Cidade / DESATIVADO / Entrevistas

Leiloeiro Darke Abreu conta como é possível vencer no ritmo do martelo

Foi ao som do seu martelo que grandes áreas foram comercializadas na Bahia

Se leilão tivesse um sinônimo baiano ele seria Darke de Magalhães Abreu. Seu nome está diretamente ligado ao conceito de vender um produto  pelo melhor preço, ante uma plateia ávida por bons negócios.

E foi ao som do seu martelo que  grandes áreas foram comercializadas na Bahia, apartamentos mudaram de dono, obras valiosas passaram a emoldurar paredes privilegiadas e, mais recentemente, empreendimentos imobiliários do outro lado do Atlântico foram oferecidos aos baianos.

Ele conta nesta entrevista os bastidores de uma profissão exercida por poucos e que ele fez de doutrina.

O sr. é o mais famoso leiloeiro da Bahia. São mais de 30 anos batendo o martelo. O que mudou no segmento durante esse tempo?
Darke Abreu: Na qualidade de Leiloeiro decano, certamente, tornei-me bastante conhecido pelo tempo de experiência no exercício ininterrupto da atividade por mais de quatro décadas, fazendo leilões para diversos segmentos empresariais, financeiros, culturais, artísticos, instituições públicas e privadas, a exemplo da Justiça Federal, Tribunal Regional do Trabalho, Caixa Econômica Federal, Bradesco, Itaú, BMG, seguradoras de grande porte, como a Porto Seguro, Bradesco Seguros e Sul América dentre outras, pude estar na visibilidade positiva pela credibilidade e conduta irretocável, vivenciando sempre várias transformações e modernizações ocorridas nessa profissão.

Os Leilões sempre foram identificados como uma atividade tradicional, desenvolvida desde a antiguidade, para a venda de bens em geral: móveis, obras de arte, antiguidades etc., os quais eram confiados à guarda dos Leiloeiros em suas Agências. Com o tempo a atividade cresceu, tornou-se profissionalizada e regulamentada, ocasionando o crescimento em tamanho e importância dos Leilões Públicos Judiciais e Extrajudiciais.

O que é preciso para se tornar um Leiloeiro?
DA: Dentre os atributos pessoais que considero importantíssimos ao profissional desta área destaco a facilidade de comunicação com o público, a visão de mercado, o carisma, a competência, a seriedade e saber prender e despertar a atenção, a confiança e respeito dos interessados em arrematar lotes, muitas vezes, centenas de concorrentes para um mesmo lote.

Além disso, ter reputação ilibada, ser domiciliado no Estado há mais de 5 anos, ser cidadão brasileiro e estar no gozo dos direitos civis e políticos, ser maior de vinte e cinco anos, ter idoneidade e não estar impedido legalmente de acordo com a Lei 21.981/32 que regulamenta a profissão de Leiloeiro.

Qual o lote mais caro que o sr. já levou a leilão? 
DA: Difícil destacar apenas um lote, pois ao longo dos anos foram vários com valores altíssimos e dos mais representativos. Lembro de um grande prédio de uma importante agência bancária localizada em centro financeiro nobre da Capital, belíssimas propriedades rurais, indústrias,navios, iates, quadros de arte de grande valor como pinturas de Di Cavalcanti, Pancetti, Cicero Dantas, Portinari, Volpi, Picasso, dentre outros.

Cada leilão tem sua história, seu público e seus dramas, muitas vezes. O sr. se recorda de algum momento tenso ou único ocorrido com o martelo na mão?
DA: Lembro-me de um Leilão Judicial no qual vendemos uma grande área. No episódio um dos presentes tentou obstar a realização do ato, motivo pelo qual foi necessário adotar as medidas de segurança cabíveis para que o Leilão transcorresse dentro da normalidade, cumprindo-se a determinação judicial. E quando dois ou mais participantes têm interesse em determinado bem e brigam entre si com propostas irrecusáveis, em um verdadeiro clima de competição, muitas vezes chega até a emocionar o Leiloeiro tamanha a competição. Mas nada que faça com que eu perca o domínio da situação, a serenidade, o equilíbrio emocional e a força inalienável do poder do meu “MARTELO”..

A classe média alta já frequentou os salões de leilão com mais frequência. O que houve para rarear? Ela empobreceu ou já não existem leilões de arte tão atrativos como antes?
DA: O grande sucesso de um Leilão de Arte está na seleção das obras que vão ser leiloadas, as quais devem ter lances iniciais convidativos, pois o intuito de um colecionar em um leilão é adquirir peças com preços abaixo do valor de mercado. A intensa concorrência entre os merchants provavelmente tem influenciado nessa redução dos preços e consequentemente do volume de Leilões de Arte. 

O que o sr. acha dos leilões virtuais? Já aderiu ao modelo? Ele serve para que produto? 
DA: Pela nossa experiência, os leilões virtuais Judiciais e Extrajudiciais têm sido bem aceitos pelo público. Trabalhamos com o sistema Online e os resultados são satisfatórios, sobretudo por permitir uma quebra de fronteiras, já que os leilões possuem transmissão ao vivo e simultânea, permitindo seu acompanhamento pelos interessados, facilitando a participação do público graças a internet.

Recentemente o sr. realizou se não o primeiro um dos primeiros leilões de imóveis internacional na Bahia. Que lhe pareceu a experiência?
DA: Realizamos em Salvador o primeiro Leilão Internacional de imóveis localizados em Portugal. O resultado posso considerar como bom, uma nova experiência, um novo mercado. Fui muito elogiado pela organização, divulgação, a grande repercussão do evento, tanto que já fui sondado para a realização de outros pelo resultado alcançado. A bem da verdade, poderia ter sido mais expressivo em níveis econômico-financeiros se houvesse a possibilidade de financiamento bancário na compra desses imóveis como acontece na venda imóveis em território nacional.

O que os menos experientes, marinheiros de primeira viagem, devem saber antes de levantar o braço e arrematar um lote num leilão?
DA: Os interessados devem tomar conhecimento das condições de venda e do edital que rege o leilão, vistoriar pessoalmente o bem a ser adquirido, seja móvel ou imóvel. Estar sempre atento.

Quanto aos imóveis, o candidato deve tomar ciência de eventuais ônus, buscando todas as informações acerca de débitos tributários e taxas condominiais,o que disponibilizamos com a maior retidão.

Em se tratando de obras de arte, aconselho fazer uma pesquisa de mercado, se possível consultando as galerias e merchants para orientar acerca do preço e vantagens da aquisição. Nessa área, posso mencionar a Galeria Roberto Alban, hoje uma das mais representativas a nível nacional, que reúne vasto e selecionado acervo de obras de arte, além de estrutura excepcional e de padrão internacional. Tem conceito e goza de credibilidade nos meios sociais nacionais e internacionais.

Leilão de automóveis já foi febre. Hoje, ao menos para o leiloeiro parece não entusiasmar tanto. Por que?
DA: De fato os Leilões de automóveis já foram febre, no entanto o mercado sofreu um declínio em razão da proliferação de feiras e revendedores de automóveis usados, além da facilidade de financiamento do carro novo, podendo usar créditos de para pagar em até 60 meses, inclusive com carros OKM custando cerca de R$20.000,00. 

Além disso, algumas dificuldades têm tornado estes leilões menos atrativos, sobretudo o atraso por parte das seguradoras em fornecer a documentação ao arrematante para fins de transmissão de propriedade. Foi criado nacionalmente um banco de dados de veículos sinistrados informados pelas seguradoras, onde ficam registrados todos os sinistros ocorridos. Com este registro, ao fazer consultas, muitas financeiras recusam fazer o financiamento do veículo após ser adquirido no leilão e devidamente reparado. Muitas seguradoras, também, recusam fazer o seguro de um veículo que já foi acidentado, “Perda Total” ou parcial. Com a incidência cada vez maior de roubo de veículos todo proprietário quer o seu carro segurado e essa negatividade é uma ducha-fria,sem dúvidas. 

Já deu vontade, alguma vez, durante um leilão de ao perguntar “quem dá mais”o sr. mesmo dizer: eu. E arrematar o lote por achar uma pechincha?
DA: Não, minha formação ética, moral e profissional jamais permitiria que me aproveitasse de minha posição para auferir vantagem pessoal, o que considero moralmente reprovável.Jamais passou pela minha cabeça este pensamento,o que sem dúvidas, resultaria na minha desmoralização profissional, no meu descrédito perante meus clientes tradicionais, as instituições que me confiam patrimônios de milhões de reais e seria uma violação ao meu caráter e uma agressão estúpida a minha personalidade. Ninguém consegue se manter inatacável ao longo de mais de 40 (quarenta anos) nesta atividade de Leiloeiro Oficial se fizer bobagens e não proceder com a maior transparência, seriedade,objetividade e isenção quando estive com o MARTELO NA MÃO.

Lembro-me de um grande leilão realizado no Parque de Exposições do Estado, quando mais de 1.500 veículos de várias marcas foram colocados à venda, muitos em excelente estado de conservação. Alguns “amigos” presentes ao terem conhecimento através da imprensa do mega-leilão, me procuraram para pedir a preferência por este ou aquele determinado lote. De imediato a minha posição era NÃO,mesmo que viesse perder o bom relacionamento com aquele “conhecido”, pois os verdadeiros amigos que conhecem a minha conduta profissional não ousariam pedir facilidades, tamanha aberração.

Finalizando gostaria de registrar que leiloar bens móveis e imóveis de qualquer natureza,ainda é um grande negócio para o proprietário pela liquidez imediata, pois os pagamentos são feito no ato da compra e para o adquirente que compra um bem abaixo do valor de mercado.