Devia ter uma senha só pra todo mundo, só mudava o dedão
Outro dia fui a um restaurante num pequeno shopping de Salvador onde precisa de senha pra entrar no sanitário. Um gentil funcionário digitou a senha pra mim e a porta se abriu: “O senhor viu como é fácil? É só gravar a senha.” “E pra sair?” “O senhor aperta um botão branco que tem lá dentro.”
Tudo hoje tem senha. A mala tem senha, o celular tem senha, a TV tem senha, o banco tem senha, o Wi-Fi tem senha, o cartão de crédito tem senha, o SAC tem senha, o portão da garagem tem senha, o diabo a quatro tem senha.
Devia ter uma senha só pra todo mundo, só mudava o dedão. Você botava o dedão no caixa eletrônico, falava “Abre-te, Sésamo” e a grana saía.
“Certa palavra dorme na sombra
De um livro raro.
Como desencantá-la?
É a senha da vida
A senha do mundo
Vou procurá-la. (...).”
(Trecho do poema “A Palavra Mágica”, de Carlos Drummond de Andrade)
Segundo o artigo “Uma breve história da senha e porque ela é importante” (loupenbrasil.com.br), “antigamente, o exército romano usava palavras de ordem – senhas que provavam que você era um membro da unidade. Esse sistema de autenticação inicial era uma maneira de saber se alguém era amigo ou inimigo”.
Essa piada, já no mundo moderno, aconteceu no quartel de um país amigo. O sentinela estava dando guarda quando se aproxima um jipe com um soldado. Ele aponta o fuzil para a cabeça do motorista do jipe e pergunta:
- Você sabe a senha?
- Sei.
- Então pode entrar.
Ainda segundo aquele artigo, “na década de 1920, a Lei Seca levou ao surgimento de bares Speakeasy onde o álcool era vendido ilegalmente e com um preço menor. Apresentar um cartão, frase de código ou dizer uma senha era o seu ingresso para entrar”.
“A enxurrada de filmes de ficção científica no fim do século XX foi um divisor de águas para a popularidade das senhas”, diz o artigo, que acrescenta: “Você sabe quando as senhas de computador começaram a ser usadas em filmes? Foi em “Jogos de Guerra”, lançado em 1983. Nele, um hacker no ensino médio, David Lightman, invade uma simulação de jogos de guerra do governo usando a senha “Joshua”, diz o artigo.
Será que vão pedir senha pra gente entrar no céu? Deve ser assim: uma letra minúscula, uma maiúscula, dois caracteres e um número. Ah, no final acrescente pf, um pouquinho de fé.
- E pra entrar no inferno?
- O inferno não pede senha. Chegou, entra direto.