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Maurício Trindade diz que o PROS vai nascer como o 3º maior da Assembleia

Secretário de Promoção Social e Combate à Pobreza (Semps) da gestão municipal do prefeito ACM Neto (DEM), o deputado federal Maurício Trindade, articulador do partido PROS na Bahia, aposta que a sigla já nascerá grande no Estado. O novo partido pode ser o terceiro maior da Assembleia Legislativa e se equiparar ao PT e ao PTN na Câmara de Vereadores de Salvador.

Com isso, Trindade alimenta os rumores de que um petista do Parlamento Municipal pode ser atraído para a legenda.  Segundo ele, o partido será a porta de saída de políticos que integram a base de sustentação estadual e que estão insatisfeitos com o governo.

Descontente com o caminho seguido pelo PR, o deputado evidencia a tendência do PROS em se firmar como um partido de oposição em nível nacional e também no Estado, mas integrando a base na capital.

Nesta entrevista, Trindade, que conseguiu status de peso ao dar o pontapé em solo baiano para a criação do partido, acredita que o desgaste do governo e as pesquisas favorecem a oposição para 2014. Ele coloca o nome do prefeito ACM Neto como melhor para liderar o processo eleitoral na oposição, mas reitera que o prefeito não vai se candidatar.

Tribuna da Bahia - O que levou o senhor a deixar o PR e ajudar na criação do Pros?
Maurício Trindade - Primeiro, que estamos no fim do prazo de filiação e na Bahia nós hoje temos dois grupos políticos que é o governo do Estado e a oposição comandada pelo prefeito ACM Neto. Eu hoje estou no partido PR, que é da base do governador do Estado, e eu sou secretário da gestão do prefeito ACM Neto, com isso na próxima eleição ficaria incompatível continuar no PR.

Tribuna - Qual a expectativa do partido? Nasce com qual peso?
Trindade - No Brasil já iniciaremos com uma média de um deputado federal para cada estado, ou seja, já nasce como um partido médio. Vamos ter na média de 20 a 30 deputados federais. Na Bahia só haverá essa porta de saída para quem quiser agora, com isso estamos recebendo dezenas de ligações, com perspectiva de quatro a seis deputados estaduais, ou seja, nos colocando entre os três maiores partidos da Assembleia. Em todos os municípios teremos formações e em Salvador quatro a seis vereadores. Já começaremos como um partido de médio a grande porte. É um grande novo que está hoje querendo retomar o governo na Bahia.

Tribuna - Quais os nomes de peso a serem anunciados?
Trindade - Bom, hoje temos deputados e vereadores da capital e do interior em fase de negociação. Cada um pede que não se anuncie o nome para não criar problema nesses últimos dias em seus partidos atuais. Mas, os nomes estão aí já sendo especulados pela imprensa.

Tribuna - Qual será o posicionamento do PROS diante dos governos municipal, estadual e federal?
Trindade - Em nível federal, a partir dessa semana, quando concluir o partido, estaremos conversando com o governo Dilma. Em nível estadual seremos a oposição ao governo estadual, embora seja oposição independente, sem maiores radicalismos. Na capital iremos compor com a bancada do governo ACM Neto.

Tribuna- Existe alguma possibilidade de entendimento com o governo do PT na Bahia?
Trindade - Não. Somos oposição ao governo estadual. Inicialmente, a bancada de deputados que está vindo para cá estava com o governo estadual e não teve seus pleitos atendidos. Ficaram insatisfeitos e com isso estão agora nos procurando, enxergando uma porta de saída.

Tribuna - Como vai conseguir conciliar a presidência do partido e a secretaria?
Trindade - Primeiro que é um partido democrático, sem um dono específico. Vai ser um grupo grande coordenado por todos nós, pelo grupo do prefeito ACM Neto, do ex-governador Paulo Souto, do prefeito José Ronaldo, sendo trabalhado em conjunto.         

Tribuna - Existe algum tipo de pressão interna para que o senhor escolha entre permanecer na Secretaria ou sair para comandar o partido?
Trindade - Não. De forma nenhuma. Primeiro que o partido será administrado em conjunto, com isso não há nenhuma incompatibilidade de tempo, nem de ocupação. Será administrado em cada região da Bahia pelos deputados estaduais do nosso grupo, além de ter uma comissão provisória, então não haverá nenhuma incompatibilidade. Nós, ACM Neto, José Ronaldo, Paulo Souto, formaremos agora uma comissão e determinaremos alguém junto aos deputados para administração do partido.

Tribuna - Há rumores de que o deputado Félix Jr. teria tentado ficar com o comando do partido na Bahia?
Trindade - Não. Desconheço essa informação. Estive com ele em Brasília recentemente, nós conversamos e isso não foi falado. Realmente, ele está sem nenhum problema com o PDT, inclusive levou a irmã para o partido. Ele não falou nada de mudar de partido, nem de tentativa de comandar o PROS.

Tribuna - Qual é o cenário que o senhor pinta para 2014? Quem deverá ser o candidato pelas oposições?
Trindade - Nós vemos hoje que está extremamente rachado o grupo do governo, com vários nomes, sendo uma disputa acirrada, até com certa animosidade. No nosso grupo, graças a Deus, tem vários nomes, mas todos eles bastante inteirados, integrados, coordenados e certamente marcharão sem nenhum atrito. Nós sairemos com uma grande vantagem e as pesquisas hoje demonstram isso, que todos os candidatos do grupo estão melhores do que os candidatos do atual governo do Estado.

Tribuna - Qual o nome da oposição o senhor apostaria para liderar esse processo contra o candidato que representará o governo?
Trindade - O cabeça do nosso grupo é ACM Neto, mas ele já declarou reiteradas vezes que não será candidato. Em todas as pesquisas ele sempre é o primeiro, mas temos outros nomes fortes no grupo. Como ele não será por iniciativa própria, qualquer um terá o apoio do grupo. Temos como nome fortíssimo Geddel Vieira Lima, o prefeito de Feira, José Ronaldo, que é sempre muito querido, bastante cogitado no interior do Estado, o ex-governador Paulo Souto também, é claro. Então são grandes nomes. Temos visto sendo colocado também o nome de José Carlos Aleluia, que é também um grande nome.  As pesquisas mostram que todos têm mais ou menos o mesmo índice.

Tribuna - O senhor acredita que no governo o secretário Rui Costa terá fôlego para chegar à reta final como candidato à sucessão?
Trindade - Eu acredito que ele será o candidato do governo do Estado. As demonstrações no dia a dia convergem para que ele seja o candidato do governador, consequentemente, será pesada a campanha dele, mas até hoje ainda não decolou.  Ele está naquela faixa de 1%, 2%, 3%, enquanto o candidato do grupo ACM Neto está com 40%.

Tribuna - Duas candidaturas no bloco governista, com a postulação da senadora Lídice da Mata, facilitará para a oposição?
Trindade - Se a eleição tiver dois grandes candidatos, será decidida no primeiro turno. Se tiver três grandes candidatos, pois Lídice é um nome forte (hoje a senadora seria a candidata mais forte da oposição, mas que não tem conseguido unir o grupo de oposição), pode ir para o segundo turno.

Tribuna - O que estará sendo colocado em discussão em 2014 é a comparação do modelo de governar do PT e o que a oposição pretende apresentar?
Trindade - Eu acredito que o governo do PT veio como uma esperança para a Bahia, mas passados oito anos, a população não está mais aceitando essa gestão. Não foi compatível com o que a população esperava. As pesquisas são apenas o retrato dessa insatisfação do povo da capital e do interior.

Tribuna - Qual o maior acerto e o maior erro do governo Wagner?
Trindade - O governo Wagner não cumpriu o prometido e esperado, com isso o que vemos hoje na Bahia são obras paradas, a exemplo da Ferrovia Oeste-Leste. Mesmo com a grande perda da Bahia nos últimos anos, os grandes investimentos foram para o Ceará e Pernambuco. A Bahia não ganhou nenhum grande empreendimento. O retrato disso é que os índices econômicos minguaram na Bahia. Hoje há uma falência no Estado, que não consegue nem pagar as contas do funcionalismo, tendo que fazer um contingenciamento gigantesco. As obras estão paralisadas e os empreiteiros sem receber. O ano que vem, com a economia mundial patinando, a tendência é piorar em nível nacional e estadual, tendo impacto eleitoral.

Tribuna - Qual o balanço da administração do prefeito ACM Neto?
Trindade - No início, realmente as pessoas achavam estranho aquele lema de campanha de arrumar a casa, mas percebemos que essa realmente era a atitude a ser tomada pelo prefeito ACM Neto. Era o necessário, pois a casa estava mais bagunçada do que esperávamos e acreditávamos. A situação estava realmente precária em todas as áreas. Hoje nós estamos concluindo essa arrumação da casa, de todas as secretarias e já podemos notar a melhoria da administração na cidade. É natural que as pessoas sempre estejam querendo mais, reclamando, inclusive influenciadas por lideranças da oposição que colocam pessoas nas ruas, geralmente pagas, como se fossem líderes comunitários. Estamos identificando sempre os mesmos grupos, comprados por lideranças da oposição, provocando um maior desgaste que é natural neste início de governo. Mas estamos arrumando a casa, as finanças que encontramos esfaceladas. Vamos fazer, com certeza, um grande governo. Já é visível a melhoria na cidade em todas as áreas, e não tenho dúvida de que daqui a três meses todos verão as iniciativas da prefeitura, tanto na parte de infraestrutura, recapeamento, coleta de lixo, as novas obras, quanto na área social.

Tribuna - O que já foi feito na área social e o que diferencia da gestão João Henrique?
Trindade - Como acabei de dizer, inclusive isso foi detectado pelo governo do Estado, que faz auditoria constantemente, e pelo governo federal, já que a área social está vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Social, absolutamente todos os índices estavam zerados, programas simplesmente não eram desenvolvidos e os que eram não se prestavam conta. Era uma situação extremamente caótica que repercutia na qualidade vida da população de Salvador. Com isso estamos reconstruindo todos os programas que estavam paralisados, no sentindo de você prestar contas, buscar documentações para que o governo federal nos autorize a recomeçar os programas. A gente fez uma série de ações que, com certeza, já estão ajudando a população, e depois de organizadas ajudarão muito mais. Por exemplo, o Bolsa Família, que é o maior programa social do País, nós estamos digitalizando, informatizando todos os CRAS, que são Centros de Referência de Assistência Social, onde era feito tudo na mão, em cadernos de quase 20 páginas, onde havia uma demora gigantesca, pois se digitalizava depois para mandar para a Caixa Econômica Federal em Brasília, sendo uma burocracia enorme. Estamos informatizando todas as nossas unidades e a palavra-chave na nossa secretaria é parceria. Criamos uma série de parceiros para nos ajudar no cadastro do Bolsa Família, da aposentadoria e de todos os benefícios sociais. Quer dizer, além de fazermos isso em nossas unidades, também estamos fazendo em igrejas, ONGs, associações de bairro, ou seja, estamos acelerando esse processo. Além disso, colocamos carros de Bolsa Família móveis, aonde vamos para as comunidades, favelas, onde atendemos as pessoas que têm beneficio e sequer sabiam que tinham, que às vezes é pouco, mas que é o dinheiro que permite colocar o prato de comida na mesa, sendo uma questão de sobrevivência. Outra coisa importante é que criamos a porta de saída do programa de repasse financeiro, como o Bolsa Família, em cima da educação. Nossa capital foi a recordista no Brasil do Pronatec, com 10 mil inscritos com diferenciados cursos e temos agora também o vestibular nos bairros, sendo o chamado vestibular da prefeitura. Estamos fazendo hoje em Sussuarana, Cajazeiras, Castelo Branco, sendo nas unidades do CRAS ou nas unidades parceiras, como as igrejas. É um vestibular simplificado feito em uma hora ou duas e dois dias depois já é encaminhado para as melhores faculdades de Salvador, com cursos de Direito, Psicologia, Administração, ou seja, através da educação estamos mudando a vida de jovens e, consequentemente, de suas famílias. Estamos concluindo a parceria com o INSS para acabar com as filas gigantescas na sede, no Centro da cidade, e fazer o atendimento em nossas unidades parceiras nos bairros. Também fizemos uma parceria grande com a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil para o microcrédito. Por exemplo, a pessoa que quiser montar um salão de beleza no seu bairro, comprar uma simples caixa de picolé e ou comprar computadores para montar uma lan house, através das nossas unidades da prefeitura nós estamos encaminhando como uma porta de saída desses programas para que elas não dependam mais da ajuda financeira do governo.

Tribuna - Em relação ao resgate de pessoas viciadas em drogas, quando começará a acontecer a internação compulsória?
Trindade - Embora o crack não seja direto de nossa área, nós não podemos ficar sem tomar uma atitude. No chamado internamento compulsório, primeiro tem que ter onde internar, e hoje o único local de internamento são os manicômios da cidade e que são unidades estaduais e estão superlotadas. Não adianta organizar internamento se não tem onde internar. Quando houver o internamento compulsório, será feito um trabalho em conjunto, com o envolvimento do Poder Judiciário, sendo acompanhado pela Defensoria Pública, pelo Ministério Público, onde é extremamente necessário que o médico faça o relatório, pede o internamento e o juiz faz avaliação judicial. Não pode ser feito de forma aleatória, se passando numa rua e pegando todo mundo para ser internado. Quando a pessoa não tem mais condição de discernir o que é melhor para ela própria, sendo uma ameaça à saúde e à vida dele próprio e à sociedade, aí, nesse caso, o juiz determina o internamento. As famílias têm procurado as unidades do governo estadual e municipal buscando internamento para usuários e até mesmo usuários querem ser tratados. Pesquisas mostraram agora que pelo menos 80% dos usuários, quando não estão drogados, pedem tratamento. A sociedade, através dos poderes Executivo, Judiciário e do Ministério Público, precisa ajudar a satisfazer o que é pedido do próprio usuário e das famílias.  É necessário, mas infelizmente Salvador e as cidades da Bahia ainda não têm.

Tribuna - O ex-secretário João Carlos Bacelar saiu da prefeitura. O senhor teme ser o próximo alvo da gestão ACM Neto?
Trindade – Nosso governo está assentado na técnica. Enquanto todos nós estivermos lá, estaremos fazendo um trabalho técnico. Nós não fazemos política na prefeitura. Faremos isso quando saírmos da prefeitura. Essa é uma determinação do prefeito ACM Neto e que está sendo cumprida por todos os políticos que hoje estão com qualquer ligação com a prefeitura. É necessário que as pessoas realmente fiscalizem e acompanhem, pois a prefeitura é transparente e se tiver alguém fazendo algo errado precisa ser avaliado. Mas a determinação é de que ninguém faça absolutamente nada errado, nem política na prefeitura. Estamos lá para fazer uma prefeitura diferente e moderna. Estamos realmente pensando na administração da cidade e não em fazermos política.

Colaboraram: Fernanda Chagas e Lilian Machado.