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Medrado acha que Rui Costa será candidato de Wagner à sucessão

Deputado federal Marcos Medrado é o típico político que evita desgastes

Foto: Mateus Pereira/GOVBA
Deputado federal Marcos Medrado

Experiente, o deputado federal Marcos Medrado é o típico político que evita desgastes. Apesar de ter uma posição muito firme com relação ao seu nome predileto à candidatura ao governo da Bahia em 2014, o secretário da Casa Civil, Rui Costa, ele prefere reiterar a responsabilidade de escolher a chapa ao governador Jaques Wagner. Segundo ele, no entanto, “não é o estilo dele” impor qualquer nome.  “Acho que é difícil você dizer que Wagner fez alguma coisa por imposição”, assegurou o parlamentar.

Medrado, todavia, acredita que já existe uma escolha. “O nome mais forte, eu não sei. Não tenho feito pesquisas, mas o nome que deve disputar o governo, na minha opinião, é o secretário da Casa Civil, Rui Costa”, avalia.

Ainda como filiado ao PDT, o deputado federal não esconde as insatisfações com a legenda, o que explica a não defesa do correligionário Marcelo Nilo. “O PDT todo mundo sabe que eu tenho discussões, não sou uma pessoa muito afinada com a cúpula do partido na Bahia. A alternativa que tem é que vou deixar o PDT até setembro. É uma coisa definida”, garantiu.

Em entrevista à Tribuna, o parlamentar anunciou que retorna como deputado estadual em 2014 e também seu sucessor na política, nas eleições de 2018. “Eu não volto para Brasília”, frisou.

Tribuna – Deputado, como o senhor viu as manifestações que tomaram conta do país no mês de junho – e ainda tem alguns focos? Os políticos mudarão a forma de fazer política a partir dessa pressão da população?
Marcos Medrado
– O político que tiver raciocínio tem que mudar. Por quê? Eu nunca vi um movimento de rua com tanta autoridade, com tanto respeito quanto esse. Não tinha liderança política, não tinha bandeira da CUT, não tinha bandeira de nenhuma entidade sindical. Foi o povo que se manifestou, jovens, adultos, as pessoas da minha idade estiveram nas ruas. Eu acho que dali pra cá o Brasil aprendeu que tem que mudar ou então mudarão com os políticos.

Tribuna – O povo quer uma reforma política ou uma reforma dos políticos?
Medrado
– O povo quer um hospital padrão Fifa, o povo quer uma segurança pública padrão Fifa, o povo quer mudanças mais contundentes para beneficiar a população, principalmente os mais carentes. Agora, não sei se era a hora de a presidenta Dilma (Rousseff) fazer um plebiscito. Porque o povo já disse o que quer. É mudar o que as ruas pediram. Ela tentou mudar e vai ter que recuar. O povo está pedindo melhorias e disse onde é. Saúde, educação, segurança, um melhor serviço público, carga tributária menor, é isso que o povo brasileiro quer e deve ter.

Tribuna – Qual o formato ideal que o senhor considera para o sistema político? Do que o senhor tem visto e conversado lá em Brasília, inclusive?
Medrado
– Olha, se comenta sobre tudo, mas mudanças eu acho que não haverá para essa eleição. Vamos ter que conviver com isso mesmo. Eu acho que o voto em lista favorece muito a questão dos partidos. Vou dar um exemplo. Eu, sou do PDT da Bahia, não me dou bem com a direção do PDT aqui na Bahia. Um voto em lista, eu perco a eleição, porque a direção me bota onde quiser. Enquanto não tiver partidos consolidados, fortes, essa questão da mudança, do voto em lista, voto misto, fica difícil.

Tribuna – Essa queda da popularidade da presidente Dilma vai dificultar a reeleição dela? Ainda mais se levarmos em consideração que a situação financeira do país tende a complicar, a inflação aumentar e a população ser impactada diretamente...
Medrado
– Olha, a inflação aumentando, a carga tributária não reduzindo, significa que pode piorar. Tem uma medida da presidente Dilma agora, que é essa questão dos médicos, muito discutida, que eu acho que vai melhorar muito a performance dela no futuro. Todos os municípios vão ter um médico, ganhando R$ 10 mil por mês, com infraestrutura, isso vai melhorar muito. Não a curto prazo, mas quando isso começar, eu acho que ela melhora e pode estabilizar e crescer um pouco ainda.

Tribuna - Com a queda do governador Jaques Wagner e da própria presidente Dilma, o PT vai ter condições de impor um candidato ano que vem aqui na Bahia?
Medrado
– Eu acho que o governador Wagner, se ele caiu nas pesquisas, foi em função do governo nacional. Porque o desempenho dele, em pesquisas mais recentes, no interior, não caiu tanto assim. Tanto é que ele aparece nessa listagem de governadores que menos caíram. Caíram, mas não foi tanto. Eu acho que pode influenciar se a presidenta Dilma continuar caindo, eu acho pode influenciar. Não acredito que a presidente Dilma caia mais do que já caiu. Como está aí o quadro, ela ainda tem influência na Bahia para Wagner eleger o sucessor.

Tribuna – Existem muitos partidos, muitos políticos da base aliada que não escondem o descontentamento com o PT. Como o senhor vê esse momento de atrito entre o PT e os aliados?
Medrado
– É disputa política. Todo mundo discute, mas todo mundo quer participar da chapa. Os aliados estão discutindo espaços na chapa do governo. Não acho que haja assim um desentendimento. Existe a vontade dos partidos de ocupar espaço na chapa que será lançada pelo governador Jaques Wagner.

Tribuna – Qual o nome mais forte da base do governador que pode garantir a continuação do projeto no poder?
Medrado
– O nome mais forte, eu não sei. Não tenho feito pesquisas, mas o nome que deve disputar o governo, na minha opinião, é o secretário da Casa Civil, Rui Costa.

Tribuna – O senhor acha que ele vai conseguir agregar os partidos da própria base? Já existe um sinal de rebeldia, de não aceitar essa imposição do governador?
Medrado
– Primeiro que por imposição o governador não faz nada. Acho que é difícil você dizer que Wagner fez alguma coisa por imposição. Não é o estilo dele. Ele também não vai impor nada. Agora, eu acho que as pessoas criticam muito o candidato Rui Costa que não conhecem. Eu digo assim: eu tive alguns amigos meus, que eu disse que o candidato poderia ser Rui Costa, que disseram: “ele não atende o telefone”. E depois eu levei para conversar com Rui e a pessoa saiu fechada com ele. Rui, pelo menos, é uma pessoa que cumpre os acordos, cumpre o compromisso. É sério, não brinca, não dá risada. É o que ele precisa mudar um pouquinho. Mas quando você senta com ele para conversar, sai apaixonado.

Tribuna – Até quando o PDT vai esperar por uma definição de Marcelo Nilo sobre uma candidatura própria ou não?
Medrado
– O PDT todo mundo sabe que eu tenho discussões, não sou uma pessoa muito afinada com a cúpula do partido na Bahia. Então, essas questões de decisões do PDT acho que têm que ser respondidas pelo presidente do partido.

Tribuna – Então existe alguma possibilidade de o senhor deixar o partido?
Medrado
– Totalmente. Eu tenho trabalhado, ajudando Paulinho da Força e alguns amigos na fundação do Partido Solidariedade, que deve ser com outro nome. Estamos legalizando esse partido e, com certeza, concluindo essa etapa, nós deixaríamos o PDT.

Tribuna – Existe a possibilidade de esse partido vingar já para 2013?
Medrado
– Essa certeza eu não tenho. Tem algumas alternativas de fusões. A única certeza que tenho é que vou deixar o PDT até setembro. É uma coisa definida. Mas, vou trabalhar para consolidar o Solidariedade, que é uma coisa que já está acertada, com todos os parlamentares que vêm. Eu vou trabalhar muito nesse sentido.

Tribuna – O senhor vai para a reeleição? Como está a avaliação do senhor sobre o seu mandato e se tem expectativa e plano de continuar em Brasília?
Medrado
– Não. Eu não volto para Brasília porque eu já tenho 64 anos, saio desse mandato com 66. As viagens de avião, pra lá e pra cá, meus negócios na Bahia impedem muito. Eu vou voltar a ser o que era. Sonhar com Salvador e pensar num mandato de deputado estadual.

Tribuna – O senhor volta suas atenções para o cenário municipal em projetos futuros?
Medrado
– Eu sempre pensei em vida política voltada para Salvador. Eu tenho uma base no interior, que a cada dia se consolida, mas eu trabalho muito mais em Salvador. Claro que estando aqui eu vou trabalhar muito e, quem sabe, continuar pensando. Além de tudo isso, eu acredito que Salvador precisa de um deputado estadual que legisle a favor de Salvador. E para fazer isso, tem que conhecer. Eu acho que ninguém conhece mais do que eu a cidade de Salvador. Quero ser um deputado na Assembleia para trabalhar também para a cidade de Salvador.

Tribuna – O senhor falou hoje em seu programa (de rádio) que existiam mafiosos na história do metrô de Salvador. Como é que o senhor avalia essa dificuldade de o metrô se tornar realidade, deputado?
Medrado
– Eu falo isso e com uma certa competência, porque quando começou o metrô eu era secretário de Transportes e não respondo a nenhum processo e não respondo em coisa alguma. Mas há boatos e rumores. Quando eu digo que há mafiosos, não sou eu. É o Tribunal de Contas e a Justiça que têm aí sinalizado os desvios de dinheiro público. Alguém me falou que deveria passar uma esponja nisso e o governo tocar. Eu acho que não deve passar esponja. Todas as irregularidades devem ser apuradas e daí pra frente o secretário Carlos Martins (superintendente da CTS) tocar isso com lisura, que é o que ele faz sempre na vida.

Tribuna – De onde partiram esses mafiosos, do governo de (Antonio) Imbassahy ou da gestão João Henrique?
Medrado
– Se você ler o que acusa o Tribunal de Contas, você vê que tem nas gestões passadas.

Tribuna – Como o senhor avalia o governo ACM Neto? Um começo de governo tímido, ainda diante da expectativa que a cidade criou?
Medrado
– Ele sabia. Eu passei ali oito anos como vice-prefeito, não fui prefeito, mas você sabe o que passa nas finanças, como é difícil governar Salvador. Em sete meses de governo Neto, ele está fazendo economias, arrumando a casa. Eu não tenho conversado com ele sobre isso, mas eu acho que ele está arrumando a casa para começar a trabalhar. Acho que Neto poderá fazer uma coisa boa na cidade só a partir de 2014.

Tribuna – O senhor acha que ele vai conseguir destravar esse impasse com o Judiciário sobre a Lei de Ordenamento do Uso e da Ocupação do Solo (Louos) e do PDDU (Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano)?
Medrado
– Ele tem tido um relacionamento muito bom com a Câmara e é muito bem articulado em Brasília. Se o prefeito não conseguir, fica difícil. Além disso, ele conta sempre com a parceria do governador Wagner. Wagner tem ajudado e diz que vai continuar ajudando o prefeito ACM Neto.

Tribuna – Como é que o senhor avalia o governo Jaques Wagner? Qual o maior acerto e o que é que tem que acontecer até o final do governo?
Medrado
– Eu acho que tem muitos acertos e pouca divulgação. Na área de saúde, por exemplo, construiu muito hospital. Hospital do Subúrbio, de Feira de Santana, de Santo Antonio de Jesus, a Via Expressa. Agora o que pega: tem grandes realizações, e se o povo tomar conhecimento do que o governador Wagner fez, muda de opinião. Eu acho que o governo precisa concluir algumas obras que começaram. É uma bobagem. Que começa e não termina. E termina os secretários prejudicando o governador.

Tribuna – O senhor acha que isso vai ser colocado em discussão na eleição? Essa dificuldade de mostrar alta capacidade de gestão no governo?
Medrado
– Eu acho que o governo precisa ter mais capacidade de mostrar essa prioridade na gestão, de mostrar esse empenho administrativo. Mostrar a lisura do governo, aí o povo vai entender e separar uma coisa da outra.

Tribuna – O senhor acredita que a oposição vai conseguir se unir?
Medrado
– Alguém já disse que a oposição só se reúne em cemitério. Eu não sei quem foi que disse isso, mas eu acredito que possa haver união. É um momento oportuno, a queda da popularidade da presidenta Dilma, a inflação, essas coisas todas aí. Eles vão aproveitar essa oportunidade e eu vou continuar acreditando na consolidação na continuidade do governo de Wagner.

Tribuna – O senhor acredita que o nome que pode colocar mais risco para o projeto do PT é o do governador Paulo Souto ou do ministro Geddel Vieira Lima?
Medrado
– Nem um, nem outro. Acho que quem colocaria mais risco é o próprio Neto ser candidato. Esse era um páreo pesado. Os outros eu não vejo como risco para uma candidatura montada com a base aliada do governador unida.

Tribuna – Qual a candidatura, qual a chapa que o senhor vê hoje da composição da base do governador?
Medrado
– Dentro da base aliada, sairá o nome. O governador não falou, tem se conversado muito, mas não é hora de estar revelando essas coisas, senão atrapalha as negociações do governador. Mas eu acho que o governador pensa muito, o secretário Rui Costa é muito cuidadoso. Primeiro, dentro do PT. Depois com a base aliada. Depois com quem quiser vir mais.

Tribuna – O senhor acredita que corre risco de algum aliado se lançar na disputa? Já que o PT ainda tem quatro candidatos a praticamente um ano da eleição?
Medrado
– Não houve convenção, não houve disputa. Pré-candidatos tivessem quatro, cinco ou seis, significa que o governo está forte. Quanto mais candidatos da base do governo, significa que todo mundo quer ser candidato do governo. Mas o governador tem tempo, ele vai escolher a chapa dentro da base aliada.

Tribuna – Para finalizar, já que o senhor vem para deputado estadual, houve a especulação de que o seu filho, Diogo Medrado, sairia para deputado federal. Existe alguma possibilidade de haver uma dobradinha de vocês?
Medrado
– Pensamos nisso, chegamos a um entendimento e depois eu pensei que essa candidatura de Diogo poderia atrapalhar as minhas coligações em Salvador. Eu quero ser um deputado bem votado em Salvador e isso poderia atrapalhar. Então fica mais fácil Diogo ser meu sucessor na próxima eleição.

Colaboraram: Fernanda Chagas e Fernando Duarte