O secretário de Comunicação do Estado, Robinson Almeida, resolveu elevar o tom ao dizer que a oposição ao governador Jaques Wagner não tem um projeto de governo para a Bahia. Daí, segundo ele, tamanha dificuldade em escolher o candidato do bloco.
Em entrevista exclusiva à Tribuna, Robinson, que é pré-candidato a deputado federal pelo PT, fez um apanhado sobre a disputa pela vaga de vice de Rui Costa e minimizou o desgaste com o presidente da Assembleia, Marcelo Nilo (PDT), frente à indicação de João Leão (PP).
Sobre o seu substituto na secretaria, o atual titular da pasta disse que só o governador Wagner anunciará o próximo integrante do posto.
Tribuna da Bahia – Estamos numa fase de definições na chapa e a demora em escolher o vice de Rui Costa tem causado algumas tensões. Como avalia esses princípios de desgastes na própria base?
Robinson Almeida - Acho que estamos no tempo certo e até mesmo adiantados, porque o prazo da Justiça Eleitoral é para a convenção em 30 de junho e desde o ano passado o governador, junto com os partidos da base, montaram dois terços dos cargos: o de governador e o de senador. Resta, então, apenas o de vice. Eu vejo como natural o processo, pois tem um jogo político onde a oposição, essa sim muita atrasada, não conseguiu ainda escalar um dos seus jogadores para a disputa de 2014. Eu acho que tá no tempo certo e vamos promover a mesma unidade que foi feita dentro do PT quando da escolha do candidato. Na época, o PT tinha quatro candidatos e isso ‘estava criando um desgaste’ e o PT discutiu, discutiu, afunilou e saiu o secretário da Casa Civil, Rui Costa, e, atualmente, vejo Luiz Caetano, o senador Walter Pinheiro e José Sérgio Gabrielli todos integrados na pré-campanha de Rui e, da mesma forma, todos os partidos, quando escolhido o vice, ficarão integrados dentro da chapa majoritária.
Tribuna - O presidente da Assembleia, Marcelo Nilo, apostou que seria o indicado. Mesmo sem o anúncio oficial, ele já demonstrou sua insatisfação. Quando o governador baterá o martelo e o que fará para acalmar a base?
Robinson - O governador tem definido um prazo de até 30 de março. É do jeito característico dele conversar, de ouvir, de não impor, de buscar um consenso. Ele deu a liberdade da conversa do PP e do PDT, de Nilo com os outros postulantes e que trouxe um consenso que ele chancelaria... Então, quando esse processo evolui e não há uma síntese, ele [Jaques Wagner], como legítimo condutor da sucessão, terá a prerrogativa de indicar um caminho. Acho que até o final do mês saberemos qual será o vice escolhido para a chapa.
Tribuna – Se não houver entendimento com Nilo e as conversas dele, com a senadora Lídice da Mata, avançarem. Como o governo reagirá a esse movimento dentro da própria base?
Robinson - Isso só no plano especutalivo. Eu não vejo essa hipótese com possibilidade de se afirmar, porque o PDT é um partido que tem várias deputados federais e estaduais e tem dito o tempo todo que vai tá na chapa de Rui Costa e não trabalha com outra opção de candidatura. Então, tenho a convicção de que o PDT, o PP e todos os partidos da base estão unidos para a disputa de 2014.
Tribuna – O que fazer para ter menos desgaste diante desse quadro?
Robinson - Eu acho que quando não há o desprendimento pessoal da composição de um ceder, têm que ser definidos critérios objetivos. O PT encabeça a chapa e todo mundo concordou porque é partido com mais força política na coligação, é o partido do governador do estado e por isso encabeça a chapa. O PSD ocupa a vaga de Senado porque é a segunda maior agremiação da coligação, seja em número de deputados estaduais e federais, seja prefeitos, e por isso o vice-governador foi indicado para o cargo de senador. Os critérios devem ser estabelecidos como: tempo da televisão, maior número de prefeitos no estado, maior bancada de deputado e, dentro de critérios bem objetivos, seja colocada qual é agremiação que tem melhor condição de indicar o vice, como uma regra. Por outro lado, o perfil dos nomes indicados também tem que ser avaliado.
Tribuna - Dentro desse perfil, a vaga está definida para o PP. João Leão ou Negromonte? Qual dos dois agrega mais na chapa?
Robinson - Eu não fiz essas contas. Não sei se dentro desse perfil dá o PP. Eu entendo que essa é uma definição que deve ser coordenada pelo governador e pelos operadores políticos, e tanto Marcelo Nilo como João Leão e Mário Negromonte têm o perfil da agregação, porque vêm com uma indicação partidária, unindo todos os seus correligionários pra somar forças para a chapa majoritária.
Tribuna - Na oposição não houve brigas para a composição de vice, sendo escolhido o ex-prefeito de Mata de São João, João Gualberto (PSDB). Já na situação há essa “guerra de foice”. Como você encara essa situação?
Robinson - Ninguém cobiça árvores que não tenham bons frutos. Eu acho que a classe política está entendendo que há uma expectativa de vitória na chapa de situação, coordenada pelo governador Jaques Wagner e que tem Rui Costa como cabeça, e por isso mesmo essa boa disputa pela vice. Eu diria que isso é bom problema. O problema ruim enfrenta a oposição que não consegue nem montar os seus candidatos indicados.
Tribuna - Como você vê essa disputa e indefinição da oposição?
Robinson - A oposição não tem um programa para a Bahia. Perdeu a eleição aqui há oito anos e deixaram o estado como campeão de desigualdades sociais e estão se juntando em cima de um único fator convergente que é: não gostar do PT. Isso é muito pouco para dar liga, por isso mesmo que é esse bate cabeça. Se tivesse um projeto de governo para o estado e se afirmasse em torno de ideias, certamente essas ideais e princípios falariam mais forte sobre os nomes e já teria apresentado uma alternativa política para o nosso estado.
Tribuna - Você acredita que a candidatura de Lídice pode tirar voto da candidatura do PT, já que tem uma proximidade no eleitorado?
Robinson - Naturalmente há uma intersecção entre o eleitorado da senadora Lídice da Mata e do PT. Muitas pessoas confundem, porque ela foi eleita na nossa chapa de 2010 como uma pessoa que é ‘membro’ do PT, e essa situação vai ficar mais bem definida durante a campanha eleitoral, e a socialista, certamente, vai transitar por uma faixa que também o PT transitou historicamente, que é esse espectro de centro-esquerda da política brasileira e da política baiana e vai depender das alternativas que cada candidato apresente até esse seguimento de eleitorado para ver quem sai mais bem posicionado.
Tribuna - O caminho natural é o PT e PSB marcharem juntos num eventual segundo turno, independente de quem esteja na próxima fase do pleito?
Robinson - É muito natural. A senadora Lídice e o PSB tiveram com o projeto desde 2006, participaram do primeiro governo e por três anos do segundo governo e as convergências são muito maiores do que as diferenças. Tem uma questão conjuntural, que é a candidatura nacional do partido e acho legítimo que o PSB da Bahia faça essa opção de se alinhar ao projeto nacional e construir um palanque para Eduardo Campos no estado. Mas a tendência natural é sim um apoio eventual em um segundo turno.
Tribuna - Como avalia o governo Wagner? O que considera maior erro e acerto do governo?
Robinson - O governador Jaques Wagner vai entrar para a galeria dos grandes governadores que esse estado já teve. Ele que instituiu a democracia tardia na Bahia dentro da redemocratização do Brasil, porque esse estado não tinha práticas democráticas e republicanas. Ele priorizou e modificou o cenário das desigualdades sociais aqui acumuladas e que tá provocando uma nova inflexão no desenvolvimento econômico da Bahia. Ele conseguiu, nestes setes anos e dois meses, fazer mudanças estruturantes que vão ser impactadas paras as próximas décadas. É irreversível essa consolidação democrática, ninguém mais quer voltar ao passado das perseguições e da tutela do Executivo sob os outros poderes. Todo mundo gosta das liberdades, inclusive da liberdade ampla da imprensa. Em relação à área social, essa é uma marca também muito forte que não teremos retrocesso, como a consolidação de projetos voltados para os que mais precisam na Bahia: o Água para Todos, o Topa, a priorização da política de habitação... toda essa ação social vai ter um ganho ao longo dos anos muito efetivo na evolução da nossa cidadania. Na questão do desenvolvimento, nós vamos aí ter um pacote de infraestrutura que vai além, alavancar a Bahia nas próximas décadas, como Ferrovia Oeste-Leste que vai reestruturar o desenvolvimento do interior do estado; a ponte Salvador–Itaparica. É importante destacar também a atração da indústria naval, no Recôncavo, com o estaleiro do Paraguaçu, que está gerando milhares de empregos e vai produzir os navios e as sondas para Petrobras explorar o pré-sal. Cito o adensamento do polo de bebidas em Alagoinhas, com a vinda da Itaipava; a ampliação do polo automotivo com a vinda da JAC Motors. Em todas as áreas do desenvolvimento, infraestrutura e atração de empresas, está claro que nós vamos ter uma nova Bahia, senda desenhada e construída nas próximas décadas.
Tribuna – Robinson Almeida acabou se tornando uma agradável surpresa na máquina do estado. Hoje decide rumar a Brasília, como candidato a deputado federal. Em que consiste seu projeto?
Robinson - Eu tomei a decisão depois de muitos anos no Executivo e da vontade de continuar contribuindo para atividade pública, para a política em particular. Porque depois dos movimentos de junho de 2013, a minha compreensão é que nós temos um problema no sistema de representação política, onde a nossa classe política se distancia dos representados e isso cria um vazio da agenda de prioridades do país. Então, eu vou lutar por uma reforma política para que possamos aperfeiçoar os mecanismos da democracia representativa, sempre no sentido de aproximar o representante dos representados. Vou também eleger prioridade, pois um deputado tem que ter um foco e não pode ser generalista, e a área de segurança pública, pela minha experiência do programa Pacto pela Vida, e a comunicação serão prioridades na minha atuação parlamentar. Vou também colocar o foco nas questões regionais e territoriais. Pretendo concentrar a minha atuação nas regiões onde vou fazer uma campanha mais concentrada: Salvador, região metropolitana, Feira de Santana, recôncavo, baixo sul e a região do piemonte da Chapada e da Bacia do Jacuípe. E desse foco regional, lutar para bandeira da população, a exemplo da agricultura familiar e o desenvolvimento delas.
Tribuna - Em suas andanças ao interior, qual a maior carência e cobrança que o eleitorado faz em cima do governador Jaques Wagner?
Robinson - Sem dúvida, nas áreas da saúde e segurança. Eles reclamam um investimento mais imediato, mas expressivos da ação tanto dos governos federal e estadual, quanto das prefeituras. Na área de desenvolvimento, as pequenas cidades pedem ações de infraestrutura para convivência com a seca, ampliar a capacidade de armazenamento de oferta de água, para que tenha uma produção sempre permanente e não fique submetido aos ciclos da seca. E nas cidades grandes, assistimos a questão da mobilidade urbana, sem uma pauta hoje muito presente, inclusive em médias cidades também. Esse modelo de desenvolvimento muito baseado na industria automobilística e no transporte por rodovias fez com que as cidades tivessem colapsos da sua trafegabilidade e você precisa modernizar os sistemas de mobilidade construindo alternativas para que as pessoas tenha uma qualidade de vida melhor e não perca tempo no ir e vir das suas atividades cotidianas.
Tribuna - Você falou dos investimentos de mobilidade. A Copa do Mundo está prestes a acontecer e tem vários projetos que estão começando a ser lançados. Acredita que mesmo com o fim do mundial esses projetos continuarão a ser tocados com prioridade?
Robinson - Vários desses projetos não têm a relação direta com a Copa do Mundo e nem estão no cronograma do certame. Eu diria que dentro do calendário do mundial temos o estádio, que já foi entregue no início do ano passado, inclusive um dos primeiros do país e com excelente avaliação de funcionamento, e a mobilidade urbana no quesito metrô, que o governador puxou para si e está resolvendo e em junho vai funcionar em operação assistida, depois de mais de 10 anos ter virado uma piada nacional. O outro pacote de obras faz parte do PAC Mobilidade, em que são intervenções que vão preparar nossa cidade para as próximas décadas. A capital, por exemplo, vai ganhar vias estruturantes além da Via Expressa, que está funcionando e equacionou o problema do trânsito numa região importante da BR-324 e da Av. Bonocô. Nós vamos ter duas vias expressas, uma saindo do Lobato, passando por Pirajá, duplicando a Gal Costa e entroncando com a Pinto de Aguiar, e a outra saindo de Águas Claras, Cajazeiras e construindo a Av. 29 de Março e passa por Mussurunga e entronca com a Orlando Gomes, no Bairro da Paz. Serão R$ 1,2 bi de investimentos nesses dois corredores e isso vai preparar a cidade para o futuro, porque além dessas intervenções, o metrô será finalizado até 2015, com 34 km, com a linha 2 implantada da Av. Bonocô à cidade de Lauro de Freitas, e Salvador vai ser uma cidade bem melhor no quesito mobilidade.
Tribuna - Com a sua saída da Comunicação, quem deverá sentar no seu lugar? Já definiu o nome do sucessor? Marlupe Caldas ou Edmundo Filho?
Robinson - Por força do meu ofício, da minha função, eu aprendi que decisões de nomeação de secretário cabem exclusivamente ao meu chefe, ao governador. Digo que a tendência é alguém da equipe continuar o trabalho por uma regra que Jaques Wagner definiu para todo aquele secretário que postula uma candidatura. Faltam dez meses para o fim do governo e você tem um planejamento que tem ser dado continuidade. Essa é a tendência e em breve saberemos o nome.
Tribuna - Quando assumiu a secretaria há sete anos, por não ser formado em comunicação, encontrou algumas resistências, mas hoje tem uma boa relação com o mercado. Como avalia a área da comunicação no Estado?
Robinson - Eu digo que fiz muitos amigos e que tenho com esse segmento uma identidade muito grande. Vou te contar uma história: quando eu entrei em 2007, planejamos fazer a primeira conferência de Comunicação aqui no estado. Isso era muito distante da vida das pessoas, como entender a área como atividade econômica e política pública. Era só a produção de notícias, dimensão mais instrumental. Em 2008, fizemos o evento, percorri a Bahia toda em oito reuniões territoriais e as duas principais reivindicações dos segmentos participantes foram a criação da Secom, antes assessoria, e a implantação do Conselho de Comunicação, que já tinha uma prerrogativa na Constituição Estadual. Ao longo desses anos, atendemos a demanda com um amplo diálogo feito com o mercado do setor. Hoje no Conselho estão presentes empresário, trabalhadores, representantes da sociedade civil, da ABI e nossa relação enquanto Secom, com todos, tem sido de muita transparência e buscando a interiorização das ações do governo e não focando só na capital.
Tribuna - Um dos temas que pautará a campanha será a segurança pública e você foi um dos coordenadores do Pacto pela Vida. Como observa as críticas a esse setor e o que será levado ao debate?
Robinson - A Bahia, hoje, tem uma área de segurança pública bem definida. Um programa estratégico, chamado de Pacto pela Vida, que tem como objetivo central a redução dos crimes violentos, letais, intencionais, como homicídios, roubos seguidos de morte e as lesões seguidas de morte. Há um planejamento de todo o estado que foi divido em regiões integradas de segurança. Todos os indicadores são monitorados permanentemente e apresentadas alternativas para enfrentar os problemas. Nós temos hoje uma polícia mais estruturada do que o governador encontrou, contratamos 12 mil policiais, a renovação da frota, investimento em tecnologia e temos um desafio muito grande que não é só nosso, mas de todo Brasil: enfrentar o tráfico de drogas, causa principal da violência e da insegurança. Entendo que enquanto o estado brasileiro não tomar uma decisão de unificar uma política nacional no sentido de enfrentar esse problema, os estados subnacionais, como a Bahia e o restante, vão arcar com as consequências da instalação do tráfica de drogas, vão ficar aqui na ponta aplicando políticas para um problema que tem que ser enfrentado na sua gênese. O Brasil é um dos mercados que mais consomem cocaína e crack. O governo federal tem que ter uma determinação para enfrentar o tráfico internacional, uma relação focada em inibir a situação de drogas no país. Quanto menor for a circulação, menores serão as consequências na questão da violência.
Colaboraram: Fernanda Chagas e Victor Pinto