
É impossível pensar em um mundo sem matemática. Ela está presente na natureza, nas artes com as proporções áureas, nas escalas musicais, no corpo humano, na tecnologia e nos trabalhos científicos. E estudos recém-publicados pelo Instituto Nacional de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) reafirmam a importância do conhecimento matemático para o desenvolvimento profissional e econômico no Brasil.
A pesquisa As Competências Matemáticas no Mercado de Trabalho Brasileiro, conduzida pelo técnico de planejamento e pesquisa Maurício Cortez Reis, demonstra que profissionais em ocupações que exigem maior domínio da matemática podem chegar a ganhar 85% a mais do que aqueles em funções que demandam menos habilidades na área.
A análise, que cruzou dados do Quadro Brasileiro de Qualificações (QBQ) com informações da Pesquisa Nacional por Amostra em Domicílios (PNAD) no ano 2022, revela a necessidade de maior apoio e novas ações educativas, especialmente por conta de condições históricas. Enquanto 73% dos estudantes de 15 anos não atingiram o mínimo de proficiência em matemática no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), 33% da população em idade ativa não completou sequer o Ensino Fundamental.
Quando o Brasil é comparado a outros países de economias desenvolvidas, há disparidades ainda mais preocupantes. Profissões que utilizam conhecimentos matemáticos representam apenas 4,3% do PIB brasileiro, enquanto na França esse percentual chega a 18, e no Reino Unido, a 16%. Em países como a Dinamarca, profissionais com formação avançada em matemática podem ter rendimentos até 30% superiores.
“Estamos diante de um desafio que, se superado, pode transformar radicalmente as perspectivas profissionais dos brasileiros e a competitividade do nosso país no cenário global", afirma Reis. Segundo a publicação, profissões que valorizam conhecimentos de exatas oferecem salários até 160% mais altos e exigem maior escolaridade, com 20% a mais de rendimentos a cada ano adicional de estudo. Ainda assim, a disponibilidade de mão de obra qualificada para esses casos.
A Olimpíada Brasileira da Matemática
Um outro artigo, Notas de Matemática do Ensino Médio em 2021: Uma Análise Empírica, a Partir de Dados da OBMEP, do Uso de Internet Pelos Alunos do Saeb, dos autores Luis Cláudio Kubota e Maurício Beneti Rosa, busca compreender a relação entre o desempenho de alunos em matemática, nos ensinos fundamental e médio, com os resultados da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), além de medir se o uso da internet dentro das escolas pode ser associado ao aprendizado da disciplina.
A pesquisa cruzou dados de bases como o Censo Escolar e Ideb, entre outros, além de informações sobre alunos premiados na edição da OBMEP em 2021. Tal método revelou que as melhores colocações (maior número de medalhas) na competição estão associadas ao desempenho das escolas no Saeb e ao número de matrículas.
A pesquisa analisou 50 mil alunos premiados, identificando 15 mil escolas premiadas, sendo 5 mil do ensino médio. Os estados com maior destaque foram Ceará (CE), Espírito Santo (ES), Minas Gerais (MG) e Pernambuco (PE).
O artigo também validou a informação de que estudantes de status socioeconômico baixo tendem a apresentar desempenhos inferiores na OBMEP, o que impacta diretamente suas notas e chances de classificação. Por outro lado, um recorte com 420 escolas públicas de Minas Gerais finalistas mostrou que infraestrutura adequada e boas condições de trabalho para os docentes são fatores determinantes para ter sucesso na competição.
Inclusão digital e igualdade de gênero
O impacto de programas de inclusão digital nas escolas públicas foi estudado nos municípios brasileiros. Ações como “Um Computador por Aluno” e “Educação Conectada” estão presentes em 80% da rede de ensino. Contudo, tais iniciativas não foram suficientes para garantir proficiência em matemática ou no ranking do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). “A presença da banda larga em escolas tem efeito nulo para o desempenho acadêmico. Dessa forma, ressaltamos a necessidade de políticas públicas estruturadas e focadas em superar as limitações do aprendizado”, comenta Kubota.
A OBMEP impacta positivamente o desempenho escolar, mas enfrenta desafios como a disparidade de gênero. Nesse sentido, o estudo aponta que a relação de dois alunos para cada aluna premiada na OBMEP evidencia a necessidade urgente de políticas públicas educacionais que incentivem a participação feminina nas ciências exatas, desde o ambiente escolar.