Operação deflagrada nesta quarta-feira (3) pelo Ministério Público Federal (MPF), Polícia Federal do Brasil (PF) e autoridades policiais da Irlanda busca desarticular uma rede internacional de tráfico de pessoas e lavagem de dinheiro.
Desde 2017, o grupo atuou em 14 países dos cinco continentes, aliciando brasileiras com falsas promessas e as levando de forma irregular ao exterior para serem exploradas sexualmente.
Conforme apontam as investigações, a organização fatura cerca de R$ 5 milhões por ano com o esquema criminoso.
Na Operação Cassandra, estão sendo cumpridos cinco mandados de prisão em Santa Catarina e na Irlanda, contra o líder do grupo e os principais integrantes dos núcleos financeiro e operacional, todos brasileiros.
Os pedidos foram feitos pelo MPF e autorizados pela Justiça Federal, para impedir a continuidade do crime, tentativas de fuga ou a intimidação das vítimas.
Além disso, a pedido da PF, a 1ª Vara Federal de Florianópolis autorizou o cumprimento de medidas cautelares diversas da prisão contra outros 13 brasileiros - como entrega de passaporte, proibição de deixar o país ou entrar em contato com as vítimas.
Estão sendo cumpridos ainda 30 mandados de busca e apreensão na residência dos investigados e em empresas usadas pela organização criminosa para lavar o dinheiro obtido com os crimes.
A Justiça determinou o bloqueio de bens (como carros e imóveis) e valores em contas bancárias e carteiras de criptoativos dos investigados e de 15 empresas em nome de laranjas.
Os mandados são cumpridos na Irlanda e nos estados brasileiros de Santa Catarina, Mato Grosso, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Minas Gerais.
O grupo é investigado por tráfico internacional de pessoas, lavagem de dinheiro, organização criminosa, rufianismo (que é obter lucro com a prostituição de outras pessoas), falsificação de documentos, crimes contra o sistema financeiro nacional e sonegação fiscal.
No MPF, a investigação é conduzida pela Unidade Nacional de Enfrentamento do Tráfico Internacional de Pessoas e do Contrabando de Migrantes (UNTC), em parceria com o Grupo Nacional de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco Nacional) e o Grupo de Apoio (GA) Criptoativos da Câmara Criminal (2CCR).
Como funcionava o esquema
As investigações apontam que, nos últimos oito anos, pelo menos 69 brasileiras foram vítimas do grupo criminoso e exploradas em diversos países como Irlanda, Nova Zelândia, Reino Unido, México, Croácia, Grécia, Israel, Singapura, Arábia Saudita, África do Sul, entre outros. Elas eram aliciadas com a promessa de melhores condições de vida e levadas ao exterior com vistos obtidos a partir de falsas propostas de emprego ou de estudo e documentos falsificados para burlar o controle de migração.
A rede criminosa controlava a oferta de serviços sexuais na internet, era responsável pelo agendamento dos programas e recebimento dos pagamentos. Segundo as investigações, o grupo faturava cerca de R$ 700 mil por mês. Os valores eram aplicados em empresas de fachada no Brasil, na compra de bens e imóveis, em fundos de investimentos e criptoativos. O objetivo era dar aparência de legalidade ao dinheiro obtido com os crimes.
O número do processo não é divulgado em razão de segredo judicial.