Como era o teto da Igreja do São Francisco
O desabamento parcial do teto da Igreja de São Francisco, localizada no Pelourinho, em Salvador, aconteceu por volta das 14h30 desta quarta-feira (5 de fevereiro) de 2025, matando uma turista e deixando pelo menos 5 outras pessoas feridas.
De acordo com testemunhas, um forte estalo foi ouvido antes que parte do teto desabasse, atingindo um grupo de turistas que apreciava as famosas pinturas do forro.
A turista Giulia Panchoni Righetto (26 anos), de Ribeirão Preto, São Paulo morreu no local. As demais vítimas foram socorridas pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) e encaminhadas para hospitais da região.
O Corpo de Bombeiros da Bahia isolou o local e iniciou uma operação de busca para garantir que não houvesse outras vítimas soterradas sob os escombros. Equipes da Defesa Civil também foram acionadas para avaliar os riscos de novos desabamentos e reforçar a segurança da estrutura que ficou de pé.
Sósthenes Macedo, coordenador da Defesa Civil de Salvador, disse que "todo o espaço central da igreja cedeu. Possivelmente, alguma parte dessa cobertura se rompeu e, com o peso desse espaço superior do teto, a madeira veio abaixo com o sobrepeso.
A Academia de Letras da Bahia considerou que com o desabamento "o patrimônio cultural do Brasil foi seriamente lesado".
Histórico de problemas estruturais
A Igreja de São Francisco já apresentava sinais de deterioração há vários anos. Em 2023, laudos técnicos apontaram a necessidade urgente de restauração, destacando rachaduras nas paredes, infiltrações e degradação das estruturas de madeira. Apesar dos alertas de especialistas, a manutenção não foi realizada de forma abrangente, levando ao agravamento da situação.
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), responsável pela preservação de monumentos históricos no Brasil, já havia incluído a igreja em uma lista de edificações que necessitavam de intervenção emergencial. No entanto, entraves burocráticos e falta de recursos impediram que uma obra de grande porte fosse iniciada.
Uma joia do barroco brasileiro
Construída entre os séculos XVII e XVIII, a Igreja e Convento de São Francisco são amplamente reconhecidos como um dos mais impressionantes exemplos do barroco no Brasil. Seu interior é ricamente decorado com talhas de madeira recobertas em ouro, azulejos portugueses e pinturas detalhadas que retratam cenas bíblicas e elementos da iconografia franciscana.
O teto, que agora desabou parcialmente, era um dos pontos de maior destaque da igreja, sendo considerado uma obra-prima da arte sacra. O convento adjacente também abriga um dos claustros mais famosos do país, cujas paredes são adornadas com painéis de azulejos do século XVIII ilustrando a vida de São Francisco de Assis.
Impacto no turismo e na preservação do patrimônio
A Igreja de São Francisco é um dos destinos turísticos mais procurados de Salvador, recebendo milhares de visitantes anualmente. Seu fechamento temporário para avaliações e possíveis restaurações pode impactar significativamente o turismo na região, que depende fortemente do fluxo de visitantes interessados no patrimônio histórico e cultural da cidade.
Além disso, o desabamento reforça a necessidade de políticas públicas mais eficazes para a preservação de monumentos históricos. Especialistas alertam que muitas igrejas e edificações seculares no Brasil estão em situação semelhante, precisando de manutenção urgente para evitar tragédias como essa.
A história da Igreja de São Francisco está intimamente ligada à chegada dos franciscanos ao Brasil. A Ordem dos Frades Menores, fundada por São Francisco de Assis no século XIII, teve um papel fundamental na evangelização e colonização do território brasileiro. Os franciscanos chegaram à Bahia em 1587, estabelecendo-se inicialmente em uma pequena capela dedicada a São Francisco. Com o crescimento da ordem e a necessidade de um espaço maior, a construção da igreja atual começou no início do século XVIII.
A construção da Igreja de São Francisco começou por volta de 1708 e foi concluída em 1723. A obra foi financiada por doações de fiéis e pela própria ordem franciscana, que na época era uma das mais influentes e ricas do Brasil colonial. A igreja foi erguida no estilo barroco, com influências do rococó, e contou com a mão de obra de escravizados africanos, que desempenharam um papel crucial na construção de muitos dos monumentos históricos do Brasil.
Sua fachada é relativamente simples, em contraste com o interior ricamente decorado. O interior da igreja é revestido com mais de 100 quilos de ouro, aplicados em talhas douradas que cobrem paredes, colunas e tetos. Os painéis de azulejos portugueses, que retratam cenas da vida de São Francisco de Assis, são outro destaque. A igreja também abriga esculturas de madeira, pinturas sacras e um magnífico altar-mor.
A decoração da igreja é repleta de simbolismo religioso. As talhas douradas representam a glória de Deus e a riqueza da fé, enquanto os azulejos contam a história de São Francisco e sua dedicação aos pobres e à natureza. A igreja também possui imagens de santos franciscanos e cenas bíblicas, que serviam como ferramentas de catequese para os fiéis, muitos dos quais eram analfabetos.
A Igreja de São Francisco não era apenas um local de culto, mas também um centro de poder e influência na sociedade colonial. Os franciscanos eram responsáveis pela educação, assistência aos pobres e pela manutenção da ordem moral na colônia. A igreja também era frequentada pela elite local, que via na construção e decoração de templos uma forma de demonstrar sua devoção e status social.
Sua construção é cercada por lendas e curiosidades. Dizem que o ouro utilizado na decoração foi trazido diretamente de Minas Gerais durante o ciclo do ouro. Outra lenda conta que um tesouro escondido pelos franciscanos ainda estaria enterrado em algum lugar da igreja. Essas histórias contribuem para o mistério e o fascínio que envolvem o local.