Brasil / Economia

BC eleva juros de novo (agora são
os mais altos dos últimos 9 anos)

A elevação da Selic tem efeitos diretos na economia

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O Copom elevou a Selic em 1 ponto percentual, atingindo 14,25% ao ano, maior nível desde 2016. O ajuste visa conter a inflação, mas pode desacelerar a economia. Setores produtivos criticam a alta, alertando para impactos negativos no crédito e investimentos. Nova elevação, menor, é esperada para maio.

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil decidiu, nesta quarta-feira (19), por unanimidade, elevar a taxa básica de juros (Selic) em 1 ponto percentual, atingindo 14,25% ao ano. Esta é a quinta alta consecutiva, levando a taxa ao maior nível desde outubro de 2016.

Em comunicado, o Copom indicou que, caso o cenário econômico evolua conforme o esperado, um ajuste de menor magnitude poderá ocorrer na próxima reunião, prevista para maio. Essa sinalização sugere uma possível desaceleração no ritmo de aperto monetário, refletindo preocupações com a atividade econômica e a inflação.

Economistas do mercado financeiro interpretam essa indicação como uma possível elevação de 0,5 ponto percentual na taxa Selic em maio, o que levaria a taxa para 14,75% ao ano.


O que é a Taxa Selic e por que ela importa?
Uma explicação sem economês


A Taxa Selic é a taxa de juros que o governo usa para controlar o dinheiro no país. Ela afeta o preço das coisas, os empréstimos e até o que você ganha na poupança.

Como ela funciona? - O Banco Central decide se a Selic vai subir ou descer. Se os preços das coisas estão aumentando muito (inflação alta), o governo sobe a Selic. Isso faz os empréstimos ficarem mais caros, e as pessoas gastam menos. Assim, os preços param de subir tão rápido.

Se a economia está fraca e pouca gente está comprando, o governo baixa a Selic. Com juros menores, fica mais barato pegar empréstimos e fazer compras, ajudando a economia a crescer.

Como isso afeta sua vida?

Compras e empréstimos: Com a Selic alta, fica mais caro financiar um carro ou uma casa. Com a Selic baixa, fica mais barato.

Poupança e investimentos: Se a Selic sobe, o dinheiro da poupança e outros investimentos rendem mais. Se cai, rendem menos.

Preços das coisas: A Selic ajuda a controlar a inflação. Com juros altos, os preços sobem menos. Com juros baixos, podem subir mais rápido.

Imagine que você tem uma mesada. Se você pode pegar dinheiro emprestado fácil, vai querer gastar mais. Mas, se for difícil pegar dinheiro, você vai pensar bem antes de gastar.

Fatores que influenciaram a decisão

A decisão do Copom foi influenciada por diversos fatores, tanto no cenário externo quanto no doméstico:

Cenário externo desafiador: A conjuntura internacional, especialmente a política econômica dos Estados Unidos, tem gerado incertezas sobre o ritmo de desaceleração econômica e a postura do Federal Reserve (Fed). Essas dúvidas afetam diretamente as expectativas de crescimento global e, consequentemente, a economia brasileira. 

Inflação persistente: A inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), registrou alta de 1,48% em fevereiro, acumulando 4,87% em 12 meses. Itens como alimentos e energia elétrica tiveram aumentos significativos, pressionando o custo de vida. 

Atividade econômica e mercado de trabalho: Embora haja sinais de moderação no crescimento, indicadores econômicos e do mercado de trabalho mantêm-se resilientes, sugerindo que a economia ainda apresenta dinamismo.

Impactos na economia real

A elevação da Selic tem efeitos diretos na economia:

Crédito mais caro: Empréstimos e financiamentos, como os imobiliários e de veículos, tendem a ficar mais onerosos, podendo desestimular o consumo e os investimentos. 

Incentivo à poupança: Taxas de juros mais altas tornam investimentos em renda fixa mais atrativos, estimulando a poupança.

Controle da inflação: Ao encarecer o crédito e desestimular o consumo, a alta da Selic busca conter a demanda agregada, contribuindo para a redução da pressão inflacionária.

Histórico recente da taxa Selic

A taxa Selic tem passado por ajustes significativos nos últimos anos.

A tabela abaixo ilustra as variações recentes:

Data
Taxa Selic (%)
Janeiro de 2023
13,75
Março de 2023
13,75
Maio de 2023
13,75
Junho de 2023
13,75
Agosto de 2023
13,25
Setembro de 2023
12,75
Novembro de 2023
12,25
Dezembro de 2023
11,75
Janeiro de 2025
8,25
Março de 2025
9,25
Maio de 2025
10,25
Novembro de 2025
14,25

Críticas do setor produtivo

A elevação da Selic gerou críticas de diversas entidades representativas do setor produtivo, que expressaram preocupações sobre os impactos negativos na economia:

Confederação Nacional da Indústria (CNI): A entidade afirmou que a decisão do Copom não tem outros efeitos além de prejudicar a economia. Segundo a CNI, a taxa alta desconsiderou a queda do dólar e da cotação do petróleo no mercado internacional, fatores que ajudam a segurar a inflação. 

Associação Paulista de Supermercados (Apas): A Apas pediu mais "parcimônia" ao Copom para calibrar melhor a política monetária e não prejudicar a economia. A associação destacou que o Brasil já possui uma das maiores taxas reais de juros do mundo e que o aumento torna ainda mais difícil fomentar o nível de investimento necessário para o país se manter competitivo internacionalmente. 

Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG): O presidente da FIEMG, Flávio Roscoe, afirmou que a elevação da Selic a níveis tão altos tende a restringir os investimentos produtivos, aumentar os custos de produção e reduzir a competitividade da indústria brasileira e mineira. 

Anti-Brasil

O ex-presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, sucedido por Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, enfrentou diversas críticas relacionadas ao aumento da taxa básica de juros durante sua gestão.

O presidente Lula acusou Campos Neto de adotar um "comportamento anti-Brasil", alegando que ele aumentava a taxa de juros e falava negativamente do país, prejudicando a economia nacional.

Gleisi Hoffmann, então presidente do Partido dos Trabalhadores (PT) e hoje à frente da Secretaria de Relações Institucionais, afirmou que Campos Neto deixou uma "armadilha" ao contratar aumentos sucessivos da Selic, prejudicando a economia e limitando as opções da nova gestão do Banco Central.

Movimentos sindicais e sociais protestavam contra a elevação dos juros, argumentando que essa política prejudica o crescimento econômico e transfere renda dos mais pobres para os mais ricos.

Nesta quarta-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o atual aumento dos juros era esperado desde o fim de 2024.

E o líder do governo no Congresso Nacional, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), pediu "paciência" com Galípolo.