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Eduardo Salles diz que Negromonte merece ser indicado vice de Rui Costa

Veja a entrevista que o ex-secretário concedeu à Tribuna da Bahia

O ex-secretário de Agricultura Eduardo Salles, que deixou o governo para buscar uma vaga na Câmara Federal, em entrevista à Tribuna, destacou que a polêmica em torno da escolha da vaga de vice da chapa majoritária encabeçada pelo petista Rui Costa é questão de merecimento, e não perdeu a oportunidade de afirmar que Mário Negromonte se credenciou para assumir esse cargo.

Mais além, disse que: “O candidato do governador Jaques Wagner é do PP."  E descartou, ao menos, por enquanto, conversas com outras legendas, a exemplo do PSB da senadora Lídice da Mata. Sobre a pré-candidatura de Rui Costa, frisou que o grupo, estando unido, conseguirá a vitória.

Tribuna da Bahia: Secretário, o PP briga para ocupar espaço na vaga de vice de Rui Costa. O senhor acredita que o partido vai fazer o quê para garantir esse espaço na chapa do PT?
Eduardo Salles: Eu acho que é questão de merecimento. Quando o PMDB saiu do governo Jaques Wagner e o governo chamou o PP para estar junto, entrou o Roberto Muniz, eu como chefe de gabinete e o deputado João Leão na Secretaria de Infraestrutura. E nós entramos com compromisso de gestão, com o compromisso político de fazer o governo Jaques Wagner ter a confiança de que essas pessoas que entravam no governo ficariam com ele pelo resto da vida. Esse é o sentimento do PP, hoje, é afirmar que, no momento difícil, o PP estava junto. Isso é igual a amizade, que tem que estar bem nos bons e maus momentos. A gente entrou em um momento difícil, mostramos que éramos confiáveis e acho que faz parte recebermos recompensa por essa fidelidade ao governador. O partido tem grande dimensão a nível estadual e nacional, Mário Negromonte é vice presidente do PP e pode assumir a presidência em um momento politicamente importante da presidente Dilma. Eu acho que Mário Negromonte se credenciou para assumir esse cargo.

Tribuna: Como o senhor via as informações de que o governador Jaques Wagner nutriria uma preferência por Nilo, como vice de Rui Costa?
Eduardo Salles: Em um momento como esse, eu acho que as especulações são muitas. Eu não sei trabalhar em cima de especulações. O governador sempre demonstrou carinho pelo PP em todos os momentos enquanto fui secretário de governo. Eu acho que Marcelo Nilo é uma pessoa importante, teve papel fundamental nesse processo, sem dúvida alguma. Como presidente da Assembleia Legislativa, é um político valorizado em toda a Bahia, e é uma questão de ajuste. Não creio que haja preferência pessoal nesse caso.

Tribuna: Qual vai ser o critério de escolha na visão do senhor?
Eduardo Salles: O critério é peso. Nós tivemos uma reunião com o governador Jaques Wagner há cerca de dois meses, com os deputados federais e estaduais. O governador colocou que ia avaliar isso observando todos os parâmetros possíveis. Eu tenho certeza que o governador é uma pessoa muito justa e vai conseguir conciliar os dois lados.

Tribuna: Caso o PP fique fora da chapa, o senhor acredita que o partido pode conversar com outras legendas como o PSB, de Lídice da Mata, ou até mesmo o DEM, que já foram aliados?
Eduardo Salles: Acredito que hoje não. Nas reuniões que nós temos, o certo é que o PP estará com o governador Jaques Wagner. O candidato do governador Jaques Wagner é do PP. Isso é o que se tem até hoje, daqui para frente eu não sei medir, avaliar esse parâmetro. Às vezes aparece alguma coisa diferente na imprensa, mas sempre foi colocado dessa forma pelos líderes do partido.

Tribuna: O senhor acredita que a candidatura de Rui vai decolar ou ele vai ter dificuldade de se viabilizar, já que não é tão conhecido do grande público e tem, relativamente, pouco tempo para fazer isso?
Eduardo Salles: Eu tenho rodado muito a Bahia inteira. Como secretário, nesses três anos e meio, eu rodei 302 municípios dos 417 da Bahia. É melhor que o candidato não tenha muito desgaste, mesmo sendo pouco conhecido, do que o candidato que seja conhecido, mas tenha desgaste anterior. Eu acho que, o grupo estando unido, nós vamos conseguir a vitória, sem dúvida. É preciso que todos os partícipes tenham comprometimento.

Tribuna: O PSB e a senadora Lídice da Mata faziam parte do governo até há muito pouco tempo. O senhor acredita que uma candidatura dela em uma chapa com Eliana Calmon tira voto do PT e dos seus aliados?
Eduardo Salles: A Lídice é muito querida e, inclusive, o governador teve papel fundamental na eleição dela para senadora. Eu vejo a Lídice, hoje, em um papel muito difícil. Ela é candidata, mas é muito comprometida com o governador. Então, eu confesso que não sei avaliar o que isso vai ser no futuro. Imagine a pessoa ser candidata, sabendo que tem comprometimento com um amigo que ajudou...

Tribuna: Mas nos últimos dois dias tiveram alguns tensionamentos e, a depender de como o cenário nacional se comporte, eles vão acabar ficando em lados opostos. Mas, falando sobre a avaliação da gestão, o que o senhor tem a dizer sobre o período em que ficou à frente da secretaria de Agricultura?
Eduardo Salles: Eu vim da iniciativa privada. Fui diretor de empresas grandes e rodei o mundo inteiro como gestor dessas empresas. Quando eu vim para o governo, pedi demissão de uma empresa em que eu ganhava três vezes mais do que ganho hoje. Confesso que durante esses três anos e meio passei o momento mais feliz da minha vida. Feliz de poder mudar a realidade de um povo muito carente no interior da Bahia. Às vezes, quem está na cidade não entende a dificuldade do povo do campo e eu peguei os três anos da pior seca da história do Brasil. Período que foi, talvez, o momento mais difícil da agropecuária baiana. O governador coloca que eu fui um técnico político, pois não dei trabalho ao meu partido, o PP, não dei trabalho ao governador, politicamente, e fui fazendo o que sei fazer que é gestão técnica. Não realizei todos os meus sonhos, mas fiz o possível. Aprendi muito e tenho a sensação de dever cumprido.

Tribuna: Qual o maior desafio que o seu sucessor, Jairo Carneiro, vai ter? E o que não foi feito pelo senhor, que o senhor acredita que vai ser colocado como prioridade, agora, no final do governo?
Eduardo Salles: Eu digo todos os dias que Jairo Carneiro era o secretário, de fato, e eu de direito porque, ao longo de três anos e meio, eu passei boa parte do tempo no interior em reuniões com a população. Então, o Jairo vai dar sequência a esse trabalho que já vinha sendo feito. As demandas que a gente deixou de realizar foram muitas, mas o que ficou mais forte foi a questão da EBDA, que eu queria muito ter resolvido a questão trabalhista. A EBDA foi o maior desafio da minha vida porque era uma empresa totalmente sucateada, tinha um passivo trabalhista enorme e é o coração da agropecuária baiana. Eu confesso que deixo para Jairo uma coisa que está bem perto de ser resolvida. Esse foi o meu maior drama de não conseguir resolver.

Tribuna: Como o senhor lidou e como viveu a seca, sendo o secretário de Agricultura, como o senhor mesmo falou, no momento mais difícil da agropecuária baiana nos últimos tempos?
Eduardo Salles: Eu parti para cima, não fiquei no ar condicionado, em Salvador. Durante o pior momento da seca, eu estava com meus gestores executando um programa que eu criei chamado Secretaria de Agricultura Itinerante. Eu estava em Campo Alegre de Lurdes, que é, talvez, um dos rincões mais difíceis da seca, que até abelha estava morrendo de fome e de sede. Eu estava em Chorrochó, Macururé, nos locais mais difíceis dessa seca ouvindo as críticas. Eu acho que o homem cresce ouvindo críticas e cada crítica que eu recebia, eu voltava com mais vontade de buscar soluções para aquelas críticas. Ninguém vai resolver o problema da seca, mas criamos uma condição de convivência futura com o semi-árido usando dois balizamentos grandes: água para o consumo animal e reserva alimentar. Dos 11 milhões de bovinos que temos, a gente perdeu um milhão, ao longo dessa seca, por fome ou por sede, incluindo a vaquinha que era importante para a vida de alguma família no interior. Eu sofri com essas pessoas, eu chorei muitas vezes de emoção ao ouvir aquelas pessoas falando e tentei fazer o máximo possível. Então, eu acho que aprendemos uma grande lição: seca não se combate, seca se convive, como se convive com a neve nos países do norte. E a gente tem que aprender que cesta básica e carro-pipa não são solução para a seca.

Tribuna: O que foi feito para que essa convivência tenha o menor sofrimento para essas pessoas?
Eduardo Salles: Amanhã, eu estarei junto com Rui Costa e com o governador entregando retroescavadeiras. Eu, como presidente do conselho nacional do secretário de agricultura, levei os demais secretários ao presidente do BNDES e consegui 26 milhões para a Bahia para fazermos milhares de barragens subterrâneas. Esses equipamentos são indicados pela Embrapa semiárido e a gente faz para garantir a convivência na época de seca. Eu consegui com o governador Jaques Wagner e com o secretário Rui Costa, através do Fundo de Combate à Pobreza, um milhão e meio de reais para fazermos a maior biofábrica de produção de palma do mundo, em Juazeiro. Nós doamos 20 milhões de mudas de palma, que a gente chama de raquete de palma, para os produtores. A gente instalou centenas de poços artesianos que a Cerb tinha perfurado e tinha dado água salobra, que não serve para o consumo humano, mas serve para o consumo animal. Cada realidade da Bahia, do semiárido baiano que é muito grande, temos que ter uma solução de água. Uma é perinização através de barragens, a outra são as barragens subterrâneas, outra são os poços artesianos. Ao longo desse semiárido, temos várias soluções para a água e solução alimentar com a palma que deu muito resultado. Eu ataquei essas duas vertentes para realizar meu sonho, que era que cada agricultor e cada criador da Bahia tivesse uma reserva alimentar e uma reserva de água.

Tribuna: Ficou longe de atingir esse objetivo?
Eduardo Salles: Eu acho que sim. Esse objetivo vai ser atingido em décadas para frente. Ninguém vai resolver o problema do semi-árido a curto prazo.

Tribuna: O governo federal foi parceiro?
Eduardo Salles: Muito. Em todos os momentos, o Ministério da Integração, o Ministério do Desenvolvimento Agrário, o Ministério da Agricultura, o MDS e a Codevasf acreditaram em muitas sugestões da Bahia, como o programa de mudas de mandioca, o programa de mudas de palma e o programa das barragens subterrâneas, por exemplo. Tudo isso, muitas vezes eu fui a Brasília e consegui. A curto prazo nós conseguimos, aqui na Bahia, vender 150 mil toneladas de milho subsidiado. Nós montamos 22 novos armazéns emergenciais para a venda de milho subsidiado ao agricultor familiar.

Um caso que marcou a minha história foi quando eu estava em uma secretaria itinerante no município de Macururé, em pleno pico da seca. Em uma das reuniões tínhamos mil pessoas e uma senhora, a Dona Lia, levantou e disse que era presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Macururé, que é a terra do bode. Dizem que o melhor bode do mundo é de lá. Dona Lia colocou o dedo em riste e disse: “Secretário, se nada for feito por esse governo nessa seca, se não tiver milho para darmos para os nossos bichos, os ‘menino’ que nascerem aqui em Macururé no ano que vem não vão saber o que é um cabrito”. Imagine, a pessoa na terra do bode dizer que não vai ter bode porque vão morrer todos. Aquilo me tocou muito e na semana seguinte eu estava em Brasília em uma reunião no Palácio do Planalto com o presidente do Conselho Nacional da Secretaria de Agricultura, com o presidente da Conab, com o secretário executivo da Casa Civil, do Ministério da Agricultura, Ministério do Desenvolvimento Agrário e Ministério da Integração, pleiteando que a gente abrisse os 22 novos polos de venda de milho. Quinze dias depois nós estávamos com o polo da Conab em Chorrochó, ao lado de Macururé, vendendo milho a   R$ 18, enquanto o milho estava a R$ 60 o saco.

Tribuna: Foram feitos muitos movimentos para tentar minimizar o estrago da seca.
Eduardo Salles: Minimizar sim, resolver nunca.

Tribuna: Como o governo do Estado tem tratado a questão da reforma agrária e como o senhor vê as críticas do próprio movimento, sobretudo com relação ao governo federal, que só agora sinalizou por uma tímida reforma agrária?
Eduardo Salles: A Bahia tem o maior número de assentados, acampados e agricultores familiares do Brasil. Em termos de assentados, são 550 assentamentos do Incra e mais 300 do crédito fundiário. Então são 850 assentamentos do Incra aqui na Bahia. A agricultura familiar tem 665 mil famílias. Os dois são os maiores números e qualquer coisa representa muito do que é feito na Bahia.

Na minha visão, o movimento tem razão em pleitear cada dia mais as coisas, e acho que cabe ao governo responder rapidamente a essas questões. A causa fundiária, a nível do Incra, não depende do Estado, mas, sim, do Governo Federal. O que é feito a nível de estado é o crédito fundiário para pequenos assentamentos, que nós temos avançado muito.

Eu tenho uma ótima relação com os movimentos sociais, com a agricultura familiar, com o médio produtor e com o agricultor empresarial. Eu acho que não tem distinção e querem criar uma celeuma de diferenciar as coisas entre a agricultura familiar e a empresarial. Isso não existe, a agropecuária é uma só. O movimento social tem, realmente, a importância de ter a terra, e tem muita terra, hoje, no nosso Estado, que a gente teria condição de incluir essas áreas na reforma agrária e inserir a condição de produção. Eu, desde que entrei na secretaria, fui muito sincero com os movimentos sociais sem terra. Eu e o governador colocamos claramente que o nosso objetivo é colocar todos os assentamentos para produzirem. Ao longo desse caminho, nós fizemos diversos convênios para estimular a produção nesses assentamentos. Eu acho que é possível conciliar novas terras para os sem-terra.

Tribuna: Em seus planos futuros, o senhor quer ser deputado estadual. É aposta do PP?
Eduardo Salles: Na Assembleia Legislativa nós temos 63 deputados. Temos um deputado que é defensor dos petroleiros, outro que defende os rodoviários, outro é defensor dos bancários, outro dos eletricitários, dois que defendem a polícia, os militares, tudo muito bem em uma bandeira. Eu acho que, hoje, me credencio a ter uma bandeira também. Uma bandeira que é a defesa incondicional da agropecuária baiana. A agropecuária é responsável por ¼ do PIB, da riqueza do Estado, 30% dos empregos, 42% das exportações e tem que ter alguém que tenha conhecimento para defendê-la incondicionalmente. Esse é o meu objetivo, e o PP entendeu isso desde o momento que me colocou na Secretaria de Agricultura. A gente vai ter uma pessoa que vai mostrar a bandeira, desde a agricultura familiar até a agricultura empresarial. Nós vamos ter um pré-candidato dentro da Assembleia Legislativa que, se eleito for, vai defender incondicionalmente o setor agropecuário do estado da Bahia.

Tribuna: Há muita gente, dentro do próprio governo, que diz que o governador Jaques Wagner foi obrigado a pedir o cargo de todos os secretários agora, meado de janeiro, justamente por causa do senhor, que provocou a maior ciumeira dentro da base aliada, pelo trabalho que o senhor fez. Como é que o senhor vê essa movimentação em torno do senhor?
Eduardo Salles: Talvez eu tenha culpa por imaturidade política. Eu não tenho experiência política. Eu sempre fui em 302 municípios da Bahia, nos povoados, nos grotões tentando ajudar as pessoas. Eu nunca tive um olhar político nisso aí. Então, eu não tenho problema nenhum e peço desculpas se atrapalhei os meus colegas.

Colaboraram Fernanda Chagas e João Arthur