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Wagner diz ter feito uma revolução silenciosa na administração do Estado

Veja entrevista à Tribuna da Bahia

Foto: Raul Golinelli/GovBA
O governador Jaques Wagner

Já em ambiente de despedida do ano de 2013, sétimo ano de seu mandato, o governador Jaques Wagner (PT) fez um balanço positivo de sua gestão e demonstrou confiança em relação à corrida para a sucessão em 2014. O gestor estadual admitiu que as dificuldades financeiras tornaram o ano de 2013 o mais difícil do seu mandato, com impactos na esfera política, mas ressaltou que a situação está sendo equilibrada com o Refis e outras iniciativas administrativas, a exemplo do contingenciamento do orçamento e corte no custeio da máquina pública. Wagner citou as manifestações do mês de junho como um reflexo para possíveis mudanças nas administrações e chamou a atenção para as respostas que vêm dando para a população. Ele mencionou o investimento em estradas, no Água Para Todos, na redução dos homicídios, na geração de 550 mil empregos, a implantação de cinco cursos de Medicina em todo o estado e a duplicação do orçamento das universidades estaduais.

Wagner compara sua gestão com as anteriores, ao lembrar que foi feito muito mais pela educação e pela segurança. Ao analisar o cenário político, o petista destacou a candidatura de Rui Costa (PT) ao governo. “Eu percebo todo que mundo está querendo se engajar e trabalhar muito. O papel agora é ganhar musculatura do ponto de vista da interação da sociedade, na construção de um programa consistente, que eu acho que tem que haver dedicação a partir de agora”. 

Nesta entrevista exclusiva à Tribuna, o governador falou ainda sobre a candidatura da sua aliada, a senadora Lídice da Mata (PSB) ao governo. Segundo ele, a gestão do prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), “tem uma cara, um planejamento, e isso é bom para concordar ou discordar”.

Tribuna da Bahia - O ano de 2013 foi um período de avanços e de muitos problemas. O que prevaleceu na gestão do senhor? Seu governo tem atendido a contento as demandas dos baianos?
Jaques Wagner - Sem dúvida, 2013 foi o ano mais difícil do meu governo, principalmente pela questão orçamentária fiscal, que não é particular da Bahia. Todos os estados têm problemas nessa área, consequência da falta de crescimento que atingiu o Brasil e da ampliação da rede de atendimento, seja na área de assistência social, saúde ou educação. Isso tudo significa mais despesa. Efetivamente teve maior aperto e por isso não conseguimos fazer tudo que queríamos, havendo repercussão, também, na política. Creio também que os episódios de junho e julho no país despertaram em boa parte da população uma postura mais crítica em relação à política como um todo. Não se trata do partido A, B ou C, mas da política no geral. De certa forma, o julgamento é mais rigoroso por parte da população. Mas da nossa parte, dentro desse quadro de dificuldade, nós fizemos o máximo que pudemos. Estamos virando o ano com o horizonte melhor, do ponto de vista das finanças do Estado. Fizemos redução de despesas e já temos outras ferramentas para passar um ano de 2014 mais tranquilo. Além disso, o crescimento econômico deve ser maior, melhorando, consequentemente, o caixa dos estados. Continuaremos fazendo o Água para Todos, estradas, cuidando da saúde, em todas as frentes, e a área da segurança, que é sempre a mais vulnerável e a mais sensível para a população por cada vida que se perde, fruto da marginalidade, é óbvio que conta muito. Ainda não fechamos o ano de 2013, mas até novembro tinha uma redução média entre nove e 11% dos homicídios, que são o foco do programa Pacto pela Vida. É o planejamento que nós temos para a área de segurança. Mesmo nessa área, a gente continua incorporando novos quadros e melhorando a infraestrutura.

Tribuna - Diante do estado de insegurança, isso não é pouco, governador?
Wagner - Pode parecer pouco, mas é uma vitória. Eu digo sempre que quando a gente trabalha para conter, a bandidagem trabalha para aumentar. Não é uma coisa particular da Bahia. Teve esse temporal e o arrastão no Rio de Janeiro, em São Paulo tiveram todos aqueles episódios. Esse é um problema que se generalizou. O advento do crack está na raiz da ampliação dos problemas de violência. É uma coisa dramática porque, dos homicídios que eu falei, a faixa de 15 a 18 anos ocupa 10% dos homicídios vinculados ao crime. Mais de 70%, em termos de homicídios, estão ligados às drogas. Sem dúvida nenhuma eu digo isso porque mensalmente eu tenho reunião com a cúpula da segurança, Ministério Público, Poder Judiciário, Defensoria, às vezes convidamos algum prefeito por questões municipais. Hoje, a segurança da Bahia é outra. Pode parecer contraditório porque as páginas dos jornais sempre mostram a questão da segurança. Quem conhece por dentro sabe que a segurança é outra. Hoje as pessoas têm caminho, a motivação é outra, há uma sinergia muito grande entre Polícia Militar, Polícia Civil e Técnica, dentro da interação com os outros poderes há ajuda do Ministério Público, do Poder Judiciário, Executivo e Defensoria. Eu não tenho dúvida de que a qualidade do que temos hoje é muito superior e a maioria dos profissionais está mais motivada. Nós entramos numa rota positiva, mas não é fácil. O crack, por exemplo, é um formigueiro devastador que anda por aí, entra em qualquer mochila. Um, dois, três quilos se transformam em várias pedras da droga. Eu creio que, mesmo nessa área de segurança, que é o ponto mais escolhido pela oposição porque ela sabe que quando fala de segurança está tocando na vida das pessoas, e gente tem que caminhar muito mais. Ao mesmo tempo, tenho a consciência que há dois anos e meio, com o Pacto pela Vida, estamos em uma caminhada que considero segura.

Tribuna - Essa semana aconteceu uma morte na Estação de Transbordo do Iguatemi, em plena luz do dia. O que falar para uma família que perde abruptamente um parente, um amigo?
Wagner - Eu não quero fazer nenhum tipo de pré-julgamento, mas alguém que é assassinado na presença de uma irmã, se não me engano, com aqueles tiros, precisa ser investigado. Mas não foi tentativa de roubo, nada disso. Seguramente foi alguma vingança, alguma briga que passa por questões pessoais, que passa por questões de tráfico, mas eu não posso afirmar, pois seria leviano. Mas, não é normal que alguém chegue, acho que foram quatro tiros, e provoque uma morte que, pelas circunstâncias, é típica de reprimenda, de retaliação, um dissídio que pode ser fruto de briga de casal e até vinculado a crime, não sei. Foi uma morte típica de quem chegou para executar. Precisamos esperar as investigações e eu tenho dito, quando vou às cidades do interior, que parte da nossa luta por segurança também é de conscientização. Eu digo à juventude que o mundo da droga é o mundo de uma fantasia de vida curta. Quando a pessoa entra nesse mundo, as chances de sair ilesa são muito pequenas. Na verdade, a única coisa que eu tenho falado é que a gente abra cada vez mais oportunidades de empregos. São mais de 550 mil empregos gerados em sete anos de governo e estamos ampliando essas vagas. Saímos de uma para cinco universidades, acabamos de ganhar mais cinco cursos de medicina em todo o Estado, mesmo que seja da iniciativa privada, mais do que duplicamos o orçamento das universidades estaduais, temos na área do Pronatec, de ensino médio e profissionalizante, números bastante grandes, uma turma acabou de se formar em língua inglesa, que é outro programa que nós temos. A gente tem aberto muitas oportunidades no mundo do trabalho, da arte e da cultura, mas eu sei que existe muita dificuldade. Longe de mim desconhecer os problemas da Bahia, mas as drogas não são a saída, são a ilusão. Eu insisto: 70% dos homicídios que vitimam, em geral, jovens, negros, entre 16 e 29 anos, que são a ampla maioria, estão vinculados à questão das drogas.

Tribuna - O que não foi feito e será tocado como prioridade em 2014? Como avalia seu governo, sob o aspecto da eficiência da gestão?
Wagner - Olha, 2014 não é o ano para “inventar a roda”. É o meu último ano de governo, é um ano curto por causa do processo eleitoral, e a partir de maio e junho todos estão olhando para outubro, e ainda tem a Copa em junho. Quando a Copa terminar, já estaremos a praticamente um mês do programa eleitoral de rádio e televisão, que é onde o processo esquenta mais. É um ano de seis meses, quando no final vem a transição. Depois do resultado das eleições, que eu espero que a sucessão seja feita dentro de casa, que possamos chegar lá, o novo governo começa a se organizar. Não dá para ficar prometendo muita coisa para 2014. Eu diria que o que já está “rodando”, aquilo que já foi iniciado em 2013 é o que vai ter sequência em 2014. Nós vamos continuar com o Água para Todos, o Saúde em Movimento, a política de ampliação da segurança, estamos com 1.300 profissionais na Polícia Militar. Mas está tudo restrito em função da questão orçamentária. O que deixou de ser feito pelo governo em 2013 não foi em termos de qualidade, mas sim de quantidade. Poderíamos ter feito mais estradas e outras coisas, mas tivemos que frear um pouco por causa do caixa.

Tribuna - Como está o caixa financeiro do governo hoje?
Wagner - O caixa já está muito melhor. Agora em dezembro fizemos o Refis, reduzimos muitas despesas e temos algumas coisas preparadas, em termos de empréstimos. Eu acho que a gente atravessa o ano de 2014, não digo com tranquilidade, mas com segurança.

Tribuna - Foi divulgada essa semana uma pesquisa do Instituto Planter que mostra que aqui em Salvador 78% da população rejeita a saúde pública, 70% avalia negativamente a segurança e quase 60% rejeita a educação. O senhor acredita que poderia ir para cima dessas áreas e tentar modificar a percepção da população na prestação dos serviços públicos?
Wagner - Quando a população diz que não aceita isso ou aquilo, ela está dizendo que não está do jeito que ela quer. Não necessariamente, esse juízo de valor é transposto para quem está no governo. O governo não é julgado pela situação que se apresenta. É julgado por aquilo que está fazendo para modificar o ambiente em que se encontra. Eu acho que o importante - é por isso que conta muito o processo eleitoral - é mostrar. Por exemplo, a educação não está boa, eu também acho, senão, não seria um desafio para mim, mas nós demos uma tremenda caminhada. Alfabetizamos 1,150 milhão, temos o terceiro maior sistema de ensino médio profissionalizante do Brasil, quintuplicamos o número de universidades federais na Bahia, e por aí vai. Então, qual é o problema? Está ruim, quero melhorar? Quero um ensino médio melhor, mas reconheço que o governo proporcionou inúmeros benefícios. A gente não é julgado pelo problema, somos julgados pela postura frente ao problema. A segurança é um grande problema, mas contratamos 12 mil policiais e temos, hoje, um planejamento estratégico para a segurança. Tem estradas ruins? Vou mostrar que fiz 7.500, coisa que ninguém fez. Tem problemas de água? Tem, mas vou mostrar que levei água para 3,500 milhões de pessoas. A saúde é ruim? É, mas vou mostrar que fiz cinco hospitais novos que ninguém fez nos últimos 20 anos. Na hora que o povo vai julgar, ele não julga o ruim e o bom. Ele julga o que foi feito para melhorar. Por isso que as pessoas se atrapalham. Está muito melhor do que estava. Nós mais do que duplicamos os leitos de UTI. Onde nós estivermos, faltando o que esteja faltando, estamos muito adiante de onde recebemos em 2007. É isso que a população vai olhar. Não adianta alguém que não fez estradas ficar dizendo que tem buraco aqui e ali.

Tribuna - A oposição diz que faltam grandes obras ao longo dos últimos anos e falta ritmo de celeridade. O que o senhor tem a dizer com relação às marcas do seu governo, em contraponto às críticas da oposição?
Wagner - É normal. A oposição não pode elogiar. Se ela elogiasse, declinava do papel de oposição. Eu estou muito tranquilo porque acho que nós temos marcas, e na hora certa elas brotarão. Aliás, como se fala, as pessoas até dizem que eu bato muito pouco bumbo porque quando as pessoas mergulham naquilo que está feito, as pessoas se surpreendem. Eu acho a crítica da oposição normal e ela vai ter oportunidade, durante a campanha eleitoral, de fazer as comparações, e nós vamos continuar apresentando os nossos números. Eu lhe digo que eles não reconhecem marca, mas se você andar pelo interior inteiro vai ver a própria população falando de marcas como o Água para Todos, o volume de estradas, o volume de postos de saúde da família, o apoio à agricultura familiar. As pessoas vivem de clichê e eu não sou muito adepto de clichê. Por exemplo, ontem (sexta) eu estava recebendo o presidente de Cuba, Raúl Castro, e estava falando do programa Mais Médicos, nós falávamos da repercussão positiva da chegada dos médicos cubanos, bolivianos, portugueses, espanhóis – são várias nacionalidades que têm chegado. Eu mostrei a ele uma fita sobre o Saúde em Movimento, com uma cirurgia de catarata. Nós já fizemos 120 mil cirurgias de catarata. Esse número é simplesmente a maior marca da América Latina em termos de saúde oftalmológica. Na área de alfabetização, pode ser que a oposição não ligue muito para isso porque deixou a Bahia chegar a dois milhões, cento e cinquenta mil analfabetos, - eles que governaram a Bahia por tanto tempo - mas, nós alfabetizamos, com endereço e CPF, um milhão e cento e cinquenta mil pessoas. Geramos 555 mil empregos, um número infinitamente maior que o período deles. Nós temos nesse momento 500 investimentos implantados ou em implantação na Bahia. Nós demos um “boom” na área mineral, na área eólica, na área automobilística, negociando com a própria Ford, que está ampliando a produção. Tirou dois veículos desenhados aqui. A montadora foi trazida em outro período, mas há oito anos está trabalhando conosco e só aumenta o seu interesse. Ampliamos o Polo Industrial de Camaçari, que é hoje um polo renovado exatamente pela política fiscal que fizemos e eles nunca fizeram. Quando eu assumi o governo, o Polo de Camaçari estava em um processo de envelhecimento, perdendo competitividade, perdendo, inclusive, posição no cenário nacional. Nós demos uma mexida muito grande que custou muito ao caixa do governo. Com esse incremento, houve uma dinamização no polo que está recebendo a Basf, a Boticário e várias indústrias que estão chegando. A oposição está no papel dela, que é o de apontar falhas, e vamos ver o que ela apresenta de projetos bons nesse ano eleitoral.

Tribuna - Governador, vamos falar sobre a sucessão estadual de 2014. Ficaram traumas com a escolha de Rui Costa? Houve imposição do senhor?
Wagner - Não ficaram traumas. E também não teve imposição. Toda vez que você tem quatro nomes e tem que escolher um, três vão ficar tristes. Eu fui muito claro no dia 29 quando tivemos aquela posse do diretório, que foi a consolidação do nome de Rui Costa como nosso candidato. É óbvio que Pinheiro, Gabrielli e Caetano, e seus respectivos agrupamentos que torciam por cada um desses nomes, não podem dizer que ficaram felizes, mas eu acho que todos tiveram a maturidade junto com a militância do PT, que para nós tem sido fundamental. Não era quem eu queria, mas é nosso e vamos lá!  Eu já sinto que isso está superado, sinto isso com muita alegria com os outros partidos, e é óbvio que dentro dos outros partidos também tinha torcida por A, por B ou por C. Eu percebo todo mundo querendo se engajar e querendo trabalhar muito para que a gente construa uma chapa, que já tem dois nomes indicados, Rui Costa e Otto Alencar, e agora a gente vai até março discutir internamente com todos a escolha de um nome para compor a vice e fazer o mais importante: rodar a Bahia.

Tribuna - O que fazer para Rui Costa ganhar musculatura? Qual a estratégia para viabilizá-lo?
Wagner - Ele já está ganhando musculatura. Eu digo a todo mundo que quem quer antever eleição agora em dezembro, janeiro, fevereiro, março, abril e maio atinge uma margem de erro imensa. O pessoal vai começar a enxergar mais concretamente o processo eleitoral depois da Copa. Até lá, o trabalho que a gente tem que fazer não é olhar para a pesquisa, porque ela não vai mudar, já que não terá um fato novo. As novidades virão quando começar o programa eleitoral gratuito e a população começar a se interessar efetivamente. Eu acho que é perda de tempo falar das pesquisas porque ninguém vai ter grandes movimentações se não há debates na sociedade sobre o tema. O que está aí está congelado, vai subindo um ponto, um ponto e meio. O papel agora é ganhar musculatura do ponto de vista da interação da sociedade, na construção de um programa consistente, que eu acho que tem que haver dedicação a partir de agora. Do primeiro quadrimestre até abril devemos fazer debates no interior e aqui na capital, mas nada monumental. Debater com seguimentos de cada setor: na área da agricultura, da indústria, do meio ambiente, da segurança, para ir agregando valores novos.

Tribuna - O senhor vai encabeçar esse processo?
Wagner - Essa já é uma tarefa para o candidato, não é mais trabalho meu, eu estou fazendo uma tarefa que está sendo concluída. É evidente que sou parte da campanha, mas eu já disse para Rui e para quem for organizar a campanha dele que ele tem que se apresentar não só como o defensor do já feito, mas tem que ser o portador da esperança, do novo, daquilo que ele vai modificar. Eu já disse a ele para ficar à vontade comigo. Não precisa dizer que eu sou maravilhoso porque o que a gente fez já está incorporado. Ele tem que trabalhar em cima do que a gente não fez e apontar os locais em que precisamos trabalhar mais. O que já foi feito, e eu me orgulho disso, foi uma verdadeira revolução silenciosa na Bahia, nos hábitos baianos de fazer política, a relação com a imprensa, com a sociedade, com o empresariado, com os outros poderes, tudo mudou da água para o vinho. Os outros poderes nunca tiveram a autonomia que têm nesses sete anos de governo. Isso, para mim, é patrimônio, é o chamado imaterial. Você não apalpa, mas todo mundo sabe que, hoje, as pessoas respiram diferente. Os empresários estão vindo para cá não por obra e graça só da simpatia. Eles estão vindo porque existem regras claras, tem um governo que não ameaça, que negocia, dialoga. Eu disse para Rui Costa: "você não vai fazer campanha para me defender, vai fazer campanha para se apresentar e apresentar o que você tem. Evidentemente, você vai partir de uma base que a gente construiu junto. Sobre segurança, por exemplo, ele tem que mostrar propostas, saídas daquilo que a gente não conseguiu atingir. Eu estou muito tranquilo, já temos uma agregação bastante grande, em se tratando do prefeito, o que já era de se esperar. Quando você tem um nome, todo mundo torce pelo seu. É esse o nome? Então vamos embora!

Tribuna - Qual o paralelo entre a campanha do senhor, em 2006, e a de Rui Costa, agora, colocando os dois no patamar de desconhecidos do grande público?
Wagner - É diferente porque o meu grupo, em 2006, não estava no poder, e por isso é totalmente diferente. Naquele ano havia o cansaço em relação ao grupo anterior que exercia a política aqui há 16 anos consecutivos, e há 40 com uma pequena interrupção. Havia uma metodologia totalmente diferente da minha, havia falhas na área social, educacional, de segurança. Eu não fico debatendo com eles porque a minha obrigação é responder aos problemas da população. Eu acho graça, às vezes, alguns falarem, porque a curva de aumento da violência na Bahia é de bem antes de eu chegar. Era uma curva ascendente que continuava e a gente trabalhou e trabalha para estabilizar e diminuir. Mas essa inflexão é anterior. É totalmente diferente. Lá você tinha um governo com 40 anos, cansado, com brigas internas, com a população conhecendo outro tipo de governo, que era do presidente Lula, querendo ver isso acontecer na Bahia. Eu já tinha sido candidato em 2002, fui a 37% dos votos. Quando eu cheguei desconhecido, tanto que muita gente achava que era impossível, que era uma maluquice eu vir aqui para ser candidato, inclusive o presidente Lula, mas acabamos ganhando no primeiro turno.

Tribuna – E o que o senhor acha que foi importante nesse processo?
Wagner – O que foi importante nesse processo? A gente ter trazido uma mensagem diferenciada, nos apresentado com uma consistência bastante grande em termos de programa de governo e, portanto, despertamos o interesse da população para a mudança. Rui não deixa de ser mudança dentro de um projeto porque muda a cara, ele é mais novo do que eu, tem outro tipo de formação, é economista, é de outra geração. São 13 anos de diferença, então o pique é outro, eu acho até que ele tem mais pique do que eu, é mais executivo. Fez política porque foi articulador político. Eu brinco sempre que o presidente Lula deu a alcunha de mãe do PAC para Dilma, que estava na Casa Civil, e eu fico brincando que o Rui é o pai da mobilidade urbana de Salvador porque foi ele quem desembrulhou o metrô, a via expressa, que estava sob a batuta dele, e vários viadutos. Hoje, ele tem o respeito do governo federal, eu o considero uma pessoa que conhece todo o diagnóstico baiano porque tem os números na cabeça, os custos das coisas, conhece os quatro cantos da Bahia, tem viajado muito. Então, eu acho que ele está preparado. A campanha é diferente porque lá foi uma quebra de modelo e aqui é uma renovação do modelo. Ele vai construir esse ambiente.

Tribuna - Há fadiga de material do PT?
Wagner - Não porque o tempo é muito curto. Nós estamos no poder a sete anos na Bahia. A gente se elegeu bem, no segundo mandato a minha votação cresceu. Agora em 2012, dentro da base de sustentação do governo, nós elegemos 75% ou mais dos prefeitos. Pelo que eu vejo no interior, acho que não tem fadiga de material. Acho até, sinceramente, que as pessoas podem querer mais e melhor, não querem nenhuma volta ao passado.

Tribuna - O prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), pode se lançar ao governo? Acredita nisso, como dizem assessores próximos ao senhor?
Wagner - Não sei. Essa decisão é dele. Eu não participo, portanto, não posso opinar. Eu digo sempre que quem se preocupa com o time adversário esquece de organizar o seu. Eu oriento quem está trabalhando comigo a montar o nosso time com o que temos de melhor, venha a quem vier de oposição. Assim, nós estaremos preparados para enfrentar qualquer surpresa da eleição.

Tribuna- O senhor acredita que uma chapa com a senadora Lídice da Mata ao governo e a ministra Eliana Calmon ao Senado vai tirar votos do PT? Rui Costa corre risco de ficar de fora do segundo turno?
Wagner - Está muito cedo para fazer análise de eleição. É evidente que esse desenho não é o que eu queria. Eu preferia que estivéssemos todos juntos. Lídice tinha conversado comigo, mas resolveu se manter no PSB. Sabíamos desse risco. Eu trabalhei muito com a hipótese de que Eduardo pudesse abrir mão de uma candidatura agora e projetasse uma candidatura para 2018, coisa que eu defendia publicamente. Eu acho que isso era mais natural. A presidenta Dilma tem o direito à reeleição, mas isso não se discute mais. Lídice vai ser pressionada a ser candidata e já decidiu que é candidata. Nós vamos continuar nos tratando como amigos e pontualmente como adversários políticos na eleição de 2014. É claro que ela tem o espaço porque tem o nome, é senadora, já foi prefeita, mas eu acho que o grupo político da gente está demonstrando muita vontade de unidade, tem muita força, e Rui vai carregar uma mensagem de modernização, de renovação.

Tribuna - Já existem especulações de que Otto Alencar não sairia ao Senado, mas continuaria na vice. O senhor conseguiria movimentar melhor alguém do PP para a chapa? Há alguma definição? Qual a visão ideal do senhor?
Wagner - A chapa ideal é a que você consegue montar. Para mim, o nome de Otto foi colocado para o Senado porque foi o pleito do PSD. Qualquer mudança nisso só se partir dele mesmo. Da minha parte não tem modificação. Eu acho que o grupo do PSD, que acompanha Otto, está bastante confortável. Se ele disser que quer ser vice, não tem problema, mas, por enquanto, o quadro que está montado é esse.

Tribuna - Como o senhor vai atuar na reeleição da presidente Dilma? Ela terá dificuldade para se manter no poder?
Wagner - Qualquer eleição tem risco. Nenhuma eleição é ganha de véspera, mas eu acho que ela vai chegar muito bem. Eu vou trabalhar fazendo a campanha, principalmente, na Bahia e tentando ajudar na formulação, em algum de tipo de organização da campanha, mas eu acho que o melhor trabalho que eu poderei fazer por ela é garantir a frente de votos que ela teve aqui em 2010, que foi de 2,7 milhões de votos de frente. Para isso eu preciso me dedicar aqui na campanha. Essa coisa de eu ser coordenador do Nordeste não existe. O coordenador, em cada estado, é o governador se estiver apoiando ela. Se não for, é o candidato a governador ligado à campanha dela. Não existe isso de chegar um de fora para mandar no estado os outros. Quem vai fazer a campanha no Ceará é Cid Gomes, no Maranhão é Roseana Sarney e por enquanto o quadro formado é esse. Eu vou ajudar, e a minha tarefa é coordenar a campanha na Bahia.

Tribuna - Qual o momento mais difícil de 2013, até agora?
Wagner - Na verdade, não foi um momento foi a situação orçamentária e financeira. Mesmo no momento de junho e julho, quando eu fiz várias reuniões com diversos segmentos sociais, era um momento de apreensão.

Tribuna - E a seca estaria inclusa nessas dificuldades?
Wagner - É que eu pensei mais na política. Como a seca atingiu todo mundo indiscriminadamente, não foi algo vinculado ao governador Jaques Wagner ou ao PT. Acho que ela bateu em todo mundo. A questão fiscal e a seca, como você citou, sem dúvida nenhuma, foram as questões mais duras para mim. O povo sofreu muito ao longo dessa estiagem, que foi a mais severa dos últimos 60 anos. Perdemos muitos animais, muita colheita, muito na agricultura. É por isso que eu digo que nós ultrapassamos um momento de extrema dificuldade, fazendo de 2013 o ano mais complicado. Foi o terceiro ano da estiagem, as coisas se agravaram: problemas de água, de perda de pastagens e soma-se a tudo isso o aperto fiscal. Chegar a esse final de ano com taxa de aceitação de reconhecimento fez a travessia ser extremamente positiva.

Tribuna - Qual a sua relação com o governo ACM Neto e a avaliação do governo em Salvador?
Wagner - É boa. Administrativamente, estamos trabalhando em conjunto e acabamos de lançar o Réveillon. Eu considero que estamos tendo uma parceria positiva para a cidade. É próprio da minha alma, eu nunca persegui ninguém e não vou perseguir quem o povo escolheu para governar a capital. Eu tenho que me render. É óbvio que eu tinha outro candidato, mas até agora a relação tem sido muito positiva e eu acho que ele está fazendo o que tem que ser feito. Está organizando o caixa, que estava muito desorganizado, para fazer planos para o futuro. Na relação com a prefeitura, dá para sentir uma equipe mais estruturada. Independente de eu concordar ou discordar, sei com quem estou falando. É um governo que tem uma cara, um planejamento, e isso é bom para concordar ou discordar. Eu acho que nesse aspecto é positivo, mas prefiro não fazer comentário sobre a gestão dele.

Tribuna - O ex-governador Paulo Souto e o ex-ministro Geddel. Quem poderá dar mais trabalho para Rui Costa durante a campanha?
Wagner - Eu não escolho candidato. Eu escolho o meu e tenho responsabilidade sobre ele junto com o PT. Cada candidato tem pontos fracos e fortes.

Tribuna - O senhor teme o fortalecimento da candidatura de Lídice e a não acomodação de todos os partidos da base no entorno de Rui Costa?
Wagner - Não, pelo menos por enquanto. A maioria das pessoas não quer romper, mas alguma coisa pode acontecer, a gente está trabalhando com 12 partidos. Eu diria que a gente, por enquanto, tem um ambiente positivo dentro da base. Estamos sempre conversando com todo mundo, mas vamos aguardar.

Tribuna - Qual a expectativa para 2014 e qual a mensagem que o senhor deixa para a população?
Wagner - A minha expectativa é positiva para 2014. Eu acho que o Brasil tende a crescer mais e a continuar nessa batida de promoção da nossa gente mais simples, de inclusão social, de melhora dos indicadores de educação, de saúde e, espero, de segurança também. Evidentemente que, por ser um ano de Copa do Mundo acontecendo no Brasil, como todo brasileiro, vamos torcer para que a gente consiga levantar a taça em território brasileiro, esperar que a seca reflua definitivamente, e disso dependemos das chuvas até março do ano que vem, e esperar que cada um de nós siga o exemplo de Mandela. Ele era uma referência importantíssima para o mundo moderno e uma resistência invejável que é própria de quem tem ideal e sabe aonde quer chegar. Pouca gente aguentaria 27 anos na prisão para sair e ser presidente do seu país. Isso não aconteceria se não tivesse convicções profundas, muito sustentadas em ideais verdadeiros. Eu creio no exemplo do próprio funeral dele, pelo volume de presidentes que foi quase uma coisa mundial. Quando a gente admira, é bom tentar copiar alguma coisa. Se cada um de nós, tanto da classe política quanto cada cidadão, der essa contribuição de construir o mundo com paz e com mais justiça social, eu acho que a gente vai fazer uma caminhada boa. É óbvio que espero que a Dilma e o Rui ganhem a eleição. Vou trabalhar para isso porque acredito no projeto, acredito nos dois. Vou trabalhar também para a eleição de Otto como senador e do nosso vice, e trabalhar muito para fazer mais e melhor pelo povo baiano. A gente está fazendo até uma coisa um pouco diferente, que a tradição era largar em março para ser candidato a senador, mas eu acho que esse script não é obrigatório. Eu estou muito seguro de levar até o final porque o povo me escolheu para isso, para governar quatro anos e depois mais quatro.

Colaboraram: Fernanda Chagas e Lilian Machado