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Domingos Leonelli deixa o governo elogiando as ações de Jaques Wagner

Ele lamentou não ter conseguido terceirizar a administração do Centro de Convenções

O socialista Domingos Leonelli, após entregar o cargo de secretário estadual do Turismo e presidente da Bahiatursa para se dedicar à campanha da companheira Lídice da Mata ao governo da Bahia, em entrevista à Tribuna, não perdeu a oportunidade de mostrar o crescimento do turismo na Bahia, porém lamentou não ter conseguido terceirizar a administração do Centro de Convenções.

Evitou, entretanto, elencar pontos negativos no governo Wagner, frisando os positivos.  “Os pontos mais positivos que eu considero foram, em primeiríssimo lugar, a revolução política que Wagner fez na forma de governar. Essa revolução tem muito efeito econômico, social e político”. Ele negou ainda que haja rompimento com o PT.

Tribuna da Bahia: Leonelli, entregando a pasta do Turismo, o que avançou nos últimos anos no setor, aqui na Bahia?
Domingos Leonelli: Em primeiro lugar, avançou o turismo como um todo. Aumentou muito o número de turistas na Bahia nos últimos sete anos. Comparando os seis anos anteriores com os seis anos da nossa administração, de 2001 a 2007 foram realizados 11 milhões de desembarques em Salvador. De 2007 a 2012, esse número passou para 22 milhões de desembarques em Salvador, Porto Seguro e Ilhéus. Segundo a pesquisa da FIP, instituição que faz a pesquisa do Ministério do Turismo, nós tínhamos nove milhões de turistas, entre brasileiros, estrangeiros e baianos, em 2009 e passamos para 11 milhões em 2011. Provavelmente, vamos passar dos 13 milhões na pesquisa 2013-2014. Tivemos um crescimento do fluxo de turismo na Bahia. Uma tradução disso, em termos econômicos, podemos dizer que dobramos o valor dos investimentos privados. Encontramos em 2007, quando chegamos à secretaria, 2,2 bilhões de dólares para serem investidos até o ano de 2014. Estamos saindo, deixando para serem investidos no ano de 2018 5,7 bilhões de dólares. Mais do que dobraram os investimentos privados, e os públicos nós dobramos também. Tivemos 130 milhões de investimentos privados em infraestrutura entre 2001 e 2007 e tivemos, entre 2007 e 2012, 263 milhões. Isso fora os investimentos que foram aprovados pelo BID e 200 milhões de reais para a Baía de Todos-os-Santos.

Nós multiplicamos por 15 o número de pessoas qualificadas profissionalmente pela Secretaria de Turismo. Foram 16 mil e trezentas pessoas qualificadas profissionalmente ou pequenas empresas capacitadas empresarialmente pela Secretaria de Turismo e seus parceiros – Sebrae, Senac, Senat, Uneb, Ufba. No turismo rural, saímos de 13 empreendimentos rurais para 93. Foi um crescimento do número de turistas, um crescimento econômico e social.

Tribuna: O que não fez e se arrepende de não ter feito?
Domingos Leonelli: Não consegui terceirizar a administração do Centro de Convenções. Agora em janeiro deverá ser aberta uma licitação para elaborar um plano que viabilize a terceirização do Centro de Convenções de Salvador. O Centro de Convenções foi o nosso calcanhar de Aquiles. A Sucab está trabalhando com ritmo, agora, mas tivemos muita dificuldade. Não podíamos fazer obras no Centro de Convenções, apenas a Sucab podia fazer, que por algumas razões também não fazia. Com isso, eu via o Centro sofrer sem poder resolver. A Bahiatursa tinha receita própria que poderia resolver, mas não adiantava. Nós fizemos um contrato com a Sucab de 14 milhões de reais para que ela realize os projetos de manutenção emergencial do Centro de Convenções. O Centro precisa de intervenções que vão custar muito mais caro, e para isso estamos propondo a terceirização. Queremos passar a gestão para a iniciativa privada para que ela possa explorar e, ao mesmo tempo, fazer os investimentos necessários.

Tribuna: Por que, nos últimos anos, o Pelourinho não foi colocado como prioridade pelo governo do Estado, beirando o abandono?
Domingos Leonelli: Eu discordo que o Pelourinho esteja abandonado. O Pelourinho não ficou na área da Secretaria de Turismo. A Secretaria de Cultura e Turismo foi dividida a pedido de Wagner, no último mês do governo de Paulo Souto. A Secretaria de Cultura ficou com maior estrutura e nós ficamos com uma “costela” menor da divisão, digamos assim, e essa área do Pelourinho ficou com a Secretaria de Cultura e com a Conder. Mas nós fizemos investimentos consideráveis no Centro Histórico com recursos do Ministério do Turismo em convênio com a Secretaria de Turismo e execução do Ipac. Nós investimos na Igreja do Rosário dos Pretos, na Igreja do Boqueirão, na Casa das Sete Mortes, no Palácio Rio Branco. Foram investimentos que nós fizemos para recuperar o patrimônio histórico. Fora isso, não era da nossa alçada, embora nós tivéssemos apoiado muito e realizamos eventos de grande importância no Centro Histórico. O São João da Bahia foi transformado em produto turístico, tendo como sede principal o Pelourinho. Os próprios comerciantes do Pelourinho reconhecem isso. Depois fizemos também o Espicha Verão no Pelourinho, que deu muitos bons resultados. As nossas intervenções são pontuais.

Tribuna: Sempre existiram muitas críticas com relação ao acúmulo de funções do senhor na Secretaria e na Bahiatursa. Essa foi uma fórmula que não deu certo?
Domingos Leonelli: Foi uma fórmula que deu certíssimo. Aliás, a Bahiatursa sempre funcionou bem assim, quando, por vários anos, o secretário foi Paulo Gaudenzi. Eu tenho minhas dúvidas se essa dupla estrutura seria coisa para se pensar ao final de um governo. Eu aconselhei o governador Wagner a não pensar nisso agora porque não é o caso, mas é para pensar no futuro. Pensar em qual é a estrutura melhor para o turismo da Bahia. Eu acho que uma estrutura única, talvez, fosse melhor, embora a Bahiatursa tenha um grande fundo de comércio, é um número muito importante, muito reconhecido internacionalmente pelo trabalho que foi realizado durante anos com Paulo Gaudenzi à frente e outros diretores que foram da Bahiatursa, que fizeram um trabalho bom. E a Bahiatursa foi quem capitalizou, talvez pelo nome. Bahiatursa é um ótimo nome e é uma empresa de 45 anos. Eu achei que foi uma decisão acertada, pelo menos por um período. Nós tínhamos alguns problemas administrativos na Bahiatursa, principalmente com relação ao Centro de Convenções, essa coisa da terceirização que não saiu e a decisão que o governador tomou, de colocar o secretário de turismo na presidência da Bahiatursa, foi boa. Nós fizemos uma reformulação administrativa na Bahiatursa que levou os funcionários a ficarem muito orgulhosos. Pela primeira vez na história da Bahiatursa, nós aprovamos as contas de 2011 sem ressalvas e as contas de 2012 estão para serem aprovadas sem ressalvas também. Isso é uma sensação de orgulho muito boa para a gestão da empresa.

Tribuna: Qual o maior gargalo do governo Wagner?
Domingos Leonelli: Eu não saberia dizer. Eu me limitei muito, sou um sujeito muito obcecado, muito concentrado no que eu faço. Eu segui o meu caminho com o turismo.

Tribuna: Eu vou reformular a pergunta. O senhor, hoje, deixa o cargo de secretário e volta a ser um militante do PSB que tem uma candidatura ao governo. Qual o ponto positivo e o negativo na visão do senhor, como cidadão?
Domingos Leonelli: Eu, sinceramente, não posso detectar pontos negativos no governo Wagner. Os pontos mais positivos que eu considero foram, em primeiríssimo lugar, a revolução política que Wagner fez na forma de governar. Essa revolução tem muito efeito econômico, social e político. Econômico porque foi a maneira republicana de Wagner governar, sem perseguições, sem prepotência. Isso estimulou muito as empresas a virem para a Bahia, estimulou o capital privado a investir com mais segurança, saber que não têm privilégios, que não existem grupos que perseguem outros. Essa universalização da política foi muito positiva, teve um efeito muito bom sobre a política, a economia e a sociedade como um todo. Não faltaram realizações positivas. Wagner inaugurou cinco novos hospitais na Bahia, alfabetizou mais de um milhão de pessoas, isso é muita coisa. O parque eólico foi ampliado, foi praticamente implantado, o Polo Petroquímico foi ampliado. Há um número muito grande de coisas, foi um grande governo.

Tribuna: A saída do governo marca rompimento do PSB com o PT, politicamente. Qual o discurso que vocês vão construir para a campanha de Lídice da Mata?
Domingos Leonelli: Não marca um rompimento com o PT, absolutamente. Nem com o PT e nem com o governo de Wagner. Marca uma diferença do PT e uma diferença em relação ao governo de Wagner. Ao governo de Wagner não, ao governo de Wagner nós somos defensores, somos apoiadores porque fazemos parte do governo dele. Eu quero lembrar que Lídice apoiou Wagner antes do PT. Quando o PT estava pensando nomes para apoiar, o PSB tinha se manifestado a favor de Wagner. Depois, nós seguimos com Wagner em dois governos. Agora, no último ano de governo, o PT antecipou a sucessão erradamente, ao meu ver, e provocou essa antecipação geral da campanha. Nunca se viu uma campanha para governador começar em agosto, setembro. Em junho já estava se falando em sucessão. Eu acho que o PT cometeu um grande erro, tanto nacional quanto local, quanto regional. Ao final do governo Wagner, o PSB se acha no direito de pretender o que qualquer partido pretende, que é chegar ao poder. E tem nome para isso, tem as condições para isso, tem uma possibilidade concreta que é a candidatura da senadora Lídice da Mata ao governo do estado da Bahia. Isso dependia da candidatura de Eduardo Campos, dependia da parceria com Marina Silva e foi fortalecida e consolidada uma questão nacional que cria uma incompatibilidade entre uma candidatura estadual do governo de Wagner. Lídice poderia ser mais uma candidata do governo de Wagner não fosse a candidatura nacional de Eduardo Campos e Marina. Aí então, isso consolidou uma divisão de posições, mas não há rompimento com o PT, há apenas uma diversidade de caminhos. Sobre o discurso que vamos pregar na campanha, nós ainda vamos desenhá-lo, baseado na inovação, em uma terceira posição, em postura que eu gosto muito que Marina Silva diz que “não é oposição e nem situação, é posição”. Nós vamos ter uma posição marcadamente para algumas visões novas, não contraditórias para o governo Wagner. Lídice vai ter uma posição muito confortável. Não sendo a candidata oficial, ela não é obrigada a defender todos os detalhes do governo Wagner e não sendo da oposição também não é obrigada a atacar e criticar esses pontos. Então, ela vai ter uma posição muito propositiva. 

Tribuna: O que o PSB traz de novidade nessa eleição, em relação aos outros partidos, para governar a Bahia? A candidatura de Eliana Calmon é o molho que vocês precisavam para chegar com força na campanha?
Domingos Leonelli: A candidatura de Eliana Calmon é muito importante. Ela agrega valor político e cultural. A cultura jurídica se aproxima da cultura política, fato que pode ser muito importante para a política no futuro, embora ela não seja uma política profissional, mas os valores da cultura jurídica têm muita importância nesse momento que o Brasil atravessa. Nós precisamos dessa cultura jurídica, que pode ajudar muito a política. Ela traz essa agregação que é muito valorosa, traz valores morais muito importantes. Os valores eleitorais eu não poderia avaliar nesse momento. Nem ela e nem ninguém porque ainda não houve pesquisas que possam nos propiciar uma avaliação desse tipo. Mas eu acho que ela é importantíssima e forma uma bela chapa - Lídice e Eliana. Pense como tem algo novo com tradição – Lídice foi a primeira prefeita mulher de Salvador, foi a primeira senadora de Salvador e, agora, será a primeira governadora de Salvador. Dá até vontade de votar, não é verdade?

Tribuna: Qual o perfil ideal para o vice da chapa de Lídice e Eliana Calmon? Quem sobrar da chapa do PT ou uma mulher?
Domingos Leonelli: Não acho isso não. Nem que tenha importância que seja mulher ou homem. O primeiro predicado, que seria conveniente, é que trouxesse um pouquinho de tempo de TV, que nós estamos precisando muito. Isso é um fator importante e nós temos muito pouco tempo de TV. Mas, eu acho que mais do que isso, o importante é que mantenha esse brilho e esse mesmo perfil que a chapa tem com Lídice e Eliana. É um perfil de integridade política, de integridade moral, de transparência, de coisas importantes da ética política, coisas fundamentais.

Tribuna: A senadora Lídice da Mata tem uma experiência política muito grande. O senhor acredita que o que vai ser colocado em discussão na próxima eleição é a capacidade gerencial de quem vai assumir o desafio de gerir a Bahia, de gerir o Brasil? O senhor acha que a capacidade gerencial do PT vai estar em debate na próxima eleição?
Domingos Leonelli: Eu não creio que esse item seja o principal. O principal em uma campanha política é a política, é a capacidade de gerenciar politicamente. Governar é administrar politicamente. Não adianta termos um excelente administrador, mas que seja um desastre político. E não adianta termos um político que seja um desastre administrativo. Lídice já revelou capacidade política e capacidade administrativa porque governou nossa cidade em uma das piores condições de guerra aberta, guerra financeira, guerra de comunicação, guerra política, um cerco gigantesco, e mesmo assim ela conseguiu deixar marcas na cidade que perduram até hoje.

Tribuna: O senhor falou de tempo de TV. Vão buscar partidos da base do governo Wagner para se juntar ao projeto do PSB?
Domingos Leonelli: Não necessariamente da base do governo. Vamos buscar partidos que tenham afinidade com essa chapa, que estejam de acordo com esse perfil de ética, político, de correção. Partidos que, de preferência, tragam tempo de TV porque isso é fundamental.

Tribuna: O PPS e o PV são dois partidos prioritários?
Domingos Leonelli: Não digo prioritários, mas são partidos que têm uma grande possibilidade. Temos muitos amigos no PV, sou muito amigo de José Luis Pena, sou amigo de Edson Duarte. Temos muitos companheiros no PPS também, o Joceval é um grande amigo nosso. Eu acho que essa chapa tem que ser de esquerda. Essa é uma característica que eu penso que vai pesar muito.

Tribuna: Qual o destino político de Domingos Leonelli a partir de agora?
Domingos Leonelli: Eu vou retomar o Instituto Pensar com debates, com estudos e pesquisas para o desenho do programa de governo de Lídice, que vai ser minha tarefa prioritária ao lado de Júlio Rocha e outros companheiros. A outra tarefa, que é de todos também, é da articulação política, de buscar conversar calmamente. A paciência é o ingrediente essencial da política, é como dizia Mao Tsé Tung: “A paciência é revolucionária”.

Tribuna: Será candidato a deputado federal?
Domingos Leonelli: Provavelmente. Eu coloquei meu nome à disposição porque precisamos de uma chapa forte. Não que meu nome signifique tanta força, mas eu tive 50 mil votos na vez passada.

Tribuna: O senhor acredita que a candidatura do PSB, através de Lídice, vai tirar votos do PP de Rui Costa?
Domingos Leonelli: Ela vai tirar votos de todos os candidatos. Do PT, do DEM, de todos os candidatos. Só pode se eleger, claro, tirando votos dos outros. Mas não vai tirar votos especificamente do PT nem do candidato Rui Costa. Ela agregará, principalmente, votos que nunca foram do PT, que nunca foram de Rui e que podem ser de Lídice.

Colaboraram: Fernanda Chagas e Lilian Machado