Comportamento

Aprenda a perceber sinais de vício em celular por parte das crianças

No Brasil, 25 milhões de jovens entre 9 e 17 anos usam a internet

Foto: Leonardo.AI
Os pais podem ser os estimuladores dos vicios dos filhos
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Especialistas alertam sobre os riscos do uso excessivo de telas, como déficit de atenção, sedentarismo, distúrbios do sono e impacto no desenvolvimento socioemocional, defendendo a supervisão parental e limites no acesso digital.

De acordo com a pesquisa TIC Kids Online Brasil 2023, realizada pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil, cerca de 25 milhões de crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos eram usuários de internet em 2023 no país.  

"Os pais devem observar se o uso das redes agravou ou produziu mudanças nos padrões comportamentais dos filhos, como novos vocabulários, respostas agressivas diante das frustrações, perturbações na concentração ou hiperfoco, distúrbios no processo de aprendizagem, procrastinação, obesidade, insônia; tendinites, dores posturais, isolamento social, etc. Por vezes, a intoxicação eletrônica apresenta sintomas semelhantes aos do Transtorno do Espectro Autista (TEA), o que pode levar pais e profissionais a erros de diagnóstico e prejudicar o tratamento apropriado.", exemplifica Marcos Torati, psicólogo e mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP.

O psicólogo aponta que as crianças se sentem seguras emocionalmente com a previsibilidade e estabilidade do ambiente, por isso a rotina é algo importante, como no ato de assistir o mesmo programa, ouvir as mesmas músicas e realizar as mesmas brincadeiras.  Segundo ele, desse modo, quando ele encontra um aparelho eletrônico que repete infinitamente o que ela deseja, a criança pode entrar em estado anestesiamento mental por alguns períodos, o que a longo prazo traz prejuízos.

"Quando toda essa hiperestimulação se torna habitual no contexto da criança e do adolescente eles se distanciam de três experiências importantes no processo de desenvolvimento: o contato com a sensação de vazio, o tédio e surgimento do ócio criativo. Pois, é na ausência do outro e dos estímulos externos que a criança e o jovem podem descobrir a importância da capacidade de estar só e o valor da solitude, explorando a capacidade de se entreter consigo e com a companhia dos próprios pensamentos", diz Torati.

Os pais podem ser os estimuladores dos vicios dos filhos. "Um celular pode ser entregue nas mãos de uma criança pela dificuldade dos pais em lidar com choros e frustrações. Em outros casos, esses pais têm medo de dizer ‘não’, enquanto em alguns lares, é construído um pacto inconsciente em torno do gozo, de modo que os pais não pensam em proibir o acesso dos dispositivos porque eles próprios são vítimas das intoxicações eletrônicas e não desejam perder e nem exigir esse direito", explica o psicólogo.

Os riscos do uso de celular pela crianças

Déficit de atenção e concentração

-- O uso excessivo de telas, especialmente para conteúdos rápidos e interativos, pode comprometer a capacidade de foco e atenção das crianças.

-- Estudos indicam que o excesso de estímulos digitais afeta o desenvolvimento das funções executivas do cérebro, essenciais para o aprendizado e a regulação emocional.

Prejuízo na criatividade e imaginação

-- Brincadeiras tradicionais, como jogos de faz de conta e atividades ao ar livre, estimulam a criatividade e o pensamento abstrato.

-- O consumo passivo de conteúdos digitais limita a exploração imaginativa e a capacidade de criar narrativas próprias.

Problemas no desenvolvimento socioemocional

-- Isolamento social e dificuldades de comunicação

-- O uso excessivo de celulares pode reduzir as interações presenciais e prejudicar a construção de habilidades sociais essenciais, como empatia e comunicação verbal.

-- Crianças que passam mais tempo em telas tendem a apresentar dificuldades em interpretar expressões faciais e emoções alheias.

Aumento da ansiedade e depressão

-- Redes sociais e jogos digitais podem expor crianças a conteúdos inadequados, comparações constantes e até cyberbullying, fatores que aumentam os níveis de estresse e ansiedade.

-- A dependência da validação online pode afetar a autoestima e gerar sentimentos de rejeição e inadequação.

Distúrbios do sono

-- A exposição à luz azul das telas inibe a produção de melatonina, hormônio responsável pelo sono, levando a dificuldades para dormir e prejudicando o descanso adequado.

-- Noites mal dormidas impactam diretamente o desempenho escolar, a memória e o humor da criança.

Sedentarismo e obesidade infantil

-- O tempo excessivo diante das telas reduz a prática de atividades físicas, fundamentais para o desenvolvimento motor e a prevenção da obesidade.

-- O sedentarismo infantil está diretamente relacionado a problemas metabólicos, como diabetes tipo 2 e hipertensão precoce.

Comprometimento da saúde ocular e postural

-- O uso prolongado de celulares pode causar fadiga ocular, síndrome do olho seco e até miopia precoce.

-- A postura inadequada durante o uso do dispositivo pode levar a dores musculares e problemas na coluna desde a infância.

Acesso a violência e sexualização precoce

-- Sem supervisão, as crianças podem ser expostas a conteúdos violentos, pornográficos ou que promovam valores inadequados para sua idade.

-- A exposição precoce a esses conteúdos pode gerar confusão mental, comportamentos agressivos ou sexualização antes do tempo.

Vulnerabilidade a predadores e cyberbullying

-- Crianças podem ser alvos fáceis de predadores online, que se aproveitam da ingenuidade infantil para manipulação e abuso.

-- O cyberbullying pode gerar impactos emocionais graves, incluindo baixa autoestima e até depressão infantil.

Uso compulsivo e dependência digital

-- O excesso de telas pode afetar o sistema de recompensa do cérebro, criando um ciclo de vício semelhante ao de drogas ou jogos de azar.

-- Crianças com acesso irrestrito ao celular podem desenvolver irritabilidade extrema quando privadas do dispositivo, um sinal claro de dependência.

Comprometimento do tempo 

-- O tempo dedicado ao celular pode substituir momentos cruciais para o desenvolvimento, como brincadeiras, interações familiares e aprendizado escolar.

-- Crianças que usam dispositivos eletrônicos em excesso tendem a ter menor desempenho acadêmico e dificuldades na gestão do tempo.