?Olha o baleiro chegando! Bom dia motô!. Bom dia pessoal! Desculpa interromper o silêncio da viagem de vocês! Olha pessoal, eu tenho as refrescantes pastilhas de hortelã, a goma de eucalipto medicinal. Na concorrência tá por R$ 0,50 na minha mão tá por R$ 0,30, pessoal?. Com frases como essas, já muito conhecidas pelos usuários de transportes coletivos da cidade ? os famosos buzús -, alguns baleiros chegam a faturar R$ 600 por mês.
Quem pensa que o trabalho informal é praticado só por adultos está equivocado. Jovens e idosos utilizam o mecanismo para garantir ?uma renda?. Carlos, 13 anos, após sair da escola passa em casa, troca de roupa e vai para o ponto de ônibus com uma caixa de drop?s. ?Lá em casa minha mãe e meus irmãos trabalham. Sempre que eu precisava de um calçado ou roupa tinha que pedir dinheiro para eles, só que eles ganham pouco. Então resolvi começar a vender no ônibus, e assim juntar dinheiro para comprar minhas coisas. Todo dia eu acordo cedo, me arrumo e vou para escola. Quando a aula acaba, vou direto para casa, troco de roupa e venho para o ponto de ônibus vender. Não largo a escola por nada, pois quero cursar faculdade e ser um grande empresário?.
Apesar dos 60 anos, José Carlos Barbosa continua trabalhando como vendedor. ?Eu sou do tempo em que baleiro tinha farda, cesta de vime pendurado no braço e, vendiam dentro dos cinemas. Naquele tempo nós éramos bem respeitados, e ajudávamos nossas famílias com o dinheiro das vendas das guloseimas. Hoje, não somos tão respeitados como antes, mas ainda temos benefícios: faturamos um bom dinheiro, fazemos nosso próprio horário, não recebemos ordem de nenhum patrão, criamos nossas próprias estratégias de marketing, e não temos problemas com assaltos. Por causa disto, baleiro que é baleiro não abandona a profissão?.
Promoção é a palavra-chave para vendas
Com um tabuleiro improvisado com caixas de papelão e um balde transparente ? para que os seus produtos sejam visualizados como numa vitrine, Márcio da Silva vive do emprego informal há 5 anos. Ele relatou que para vender as suas mercadorias usa de algumas ?artimanhas?. ?Primeiro saúdo o motorista, depois falo com os passageiros e faço a propaganda dos meus produtos. Na hora de vender nós usamos várias técnicas, a exemplo, de indicações farmacêuticas, características do produto e fabricante. No entanto, para termos sucesso com as vendas usamos a palavra-chave ?promoção??.
Os baleiros tornam a viagem de muita gente estressada, agradável. Juliana Souza trabalha como recepcionista em uma clínica e utiliza o ?buzú? para ir ao trabalho, no Stiep. ?Gosto muito do jeito como os vendedores se expressam. Acho que eles são bem criativos. Quer dizer, nem todos. Alguns só falam: ?Baleiro, baleiro, baleiro,...?. Outros falam da situação social: ?Eu sou um pai de família, tô desempregado,...?. Mas tem um vendedor que eu me divirto muito. Ele sempre pega o ônibus aqui na região da avenida ACM, e oferece o produto dele cantando. É ?irado??.
Bárbara Pereira, estudante de Comunicação Social, utiliza o transporte público diariamente para ir à faculdade, na Federação. Assim como ela, a estudante de Administração, da Faculdade Vasco da Gama, Ana Paula, utiliza todo dia esse meio de transporte. Ela observa que alguns baleiros incomodam, pois ela vai muito cedo para a faculdade. ?O que eu mais encontro no ônibus são baleiros. Eu tampo os ouvidos e vou dormindo. Eles me estressam. Alguns falam errado, acho que é para nos comover e podermos comprar. Porém, têm outros que falam de forma sofisticada, o que para mim demonstra zelo. Acabo comprando algumas balas. Fico com dor na consciência e compro para ajudar?.
Desde o ano de 2005, coletes e crachás com fotos fazem parte da rotina dos baleiros de Salvador. A iniciativa é uma parceria da Superintendência de Transporte Público (STP) e a Unibal.