Entre as questões levantadas sobre a autenticidade do laudo apresentado pelo senhor no caso envolvendo a médica Kátia Vargas, em Salvador, está o fato de ter sido solicitado pela defesa, afirmação feita inclusive pela acusação. Como o senhor responde a isso?
Molina - Um laudo vale pelo rigor técnico que apresenta e só deve ser criticado com base em critérios técnicos. A defesa tem todo o direito de ter seu assistente técnico. Qual seria a outra opção? Aceitar passivamente aquela pantomima do DPT? Certamente é isso o que o MP gostaria, para desenvolver livremente sua sanha acusatória. Sem defesa é mais confortável. O promotor, a esta altura já está começando a perceber que perde essa causa pois não existe nada concreto contra a acusada. Daí esse esperneamento todo. A dita “testemunha chave” não fala coisa com coisa e relata uma dinâmica fisicamente impossível (a qual, aliás, não foi confirmada nem pelo laudo do DPT). Já fiz dezenas de laudos para o Ministério Público e para o Juízo. O promotor sabe bem disso. Se alguém acha que faço laudos sob encomenda, não me conhece bem. Mas então que o diga com todas as palavras e não por meio de insinuações.
Pode citar alguns casos em que o senhor tenha trabalhado a pedido do Ministério Público?
Molina - São muitos. Vou selecionar alguns de maior relevância:
-- Caso Magri (ex ministro da previdência) MP-DF
-- Caso Chacina de Vigário Geral (MP-RJ)
-- Caso “Rambo” (GAECO)
-- Caso Eldorado de Carajás (MP-PA)
-- Caso “Mafia do Apito (MP-SP)
-- Caso Desvio de drogas pelo DENARC (GAECO)
-- Caso Celso Daniel (GAECO)
-- Caso PC Farias (MP-AL)
Há muitos outros, mas não me lembro agora. Fora isso há inúmeras participações em casos a pedido de Corregedorias da
Câmara e do Senado Federal, por exemplo:
-- Caso Violação do Painel do Senado (que levou à renúncia de ACM)
-- Caso Compra de Votos da Reeleição de FHC (que levou à renúncia dos deputados)
-- Ronivon Santiago e João Maia)
-- Caso Assassinato Ceci Cunha – cassação do Dep Fed Talvane Albuquerque
-- Caso Dep. Mario Frota
Há outros, mas não lembro agora. Essa gente não conhece minha carreira.
Algumas pessoas ligam o nome do senhor aos casos dos Nardones e do goleiro Bruno. O que o senhor tem a dizer sobre isso?
Molina - Isto é um desses factoides de internet. Não trabalhei em nenhum dos dois casos. Fui procurado pelos advogados e recusei os dois casos, pois entendia que não havia defesa possível. No caso Nardoni fiz alguns comentários (na TV) levantando pontos que me pareciam falhos no laudo do IC e que poderiam beneficiar a defesa. Na verdade minha preocupação era que a acusação ficasse prejudicada por essas falhas. Minha tese quanto ao caso Nardoni é mais incriminadora do que a da própria polícia. Quanto ao goleiro Bruno, nem dá para entender, pois só tive um contato com o advogado e recusei imediatamente o caso. É bem complicado ficar buscando informações na internet. Grande parte é invencionice e intriga.
Alguns chegam a afirmar que o senhor é musico de formação e especialista em fonética, e que portanto não possui "conhecimento técnico" para questionar perícias técnicas? Como o senhor vê essa afirmação? E como e quando começou a atuar na área?
Molina - Tenho Mestrado em Fonética e Doutorado em Ciências. Faço perícias há mais de vinte anos. Já fui Chefe do Departamento de Medicina Legal da Unicamp por três anos. Já fiz centenas de laudos envolvendo processamennto de imagens, acidentes de trânsito etc, inclusive para o MP. A formação de um perito se dá não apenas pelo conhecimento formal (que eu tenho de sobra) mas principalmente pela experiência. Aliás, a senhora delegada é o quê? Bacharel em Direito? E ainda quer dar palpite técnico???
È bem estranho que se perca tanto tempo em me difamar e não se gaste uma linha para apontar eventuais falhas no meu laudo. É tudo manobra diversionista. Não querem me enfrentar diretamente. Desafio qualquer perito, delegada, promotor, qualquer um, a discutir comigo em público (uma rede de TV seria ótimo) as questões técnicas. Não vou perder meu tempo com intriga barata.
Outra informação veiculada na mídia é de que o senhor teria sido demitido da Universidade de Campinas. Isso aconteceu?
Molina - Houve um episódio, de fato, há mais de doze anos e está relacionado com a minha insistência em fazer o caso ACM. Ele pressionou a Unicamp para que eu não fizesse a transcrição da gravação na qual ele admitia ter lido a lista secreta de votos do Senado. Finquei o pé, e mantive minha posição de independência. A universidade me demitiu por isso e fui readmitido dez dias depois por ordem judicial. Estou lá até hoje.
O senhor fez duras críticas à delegada Jussara Souza, titular da 7ª Delegacia, no Rio Vermelho, chegando a chamá-la de criminosa, o que provocou muita polêmica e uma reação por parte do Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado da Bahia (Sinpeb) que anunciou que vai processá-lo. Como pretende agir caso isso aconteça?
Molina - Uma alteração de data foi feita no relatório da delegada. A testemunha Arivaldo diz com todas as letras que “foi viajar no sábado e no domingo a delegada ligou para ele”. Ora, então ele não foi depor no dia dos fatos como afirma a delegada. Quem está mentindo? Parece que é a delegada. Se mentiu e alterou data de depoimento oficial, cometeu um crime. Quem comete crime é criminoso. Além disso, a delegada incluiu duas testemunhas em seu relatório (Hamilton e Álvaro) que sequer viram o acidente, colocando-as como “decisivas” para concluir pela culpa da acusada. É uma deslavada mentira, pois essas testemunhas nada viram. Lhes foi dada importância simplesmente para “valorizar” um relatório sem qualquer embasamento nos fatos. Quanto a essa história de processo é mais uma manobra das delegadas para desviar do assunto principal. Se querem derrubar meu laudo que o façam tecnicamente. Na verdade, essa reação exacerbada e pouco racional só demonstra que, como se diz no popular, estão “passando recibo” para o que eu disse. Estão querendo me intimidar para me tirar do caso. Não tenho medo e vou continuar denunciando o festival de equívocos que permeia esse caso.