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Livro conta a história de um homossexual preso por nazistas

É a história de Rudolf Brazda, um dos triângulos-rosa

Buchenwald, Alemanha, 24 de abril de 1945. Rudolf Brazda olhou para o arame farpado do campo de concentração pela última vez. Podia partir. Acabou…

Poucas semanas depois, ainda estava com a matrícula 7952. Tinha sido a quinta pessoa a usá-la.

Antes dele, houve dois poloneses, transferidos; dois homens provenientes do Reich alemão, mortos. Dos cinco, ele foi o único deportado por ser homossexual, o único marcado com um triângulo rosa.

Na aurora dos seus 97 anos, Rudolf Brazda nos deixa aqui um testemunho sem igual e raríssimo, sustentado por um rigoroso trabalho de pesquisa histórica.

Da ascensão do nazismo na Alemanha à invasão da Tchecoslováquia, da despreocupação no início dos anos 1930 ao horror do campo de concentração de Buchenwald, a obra revela em detalhe, pela primeira vez, as investigações policiais que visaram inúmeros homossexuais no Estado nazista.

Também aborda a questão da sexualidade num campo de concentração.

Esta é a história registrada na biografia de Rudolf Brazda, Triângulo Rosa – Um homossexual no campo de concentração nazista (Mescla Editorial, 196 p., R$ 70,60 - 2ª edição revista e ampliada), escrita por Jean-Luc Schwab.

Imóveis, escondidos sob o telhado, deitados de bruços sobre o forro, Rudolf e Fernand não tiveram tempo de descer. E agora era tarde demais. Acima de tudo, não podiam fazer ruído para não denunciar sua presença.

Havia alguns meses que estavam em Buchenwald, e eles conheciam as regras. Sabiam que, se fossem descobertos, sua vida não valeria muito. Fernand, porque era comunista. E Rudolf, porque não passava de um triângulo-rosa, um desviado, um homossexual.

Alguns metros abaixo deles, nos antigos estábulos reformados para outros fins, os soldados da SS haviam chegado. Os primeiros já estavam pondo jalecos brancos. Em poucos instantes, estariam prontos para submeter seus primeiros “pacientes” a exames médicos forjados.

Do lado de fora, os outros soldados da SS se apressavam para fazer descer os detentos de um caminhão. Pelos uniformes, eram soldados soviéticos. Rudolf e Fernand haviam ouvido a respeito dessas execuções. Eles sabiam. Contudo, não conseguiam tirar os olhos daquela cena...  

Rudolf Brazda, por sua personalidade singela, acrescenta sensibilidade sem igual à biografia de testemunha da História. Seu estado de espírito diante das adversidades é o que torna sua trajetória ainda mais digna de registro. Tanto que quase passou anônimo, não fosse o interesse de Jean-Luc por detalhar a deportação homossexual dentro da atrocidade maior do regime nazista.

Vítima da intolerância que permanece assombrando outros pontos do globo, Rudolf recebeu ainda em vida diversas homenagens por representar a resiliência.

O posfácio do livro resgata as honrarias recebidas, condecorações públicas em diversos países onde falou para universitários, associações, comunidades LGBT, promovendo o debate contra o preconceito e as agruras desmedidas da humanidade.

Um compêndio com fotos coloridas e reprodução de documentos ilustra a obra e aproxima o leitor da intimidade da vivência de Brazda.