Cidade

Dominó, o ?vício? do fim de semana

Basta um pedaço de tábua, engradados de cerveja, troncos de árvore ou qualquer objeto que lembre um banco e, o mais importante, as 28 peças do dominó. Combinação perfeita para esquecer as horas e não ver o tempo passar, deixar os problemas de lado e ainda exercitar o raciocínio lógico, segundo afirmam os amantes do jogo milenar, que teria nascido na China, graças a um santo soldado chinês chamado Hung Ming. O nome, conforme alguns estudos, deriva da expressão latina ?domino gratias?, que significa ?graças ao Senhor?, uma expressão comum entre os padres europeus para assinalar a vitória em uma partida. Estas e outras curiosidades são do conhecimento de poucos, mas, basta um rápido passeio pela cidade para comprovar, que o dominó é paixão entre os soteropolitanos.

Domingo é dia de praia, cerveja gelada, churrasco, feijoada, ?mas, não pode faltar o dominó?, lembra o funcionário público Juarez da Silva Nery, 43 anos, que não deixa de reunir os amigos, no final de semana, para colocar o papo em dia e, claro, jogar dominó.

?Se deixar, ele esquece da vida, a gente tem que lembrar que horas são é que o dia seguinte é segunda-feira, portanto, todos, inclusive ele, acordam cedo para trabalhar?, conta a esposa Ana Amélia Oliveira Silva, 39, que confessa se irritar, em alguns momentos, com o que chama de ?vício?.

Quem curte garante que o hábito de jogar em nada lembra um vício. ?Vício é algo ruim, que leva você a esquecer todas as outras coisas, eu não faço isso, apenas gosto de jogar, é minha distração no fim de semana?, diz Oliveira. O aposentado Ruben Vieira, 65, é apontado pelos colegas de jogo, como o melhor da mesa. ?Ele derruba todos?, destaca o taxista Abelardo Cardoso, 59, enquanto o elogiado demonstra falsa modéstia. ?Não sou nada, jogo como todos aqui?, dizia, desconcertado, ele que vem de Brotas para jogar, todos os sábados e domingos, na Praça Almeida Couto, em Nazaré. A cena já se repete há mais de 10 anos. Um grupo de taxistas aproveita o tempo vago, em um lugar estratégico da Praça, sob a sombra de uma amendoeira, em frente a um poste, ao lado do Hospital Santa Izabel. ?Chegamos aqui umas 7 horas e só saímos à noite, sentamos aqui para aproveitar a luz do poste?, conta Vieira, que só deixa o local, por alguns minutos, ao meio dia, para almoçar. ?Vou e volto?.

?Lasquinê (bater com uma peça que vale para as duas pontas do jogo), buchada (bater com uma bucha), chico-romelo (perder com as sete pedras nas mãos), dar passe (jogar a pedra que o adversário não tem)?, são algumas das palavras do ?vocabulário dominês?, totalmente incompreensível a um leigo. ?Três batidas vale uma peça, um batida de lasquinê vale uma peça e quem completar duas peças ganha o jogo? explica um dos jogadores.

O jogo aparentemente se resume ao simples encaixe de pedras, mas, não é bem assim. ?Temos que tentar, através da contagem, descobrir quais peças estão nas mãos do adversário, para fazê-lo passar, jogando justamente a que ele não tem?, explica o motorista Genildo de Assis, 35.

Tradicionalmente as peças são feitas de marfim, osso ou madeiras escuras, como ébano, com os pontos marcados em cores contrastantes.

Hoje o dominó é facilmente encontrado em uma diversidade de materiais que vão desde versões semi-descartáveis, em papel, a modelos de luxo em pedras como mármore, granito, pedra-sabão, metais diversos e plásticos variados. São comuns também pontos de cores diferentes associadas ao número representado, ou ainda a substituição dos pontos por imagens.