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Cesta básica de alimentos consome mais da metade do salário mínimo

Salvador lidera o aumento nos preços

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O custo da cesta básica subiu em 13 das 17 capitais pesquisadas em janeiro, com destaque para Salvador (6,22%). A mais cara foi São Paulo (R$ 851,82). Café, tomate e pão francês impulsionaram a alta, enquanto batata, arroz e feijão ajudaram a conter aumentos.

Levantamento de preços de itens de consumo básicos nas capitais do país identificou aumento no custo da cesta básica em janeiro deste ano em 13 das 17 cidades pesquisadas.

A maior alta foi em Salvador (6,22%), seguida por Belém (4,80%) e Fortaleza (3,96%). As quatro cidades onde houve redução no valor global dos itens foram Porto Alegre (-1,67%), Vitória (-1,62%), Campo Grande (-0,79%) e Florianópolis (-0,09%). O levantamento – realizado desde 2005 - é do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

A cesta básica mais cara foi cotada em São Paulo, onde os alimentos que a compõem custam R$ 851,82, 60% do salário mínimo oficial (R$ 1.518).

Quando se compara o custo da cesta e o salário mínimo líquido, ou seja, após o desconto de 7,5% referente à Previdência Social, verifica-se que o trabalhador remunerado pelo piso nacional comprometeu em média, em janeiro, 50,90% do rendimento para adquirir os produtos alimentícios básicos. Em dezembro de 2024, com o salário mínimo de R$ 1.412,00, o trabalhador precisava usar 53,75% da renda líquida. Já em janeiro de 2024, o percentual ficou em 52,33%.

Em janeiro, segundo o levantamento do Dieese, o salário mínimo necessário para a manutenção de uma família de quatro pessoas deveria ter sido de R$ 7.156,15.

Estudo divulgado em dezembro pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) indica que a renda média do trabalhador brasileiro foi de R$ 3.279 em outubro de 2024, dado mais atual disponível.

A comparação, segundo o Dieese, é possível "com base na cesta mais cara, que, em janeiro, foi a de São Paulo, e levando em consideração a determinação constitucional que estabelece que o salário mínimo deve ser suficiente para suprir as despesas de um trabalhador e da família dele com alimentação, moradia, saúde, educação, vestuário, higiene, transporte, lazer e previdência".

Em janeiro de 2024, deveria ter ficado em R$ 6.723,41 ou 4,76 vezes o valor vigente. A inflação dos últimos 12 meses, segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), foi de 4,8%, valor próximo ao aumento indicado.

As cidades do sul e sudeste estão entre as mais caras cotadas. Em Florianópolis, o valor médio da cesta básica foi de R$ 808,75, no Rio de Janeiro R$ 802,88, e, em Porto Alegre, R$ 770,63.

Curitiba, com R$ 743,69, Vitória com 735,31 e Belo Horizonte com R$ 717,51 completam o setor, mas foram superadas por Campo Grande (R$ 764,24), Goiânia (R$ 756,92) e Brasília (R$ 756,03). As capitais do Norte e Nordeste pesquisadas têm custos abaixo da metade do valor do salário mínimo. Em Fortaleza a cesta básica custou em média R$ 700,44, em Belém R$ 697,81, em Natal R$ 634,11, em Salvador R$ 620,23, em João Pessoa R$ 618,64, no Recife R$ 598,72 e em Aracaju R$ 571,43.

A análise do Dieese liga o aumento da cesta básica ao comportamento de três itens principais: o café em pó, que subiu em todas as cidades nos últimos 12 meses; o tomate, que aumentou em cinco cidades, mas diminuiu em outras 12 nesse período, mas teve aumento acima de 40% em Salvador, Belo Horizonte, Brasília e Rio de Janeiro, por causa das chuvas; e o pão francês, que aumentou em 16 cidades pesquisadas nos últimos 12 meses, o que se atribui a uma "menor oferta de trigo nacional e necessidade maior de importação, nesse cenário de câmbio desvalorizado".

O reajuste poderia ter sido maior, porém, foi contido por itens como a batata, que diminuiu em todas as capitais no último ano, o leite integral, que, apesar do reajuste durante o ano, teve queda em 12 cidades em dezembro, e o arroz agulhinha e o feijão preto, que têm caído de preço nos últimos meses por conta de aumento na oferta.

Comportamento dos preços 

Em janeiro de 2025, o preço do café em pó subiu em todas as cidades pesquisadas. Os aumentos refletiram a oferta mundial restrita e a especulação do grão nas bolsas. As altas variaram entre 3,20%, em Campo Grande, e 23,00%, em Goiânia. Em 12 meses, todas as 17 capitais também apresentaram taxas positivas, com destaque para Goiânia (91,52%), Belo Horizonte (83,20%) e Aracaju (83,00%). 

O preço do tomate aumentou em 15 das 17 capitais, entre dezembro de 2024 e janeiro de 2025, com taxas expressivas em Salvador (50,47%), Belo Horizonte  (50,10%), Brasília (47,27%) e Rio de Janeiro (46,76%). As quedas foram registradas em Vitória (-8,25%) e Porto Alegre (-2,17%). Em 12 meses, o valor do tomate apresentou comportamento de preço diferenciado, com elevação em cinco cidades, as maiores em Fortaleza (39,07%), Natal (24,66%) e João Pessoa (20,41%). Houve redução em outros 12 municípios, destacadamente em Porto Alegre (-49,34%) e Florianópolis (-41,17%).  O maior volume de chuvas reduziu a oferta e a qualidade do fruto, o que provocou a elevação de preço. 

O preço do quilo do pão francês subiu em 14 capitais entre dezembro de 2024 e janeiro de 2025, ficou estável em Belém e teve queda em Campo Grande (-1,97%) e Aracaju (0,17%). As altas mais expressivas ocorreram em João Pessoa (2,64%), Florianópolis (2,36%) e Belo Horizonte (2,04%). Em 12 meses, o valor médio aumentou em 16 cidades, exceto em Aracaju (-1,32%). As elevações mais expressivas são as de Porto Alegre (9,09%) e Campo Grande (7,22%). A menor oferta de trigo nacional e a necessidade maior de importação, nesse cenário de câmbio desvalorizado, encareceram a farinha de panificação, o que explica a alta do preço do pão francês no varejo.

O preço do quilo da batata diminuiu em nove das 10 cidades do Centro-Sul, onde o tubérculo é pesquisado. As taxas variaram entre -46,85%, em Porto Alegre, e -6,83%, em Goiânia. A alta ocorreu em Belo Horizonte (18,70%). Em 12 meses, o preço médio diminuiu em todas as capitais, com destaque para as variações de Porto Alegre (-65,11%) e Florianópolis (-63,14%). A maior oferta e a alta produtividade das colheitas reduziram os preços no varejo.

Em janeiro de 2025, o preço do arroz agulhinha diminuiu em 16 das 17 cidades, com variações entre -5,82%, em Brasília, e -0,34%, em São Paulo. Em Vitória, a alta foi de 0,76%. Em 12 meses, 10 cidades tiveram elevação do preço médio. As maiores variações foram registradas em Salvador (6,51%) e São Paulo (5,38%). As reduções mais importantes ocorreram em Porto Alegre (-8,28%) e Brasília (-7,92%). A maior oferta, devido às importações de arroz, e o baixo movimento no mercado de compra e venda são responsáveis pelos valores menores na maior parte das cidades.

O custo do quilo do feijão diminuiu em 13 das 17 capitais. O valor do tipo carioquinha, pesquisado no Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Belo Horizonte e São Paulo, caiu em oito capitais com taxas que variaram entre -4,16%, em Salvador, e -1,58%, em Goiânia.

Quatro capitais tiveram elevação inferior a 0,50%: Natal (0,26%), Aracaju (0,29%), Brasília (0,30%) e São Paulo (0,43%). Em 12 meses, todas as cidades registraram redução, com destaque para Belo Horizonte (-26,88%). O preço do feijão tipo preto, coletado nas capitais do Sul, em Vitória e no Rio de Janeiro, foi menor em todas as cidades e as variações oscilaram entre -4,64%, no Rio de Janeiro, e -0,82%, em Florianópolis. Em 12 meses, o preço médio caiu em todas as cidades, com destaque para Porto Alegre (-14,60%) e Rio de Janeiro (-13,78%). A baixa demanda, devido às férias escolares, e o satisfatório nível de oferta explicam a diminuição no varejo.

O preço do leite integral baixou em 12 capitais. As reduções oscilaram entre  -3,87%, em Curitiba, e -0,16%, em Brasília. Em João Pessoa, o preço não variou. A alta mais importante foi anotada em Fortaleza (0,73%). Em 12 meses, o valor médio do leite acumulou alta em todas as cidades, com taxas entre 7,11%, no Rio de Janeiro, e 22,19%, em Belém. A maior disponibilidade de leite cru, impulsionada pelo avanço da safra nacional, tem aumentado o estoque dos produtos lácteos, como o leite UHT.