Alberto Oliveira

Por que é ilusória uma paz baseada em promessas feitas por terroristas

O silêncio de ativistas sobre os sequestros cometidos pelo Hamas revela a face seletiva da indignação -- e o uso político da dor

A libertação de reféns israelenses após meses de cativeiro nas mãos dos terroristas do Hamas é um sopro de humanidade em meio à devastação. Muitos, no entanto, não voltaram. Foram assassinados, morreram por negligência ou simplesmente desapareceram.

Enquanto o mundo assiste ao reencontro entre famílias e sobreviventes, uma pergunta incômoda se impõe: onde estavam os defensores dos direitos humanos quando esses civis foram arrastados para os túneis de Gaza?

Boa parte da militância internacional -- especialmente aquela mais barulhenta em universidades e redes sociais -- preferiu ignorar os crimes do Hamas. Pior: alguns os justificaram. O sequestro de bebês, idosos e civis comuns foi relativizado como “resistência legítima”. A violência foi romantizada. O terror, travestido de causa.

Não se trata de negar o sofrimento palestino, nem de endossar ações do governo israelense que merecem críticas. Trata-se de algo mais fundamental: o valor universal da vida humana. E a recusa em reconhecê-lo, apenas porque a vítima não se encaixa na sua narrativa, é o que há de mais hipócrita no debate público contemporâneo.

Um exemplo cristalino dessa distorção moral está no uso do slogan: “Do rio ao mar, a Palestina será livre.” Popularizado em protestos e redes, esse bordão não é uma metáfora de justiça -- é uma declaração de guerra. Apaga Israel do mapa. Legitima, ainda que de forma disfarçada, a lógica do extermínio. Sua repetição desenfreada, muitas vezes por quem sequer conhece o mapa da região, revela o quanto a ignorância pode ser convertida em arma ideológica.

O Hamas não é um movimento de libertação. É um grupo terrorista que instrumentaliza o sofrimento palestino, sequestra sua própria população como escudo humano e mantém como objetivo declarado a destruição do Estado de Israel. Quem apoia esse projeto, direta ou indiretamente, precisa ter a coragem de dizer isso com todas as letras.

O fim dos confrontos em Gaza, anunciado nos últimos dias, deve ser saudado com alívio -- mas sem ingenuidade. O Hamas, embora abalado militarmente, ainda representa uma ameaça real. Sua retórica permanece intacta, suas redes de financiamento seguem ativas e seu desprezo pela vida continua sendo seu principal trunfo.

É por isso que a libertação de reféns não pode ser apenas uma manchete ou um momento comovente. Ela precisa ser um divisor de águas. Um ponto de inflexão moral. Um lembrete de que solidariedade seletiva não é solidariedade -- é cálculo político. E que nenhuma causa, por mais nobre que pareça, se sustenta quando constrói sua força sobre o silêncio cúmplice diante do terror.

Celebrar o retorno dos que sobreviveram é necessário. Mas lembrar dos que foram esquecidos -- inclusive por quem se dizia defensor da justiça -- é imperativo.