Artes Visuais / Cidade

Exposição 'Malês' dá início ao calendário Salvador Capital Afro

O endereço da mostra é Rua da Bélgica, Nº 2

Foto: Bruno Concha
Várias obras estão reunidas na Casa das Histórias

A exposição ‘Ecos Malês’ está disponível para visitação, a partir desta sexta-feira (1º), na Casa das Histórias de Salvador (CHS). A mostra segue até o mês de maio, reunindo ecos de um dos maiores e mais representativos levantes liderados por africanos escravizados e libertos na história do Brasil, ocorrido em janeiro de 1835. 

A mostra tem curadoria de João Victor Guimarães, co-curadoria de Mirella Ferreira e reúne 114 obras de 48 artistas, sendo que 12 deles integram o coletivo Arquiteturas da Revolta.

Quem for ao equipamento cultural vai poder conferir obras de Ventura Profana, Voltaire Fraga, Rose Aféfé, Karamujinho, Helen Salomão, Jasi Pereira e Malê Debalê, entre outros. Ecos Malês provoca uma reflexão sobre movimentações históricas e atuais, protagonizadas por personalidades negras que lutaram e que lutam pela liberdade.

Várias obras estão reunidas no 4º andar da Casa das Histórias, entre elas esculturas, pinturas, fotografias, gravuras, site specific de paredes de adobes, macumbas pictóricas, que é como o artista Cipriano se refere à própria obra, bandeiras, patuás e videoperformance, divididas em três núcleos: Encontrar, Ruas da Revolta, e Inventar (Liberdade e Defesa).

Núcleos e obras

O primeiro núcleo, Encontrar, reflete o valor do encontro entre os malês, em sua maioria haussás e nagôs, para a organização do levante. A exposição destaca a importância do compartilhamento de informações e da construção de redes de apoio entre os participantes da revolução. 

O segundo núcleo, Ruas da Revolta, explora os ambientes onde a revolta ocorreu. Entre as obras apresentadas, está um mapa organizado pela equipe de pesquisa da exposição, a partir do livro Um Defeito de Cor e atualizado com algumas informações históricas que não estavam presentes no livro.

Este núcleo também apresenta artistas que pensam cidades, a exemplo de Rose Afefé, artista de Varzedo, no interior da Bahia, que volta a expor na capital baiana após 12 anos. Rose construiu Terra Afefé, uma "microcidade" de três hectares na cidade de Ibicoara, na Chapada Diamantina.

Na exposição, Rose Afefé apresenta a obra Paredes, que são paredes de adobe com telas para a exposição. As três paredes têm uma tela feita com tinta acrílica. O curador João Victor explica que as telas serão vendidas por uma taxa a ser revertida na realização de um sonho de uma pessoa que Rose encontrou na rua. “O desejo é colocado na obra, e quando ela é vendida, o comprador paga para realizá-lo. É uma forma de redistribuir a renda e fazer com que o comprador da obra financie e viabilize a realização do sonho de uma pessoa que está em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Rose é uma artista revolucionária que está investigando os poderes de renda e da arte”, revela João Victor.

O terceiro núcleo, Inventar (Liberdade e Defesa) aborda a busca dos Malês pela liberdade e o papel da resistência espiritual e religiosa. A curadoria entende que a Revolta dos Malês foi também em razão da necessidade de preservar a subjetividade e espiritualidade de uma parcela da população negra.

Este núcleo inclui trabalhos de artistas como o estreante Karamujinho, com fotografia de gravuras feitas com Efun (ou a sagrada Pemba) sobre a pele e a artista baiana Jasi Pereira, do Engenho Velho da Federação, que, após expor esculturas em outros países, está expondo pela primeira vez um conjunto de gravuras sobre sua experiência de retorno à Salvador e ida a Luanda, em Angola, no ano passado.

Funcionamento – Situada na Rua da Bélgica, Nº 2, a Casa das Histórias funciona de terça a domingo, das 9h às 17h, com entrada até 16h.

Os ingressos são vendidos na bilheteria da Casa das Histórias de Salvador ou na plataforma Sympla com os valores de R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia) e gratuidade às quartas-feiras.

Os visitantes também poderão visitar a Galeria Mercado (Subsolo do Mercado Modelo) com o mesmo ingresso.