o quanto sou determinado a fazer as coisas acontecerem. O governador brinca comigo dizendo que vou ser um governador melhor do que ele porque vou ao detalhe, sou cobrador, fiscalizo as coisas.

Colaboraram: Fernanda Chagas, João Arthur Alves e Lilian Machado.