
O Dia de Santa Bárbara, celebrado em 4 de dezembro, leva milhares de pessoas no Centro Histórico de Salvador, dando início ao ciclo das festas populares de verão na Bahia. A comemoração une devoção católica e culto afro-brasileiro, destacando o sincretismo religioso que marca a identidade cultural do estado.
A santa católica, mártir do século III, advogada dos arquitetos, dos pedreiros, dos prisioneiros e dos bombeiro, protetora contra raios, trovões, tempestades e mortes repentinas é tradicionalmente associada no candomblé à orixá Iansã, divindade dos ventos, trovões e tempestades. Essa ligação entre as duas figuras religiosas transformou a festa em um dos eventos mais representativos da convivência entre as tradições cristã e africana na Bahia.
As comemorações começam com uma missa na Igreja do Rosário dos Pretos, localizada no Pelourinho. Após a celebração, a imagem de Santa Bárbara seguiu em procissão pelas ruas do Centro Histórico, acompanhada por fiéis vestidos de vermelho e branco, cores que representam tanto a santa quanto a orixá Iansã.
Ao fim do cortejo, os participantes se dirigiram ao quartel do Corpo de Bombeiros, no bairro do Comércio, onde a corporação prestou homenagens à sua padroeira. Lá, foram distribuídos carurus e comidas típicas, tradição que acompanha a festa ao longo das décadas.
Símbolo de fé e resistência cultural
A devoção a Santa Bárbara na Bahia ultrapassa fronteiras religiosas. A celebração atrai católicos, praticantes do candomblé, turistas e curiosos. Para os devotos, a santa representa proteção contra raios, tempestades e o fogo -- por isso também é invocada por profissionais como bombeiros, eletricistas e mineradores.
Ao longo dos séculos, a festa também se tornou um símbolo de resistência cultural e religiosa das populações negras, que utilizavam as imagens católicas para preservar seus cultos de origem africana durante o período colonial e imperial, quando a prática das religiões afro-brasileiras era proibida ou marginalizada.
Santa Bárbara e Iansã: fé que move multidões
De acordo com a tradição cristã, Santa Bárbara viveu no século III, na Nicomédia, atual Turquia. Foi morta pelo pai após se converter ao cristianismo. Acredita-se que, após sua morte, um raio o atingiu, o que associou a santa aos fenômenos naturais.
Já Iansã, no candomblé, é um orixá feminino ligado à tempestade, ao raio e ao fogo. É considerada uma guerreira, dona dos ventos, e tem forte presença nos rituais dos terreiros. No sincretismo religioso, a figura de Santa Bárbara passou a representar Iansã, permitindo que a religiosidade africana sobrevivesse sob a aparência de devoção católica.
O Dia de Santa Bárbara é reconhecido como patrimônio imaterial da Bahia, dada sua importância histórica, religiosa e cultural. A festa movimenta também a economia local, com grande circulação de pessoas nos bares, restaurantes, lojas e espaços culturais da região do Pelourinho.
Além da parte religiosa, a data inclui apresentações culturais, como grupos de afoxé, rodas de capoeira, e manifestações da cultura popular baiana. As homenagens atraem não apenas fiéis, mas também estudiosos da cultura afro-brasileira e turistas de todo o Brasil e do exterior.
Oração para Santa Bárbara
Ó Santa Bárbara, que sois mais forte que as torres das fortalezas e a violência dos furacões, fazei que os raios não me atinjam, os trovões não me assustem e o troar dos canhões não me abalem a coragem e a bravura.
Ficai sempre ao meu lado para que eu possa enfrentar, de fronte erguida e rosto sereno, todas as tempestades e batalhas da minha vida para que, vencedor de todas as lutas, com a consciência do dever cumprido, possa agradecer à Deus, criador do céu, da terra e da natureza, e que tem poder de dominar o furor das tempestades e abrandar a crueldade das guerras.

