O ano de 2024 está chegando e muitas pessoas já começaram a elaborar as suas tradicionais listas de promessas para o ano novo. Além das mais comuns como fazer dieta e economizar, cada vez mais os projetos voltados para bem-estar mental e físico têm ganhado espaço nesses planejamentos.
De acordo com o professor de yoga, naturopata e entusiasta por saúde e bem-estar, Ravi Kaiut, é preciso pensar além dos desejos básicos para ter realmente equilíbrio na vida.
“Quer conhecer as prioridades de alguém? Dê uma olhada na sua lista de promessas de ano novo. Quando ela foca apenas em bens materiais você pode perceber claramente que essa pessoa não prioriza a sua saúde e equilíbrio, por exemplo, por isso, dar uma atenção especial a esses pontos ajuda a estabilizar todos os outros.”
Existem conceitos japoneses milenares que têm se tornado cada vez mais conhecidos e que podem ajudar nesse caminho de equilíbrio e busca pela saúde e bem-estar geral.
Conheça os principais:
Ikigai
“O Ikigai diz respeito a encontrar o que amamos, somos bons em fazer, o que o mundo precisa e o que nos traz recompensas, o nosso propósito de vida. É descobrir nossa razão de acordar todo dia, trazendo significado e satisfação à vida, o que é essencial para nos dar disposição e entusiasmo”, afirma Ravi Kaiut.
O conceito japonês do "ikigai" é uma filosofia que aborda o sentido e o propósito da vida, destacando a interseção de diferentes elementos que contribuem para uma existência significativa e satisfatória.
A palavra "ikigai" pode ser traduzida como "razão de ser" ou "razão de viver" em japonês.
Essa ideia é representada visualmente como a sobreposição de quatro elementos principais: o que você ama, o que você é bom em fazer, o que o mundo precisa e pelo que você pode ser remunerado.
1 - O que você ama (paixão): Refere-se às atividades que você realmente gosta e que o motivam. Isso envolve identificar as coisas que trazem alegria e satisfação pessoal.
2 - O que você é bom em fazer (vocação): Relaciona-se às suas habilidades, talentos e competências. Isso inclui as atividades em que você se destaca naturalmente e que o fazem sentir-se realizado.
3 - O que o mundo precisa (missão): Envolve identificar as necessidades e demandas da sociedade. Isso destaca a importância de contribuir para algo maior do que você mesmo, buscando maneiras de fazer a diferença no mundo.
4 - Pelo que você pode ser remunerado (profissão): Refere-se às habilidades que são valorizadas pelo mercado. Isso implica encontrar uma maneira de transformar suas paixões, vocações e missões em uma fonte de sustento financeiro.
A interseção desses quatro elementos forma o ikigai, representando um ponto de equilíbrio onde as quatro áreas se encontram. Encontrar o seu ikigai significa descobrir uma atividade ou um propósito que reúna esses elementos, proporcionando uma sensação profunda de significado e realização.
Wabi-Sabi
“Esse conceito está ligado com apreciar a beleza da imperfeição, significa aceitar que nada é perfeito, valorizando as falhas que tornam a vida realmente autêntica, fazendo evitar cobranças exageradas.”
O wabi-sabi é um conceito profundamente enraizado na cultura japonesa, que busca apreciar a beleza nas imperfeições, na transitoriedade e na simplicidade. É uma filosofia estética que valoriza a autenticidade e aceita a natureza efêmera e imperfeita de todas as coisas.
O termo "wabi" refere-se à simplicidade e humildade, enquanto "sabi" está relacionado à beleza que vem com a passagem do tempo. Juntos, eles celebram a beleza nas coisas modestas, na assimetria, na irregularidade e na maturidade que vem com a idade.
Na estética visual, a aplicação do wabi-sabi pode se traduzir em fotografias que capturam a beleza efêmera de momentos cotidianos, com destaque para a simplicidade e a autenticidade. Isso cria uma conexão mais profunda com o público, pois permite que eles se identifiquem com a humanidade e a imperfeição por trás das histórias.
Shikita Ga Nai
“Grande parte da nossa felicidade é entender que nem tudo está nas nossas mãos. O Shikata Ga Nai foca justamente nisso, em reconhecer que há coisas fora do nosso controle e nos motiva a direcionar nosso foco para o que podemos influenciar”, reforça Ravi Kaiut.
Essa expressão tem raízes profundas na cultura japonesa e representa a aceitação resignada diante de situações inevitáveis.
A tradução literal de "Shikata Ga Nai" é "não há nada a ser feito" ou "é inevitável". Essa filosofia reflete a ideia de aceitar os eventos da vida, mesmo quando são desafiadores ou dolorosos. Em vez de resistir ou se revoltar contra o que não pode ser mudado, o japonês que segue o princípio do "Shikata Ga Nai" procura encontrar equilíbrio emocional e serenidade ao aceitar as circunstâncias como são.
O "Shikata Ga Nai" tem raízes históricas profundas, especialmente visíveis em momentos difíceis da história japonesa, como os desastres naturais e eventos como a Segunda Guerra Mundial. Durante esses períodos, a filosofia se tornou uma ferramenta para enfrentar as adversidades e manter a resiliência diante da incerteza.
Essa mentalidade também se reflete na cultura japonesa contemporânea. Em situações cotidianas ou crises globais, os japoneses muitas vezes recorrem ao "Shikata Ga Nai" como uma abordagem para lidar com desafios. Isso não significa passividade, mas sim uma aceitação consciente da realidade, seguida pela busca de soluções práticas e positivas quando possível.
Entender o "Shikata Ga Nai" é uma chave para compreender a psique japonesa e suas abordagens únicas diante das adversidades. Essa filosofia não apenas molda as respostas individuais, mas também influencia as atitudes sociais e governamentais em momentos de crise.
Em um mundo em constante mudança, a filosofia "Shikata Ga Nai" oferece uma perspectiva valiosa sobre como abordar as inevitabilidades da vida com uma mente calma e coração aberto, lembrando-nos de que, mesmo diante do desconhecido, a aceitação pode ser a primeira etapa para a superação.
Kaizen
“Kaizen é buscar melhorias constantes na vida, valorizar mudanças graduais, reconhecendo seu impacto ao longo do tempo. Esse conceito ensina a focar no desenvolvimento contínuo, incentivando pequenos passos para alcançar grandes objetivos.”
Essa palavra, que significa literalmente "mudança para melhor", representa uma abordagem sistemática e contínua para aprimorar todos os aspectos da vida, do trabalho ao pessoal.
O conceito de Kaizen vai além de ser apenas uma prática empresarial; é uma mentalidade que permeia todos os níveis da sociedade japonesa. Na esfera profissional, as empresas japonesas incorporam o Kaizen em suas operações diárias, incentivando os funcionários a identificar oportunidades de melhoria e a contribuir para a eficiência e qualidade constantes.
No âmbito pessoal, o Kaizen incentiva a autorreflexão e a busca por pequenas melhorias diárias. Essa filosofia destaca a importância de fazer mudanças incrementais ao longo do tempo, em vez de buscar transformações radicais. A ideia é que pequenos ajustes frequentes levam a melhorias significativas a longo prazo.
O Kaizen também se estende às relações interpessoais, incentivando a comunicação aberta e a colaboração para resolver problemas. Em vez de apontar culpados, o foco está na identificação de soluções e na implementação de mudanças que beneficiem a todos.
No cenário global, o Kaizen ganhou reconhecimento como uma abordagem eficaz para impulsionar a inovação e a eficiência em diversos setores. Empresas fora do Japão adotaram princípios kaizen em suas práticas de gestão e processos de produção, reconhecendo o valor de uma cultura que valoriza a melhoria contínua.
O Kaizen não é apenas uma ferramenta, mas uma filosofia que promove uma mentalidade de crescimento e aprendizado constante. Em um mundo em constante evolução, o conceito japonês de Kaizen oferece uma lição valiosa sobre como abraçar a mudança de forma contínua, buscando aprimorar-se não apenas como indivíduos, mas também como sociedade.
Gaman
“O conceito Gaman é direcionado a ensinar que a vida oscila entre altos e baixos de forma natural, e que para lidar com isso da melhor forma possível é necessário ter maturidade emocional, autocontrole e paciência para enfrentar desafios”, explica Ravi Kaiut.
A palavra pode ser traduzida como "perseverança" ou "resiliência" e representa uma atitude de suportar as dificuldades com paciência e determinação, sem queixas ou lamentos.
O Gaman é uma parte intrínseca da cultura japonesa, refletindo não apenas uma resposta individual às adversidades, mas também uma abordagem coletiva diante das dificuldades. Em momentos de crise, os japoneses frequentemente recorrem ao Gaman como uma fonte de força para enfrentar desafios, sejam eles naturais, como terremotos e tsunamis, ou desafios socioeconômicos.
A filosofia do Gaman incentiva a aceitação ativa das circunstâncias, mesmo quando são difíceis. Em vez de se render ao desespero ou reclamação, a pessoa que pratica o Gaman procura encontrar significado nas dificuldades e perseverar com determinação. Essa atitude é muitas vezes expressa através da paciência, da persistência e da capacidade de suportar adversidades com dignidade.
O Gaman também desempenha um papel importante em situações cotidianas. Seja enfrentando longas jornadas de trabalho, congestionamentos de trânsito ou outras contrariedades da vida, os japoneses muitas vezes demonstram a filosofia do Gaman ao manterem a compostura e continuarem avançando, independentemente das circunstâncias desfavoráveis.
Além disso, o Gaman não é apenas uma resposta individual, mas uma atitude socialmente valorizada no Japão. A capacidade de suportar coletivamente as dificuldades fortalece os laços comunitários e contribui para a estabilidade social em momentos desafiadores.
Em um mundo onde a resiliência é cada vez mais necessária, o Gaman oferece uma lição valiosa sobre a importância de enfrentar as adversidades com paciência, determinação e uma atitude positiva. Essa filosofia não apenas molda a mentalidade japonesa, mas também oferece inspiração para todos que buscam superar desafios com graça e força interior.