O espetáculo Petra, nova montagem do clássico de Rainer Werner Fassbinder As Lágrimas Amargas de Petra von Kant, estreia no sábado, 13 de julho, no Teatro Cacilda Becker, em São Paulo, estrelado pelas atrizes Bete Coelho, Luiza Curvo, Lindsay Castro Lima, Clarissa Kiste, Renata Melo, Miranda Diamant Frias e Laís Lacôrte, com direção de Bete Coelho e Gabriel Fernandes e cenografia de Daniela Thomas e Felipe Tassara.
Com tradução direta do original em alemão feita por Marcos Renaux, uma trama fortemente emocional que se sustenta em diálogos tensos, em que, para muito além do amor, é a paixão, o desejo e a insatisfação que norteiam o comportamento das personagens, de certa forma refletindo a contínua busca pela tal felicidade comum a qualquer ser humano.
“Mesmo mais de cinco décadas após sua estreia, um texto lapidado para o teatro, que ultrapassa as marcas setentistas do ótimo filme e continua muito atual. As louváveis intenções feministas e provocações políticas do autor à época continuam relevantes nos dias de hoje, mas é o desconforto decorrente das relações humanas e suas frustrações que funciona como principal ponto de identificação com o espectador”, reflete Bete Coelho.
“Como poucos em sua época, Fassbinder soube tão bem usar o teatro e o cinema para provocar o espectador abusando da carga emocional, com interpretações precisas e ambientes enxutos, frios até. Temas ousados apresentados com altas doses de tensão emocional e, ao mesmo tempo, um distanciamento que deixa evidente a intenção de posicionar o público como observador e crítico do comportamento humano, como sugeria Brecht”, afirma Gabriel Fernandes.
Este clima é naturalmente percebido na cenografia de Daniela Thomas e Felipe Tassara, que favorece a performance das atrizes ao criar um ambiente limpo, intimista, que tem uma cama móvel como peça central, e ao dar maior amplitude a gestos, deslocamentos e expressões, por meio de espelhos em ângulo que reforçam as características narcisistas das personagens. Tudo ganhando ainda mais relevo com a iluminação concebida por Beto Bruel.
O figurino criado por Renata Corrêa foi construído a partir das ideias de transparência (revelando a nudez da alma, o despir da dignidade) e desconstrução (assimétricos, inacabados e sobrepostos loucamente, acompanhando o delírio de Petra). Em contraposição à fluidez da seda, casacos pesados remetem a uma Berlim moderna e fria.
Em três momentos de transição entreatos, o público ouvirá marcantes canções de filmes de Fassbinder interpretadas ao vivo pela cantora Laís Lacôrte e o piano de Fábio Sá: ?Lili Marleen (por Hanna Schygulla, no filme Lili Marlene), ??Memories are Made of This (por Rosel Zech, no filme O Desespero de Veronika Voss) e ??Capri Fischer (por Barbara Sukowa, no filme Lola).
O autor e cineasta Rainer Werner Fassbinder (1945-1982) foi um dos principais representantes do chamado cinema novo alemão. Estudou teatro em Munique, quando conheceu Hanna Schygulla, sua atriz preferida, que imortalizou a personagem Karin no filme As Lágrimas Amargas de Petra von Kant (1972).
Foi cocriador do antiteatro, iniciativa que contribuiu para definir seu estilo preciso, metafórico, político e inovador, quase sempre criticando a burguesia e a nova Alemanha do pós-guerra. Dirigiu 42 filmes (o último foi Querelle, em 1982) e escreveu muitas peças de teatro, entre as quais, As Lágrimas Amargas de Petra von Kant, obra que consagrou Fernanda Montenegro no início dos anos 80, ao lado de Renata Sorrah, Rosita Tomás Lopes, Juliana Carneiro da Cunha, Joyce de Oliveira e Paula Magalhães, sob a direção de Celso Nunes.
Sinopse - Petra von Kant é uma estilista de alta costura esmagada por sua paixão não correspondida. Por meio das intrincadas relações de poder entre mulheres, esta nova montagem do clássico de Rainer Werner Fassbinder “As Lágrimas Amargas de Petra von Kant” reafirma três forças universais: o feminino, o amor e a arte teatral. Seis mulheres de personalidades fortes que compartilham da incessante busca pelo amor e da desesperada necessidade de aceitar e ser aceita pela outra, mesmo que para isto seja preciso sacrificar o amor próprio.