Artes Visuais / Cidade

Subsolo do Mercado Modelo (em Salvador) ganha galeria de artes

A capacidade inicial é de até 200 pessoas por dia

Foto: Valter Pontes
Exposição da nova galeria de artes de Salvador

15 anos após ser desativado, o subsolodo do Mercado Modelo, em Salvador, volta a ser acessível ao público, com a abertura, no local, da Galeria Mercado, que passa a contar com uma exposição sobre a história do Mercado Modelo, peças dos artistas plásticos soteropolitanos Rubem Valentim, Mario Cravo Jr. e Vinícius S.A.

A visitação, gratuita, pode ser feita partir dessa sexta-feira (12 de janeiro), com funcionamento de terça a domingo, inicialmente, das 10h às 14h.

O acesso ocorre pela entrada principal do imóvel e a capacidade inicial é de até 200 pessoas por dia.

A galeria tem ainda a exposição fixa “Lágrimas”, do artista soteropolitano Vinicius S.A, que passou por mais de dez cidades do Brasil, além de Las Vegas, nos Estados Unidos, e Frankfurt, na Alemanha.

Com 15 mil lâmpadas remontadas, suspensas por redes de nylon, a exposição irá integrar o imaginário que as pessoas têm sobre a cidade de Salvador, constituindo parte da ressignificação do subsolo do Mercado Modelo.

A galeria também traz a historiografia do espaço, contada através de uma linha do tempo, formada por imagens que foram restauradas e nas obras expostas. A iluminação do subsolo também foi pensada para dar destaque à arquitetura do edifício. O local passou a contar com um conjunto de fotografias com um recorte histórico extenso, que vai de 1860 aos dias atuais. Fazem parte da seleção Arlete Soares, Amanda Oliveira, Lázaro Torres, Pierre Verger, Marcel Gautherot, Joe Heydecker, Estúdio Gonçalves e Uiler Costa.

O projeto foi pensado como um local de preservação da história do Mercado Modelo ao destacar personagens como Camafeu de Oxóssi, Mãe Menininha do Gantois e Mestre Caiçara, ampliando o panorama cultural e artístico de Salvador. Com mais de 100 anos de existência, o mercado é tombado pelo Iphan há mais de cinco décadas.

Acervo – Três obras de Rubem Valentim, que são três peças da série Templo de Oxalá em tamanho ampliado, que estão expostas. Todas em concreto, as esculturas foram feitas por uma equipe técnica habilitada, seguindo as diretrizes dos projetos originais do artista, falecido em 1991. O pintor e escultor sempre expressou o desejo de que suas obras de arte, fortemente inspiradas nas matrizes culturais e formadoras do país, se tornassem públicas.

Já as peças de Mário Cravo Jr. são da série “Cabeças de Tempo”, produzidas na década de 80, cuja matéria-prima é a madeira de expurgo do incêndio que acometeu o Mercado Modelo em 1984. A ideia é que a exposição dessas obras gere uma imediata conexão da arte com a própria história do edifício, além de ser uma homenagem ao artista no seu centenário.

Imagens sacras – Durante as obras de requalificação do subsolo foram encontradas duas esculturas sacras, uma de São José e outra Nossa Senhora da Conceição, ambas sem registro de data. As duas obras passaram por requalificação e também estarão na Galeria Mercado, como parte da exposição.

A escultura de Nossa Senhora da Conceição, em madeira, não possui autoria conhecida, mas sabe-se que foi doada por dois permissionários do Mercado, Homero Bellas das Horas (conhecido como Sr. Lula) e Arthur Silva Figueredo (conhecido como Sr. Tuca), na década de 1990. O intuito da doação era que as pessoas pudessem fazer orações ao visitarem o subsolo. O tipo de entalhe da escultura e os valores estéticos incorporados na obra têm características afrodescendentes.

A imagem de São José, também em madeira, foi produzida por Zé Eugênio, dado que foi possível obter pela assinatura na parte de baixo da obra. No entanto, as informações sobre o artista são escassas. É possível afirmar que se trata de uma escultura moderna, possivelmente do final do século XX.

A escultura foi mantida no mesmo local em que foi encontrada, e um fato curioso a respeito é que, quando ela foi localizada, o espaço da instalação “Lágrimas”, de Vinícius S.A., já havia sido definido. O artista interpretou o encontro como uma bênção de São José, já que sempre associou sua instalação ao santo, usando cânticos entoados durante as suas exposições.