Todo Mundo, Alguém ou Qualquer Um pretendente a escrever a História(com agá) da Bahia, nos últimos quarenta anos, inevitável falar, bem ou mal, de ACÊEME. Políticos todos nós somos. Ao levantar da cama com o seu príncipe ou princesa com sorte, botar o pé no chão, o homem ou a mulher, já está fazendo política. Aquela da sobrevivência, do bom conviver, do salutar diálogo.
Discutido, polêmico, astucioso, inteligente, ACÊEME iniludivelmente foi. Desde o Campo da Pólvora e Rua do Alvo, Ladeira da Independência ou Casa da Mangueira, hoje Sindipetro. Pouco interessa o decoro regimental ou os excessos e exageros nas discussões mesquinhas, tidas ao longo da atribulada existência. Não teve culpa por ter possuído bons mestres e deles ser aluno atencioso, pinçando-lhes os ensinamentos lucrativos da política partidária. Balbino, Juracy, Ruy Santos, Memeu, Santos Cruz... Afora o temperamento forte.
Deixemos os entretantos, vamos aos finalmentes e segue a lenda. O retorno dos parlamentares, no exercício, em Brasília, ocorria às quintas-feiras, voo das 17 horas, TRANSBRASIL. Era o popular e conhecido “Grande esperança dos suplentes”...
Voltávamos nele, lotadíssimo. O pranteado Senador, Ministro, sentava-se sempre na fila primeira, lado direito da aeronave, atrás do biombo divisor da cabine, ocupando três poltronas. No ar, convocava um ou outro para decisões e conversas. Sozinho, às vezes, ficava perdido, olhando o horizonte alguns minutos. Bebia água mineral, inaceitava lanches, nunca tirava o paletó.
Numa dessas, olha entre as cadeiras. Após a sua, na mesma fila, Eraldo Tinoco junto à janela, Nestor Duarte Neto no corredor. Meio dos assentos, ouve-se a voz do homem, dirigida ao Deputado Nestor: “Defunto lavado, defunto lavado”. Nestorzinho, filho do Professor Marcelo, neto do Nestorzão, levanta-se e responde aos berros: “Na Bahia lhe conhecem como rato grisalho Sêo efedapê!”. Acode a turma do aquieta, acomoda, pega daqui, estica pra lá, Ruy Bacelar, Penedo, Wilson Falcão, Fernando Wilson.
Neto furioso. “Apertem os cintos, sentem-se, o avião está numa área de enorme turbulência”, gritam os alto-falantes. Imaginava: “Vai cair, esta porra vai cair”. Ojeriza às humilhações, Nestor Duarte protegia fracos e oprimidos. Chegou a envolver-se numa briga séria, na Barra, em defesa de Luiz Pedro Irujo. Ignoro se continua assim, pois, a partir da tumultuada atuação na Prefeitura, perdemos, infelizmente, a sintonia e os contatos. Relevância, teve, induvidosamente, na minha volta definitiva, quando renunciei ao mandato. O chamava “Moqueca de Ossos”, magro, porém rijo. Pernas longas.
Também magro e alto, colunista em Brasília, de jornal baiano, vivia plantando notinhas venenosas sobre Nestor. Avisei: “Vaisefú”. Deu outra??? Gabinete do Doutor Ulysses, Presidente da Constituinte. Ouvimos os gritos: “Uai, uai – socorro”. O indigitado jornalista invadira a sala berrando. Nestor o perseguindo, sapato mocassim italiano, bico fino, na mão, tome-lhe porradas e sapatadas. Ulysses sem perder a fleugma: “Deputado, cuidado com os sapatos. São caros...”.