Debelar as chamas, uma luta contra o tempo e as circunstâncias. Mais um incêndio assustou a população e revelou a falta de estrutura da capital no combate ao fogo. Na madrugada de ontem, um incêndio ocorrido na garagem do Edifício Vivenda dos Barris, localizado na Praça Rockfeller, no bairro dos Barris, deixou seis carros destruídos e três danificados. O fogo começou num Corsa branco e se alastrou por quase toda a garagem do edifício, que possui 38 apartamentos, 19 andares e 45 carros em dois níveis de garagem. O Corpo de Bombeiros foi acionado e teve sua ação restrita às reais condições de combate às chamas. Em cerca de duas horas, driblando a falta de equipamentos adequados, o fogo foi controlado e não houve feridos.
A área da garagem do prédio atingida pelo incêndio ficou totalmente destruída. As paredes e o teto apresentaram rachaduras. A tubulação de água foi derretida e parte do teto despencou. Os proprietários dos veículos observavam os danos e, enquanto aguardavam os peritos do Departamento de Polícia Técnica, contaram que ouviram seguidas explosões.
Segundo relatos de moradores, em poucos minutos, o fogo tomou conta do local, deixando as escadas de emergência e grande parte dos andares tomados pela fumaça preta. “Estávamos dormindo quando o vigia nos alertou sobre o fogo. Imediatamente, todos desceram para tentar recuperar os carros, mas nem todos conseguiram por causa da fumaça”, contou a síndica do prédio, Danúzia Moreira Melo.
Alguns moradores inalaram fumaças e uma viatura do Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) foi acionada. Um casal de idosos, morador do 11º andar, teve que ser acalmado antes de deixar a residência. Somente o laudo do DPT indicará o motivo do incêndio, mas o proprietário do Corsa, Eduardo Melo, desconfia que o alarme do veículo causou o incidente.
“Além do alarme, eu não deixei nada ligado no carro. Agora perdi tudo, até meus documentos pessoais estavam lá dentro”, lamentou o autônomo. Os carros danificados foram dois do modelo Corsa, uma SD10, um Focus, Siena, Gol, Celta, Classique, e um Corvete. Todos os veículos tinham seguros.
Sem equipamentos, bombeiros resistem
Problemas de localização e falta de equipamentos do Corpo de Bombeiros foram evidenciados pelos moradores do prédio. “É importante ressaltar que tivemos sorte por isso ter acontecido na madrugada, pois se fosse durante o dia, a quantidade de veículos que toma conta das calçadas teria impedido o acesso do caminhão dos bombeiros”, contou o morador Marcelo Lacerda.
Moradores informaram que o Corpo de Bombeiros foi acionado assim que o incêndio foi percebido. No entanto, a brigada de incêndio só chegou por volta das 4 horas, com uma viatura e cinco agentes para atender um incêndio de grande proporção. “Eles tiveram boa vontade de trabalhar, mas não possuíam equipamentos básicos para a segurança no trabalho, como máscaras de proteção, luvas, escadas e até mesmo água”, relatou o morador Pedro Dultra.
Outros moradores também contaram que os bombeiros chegaram ao local e cogitaram até acionar reforço de Simões Filho, caso o fogo aumentasse, já que eles mesmos admitiam a incapacidade no combate às chamas. Entrar na garagem com a quantidade de fumaça era quase uma missão impossível, já que não havia equipamento suficiente de segurança e a quantidade de água também era limitada. “A cidade precisa de um plano de emergência e os bombeiros precisam ter poder de intervir em construções, caso não tenham padrões mínimos de segurança. Além disso, não temos condição de trabalho para enfrentar grandes incêndios sem recorrer ao reforço de Simões Filho”, contou um agente, que não quis se identificar.
Más condições de trabalho no Corpo de Bombeiros foram notórias também durante o incêndio ocorrido no início deste mês, no supermercado Minipreço, na Rua Jânio Quadros, em Amaralina. Nem todos os bombeiros possuíam máscaras de oxigênio, luvas ou capacetes para enfrentar o trabalho que durou mais de 72 horas. Por diversas vezes, faltou água e o caminhão-pipa teve que ser acionado, assim como aconteceu ontem. E mais um agravante, na Praça Rockfeller não havia hidrômetro para suprir a necessidade dos bombeiros.