Artes Visuais

MASP oferece sete novos cursos de estudos críticos

Os cursos online refletem sobre temas como representações visuais afro-atlânticas e arte indígena

Foto: Divulgação
Cursos

O MASP - Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand apresenta, em setembro de 2023, sete novos cursos online de Estudos críticos, organizados pelo MASP Escola. São eles: Mulheres artistas: dinâmicas de gênero no modernismo brasileiro, com Marina Mazze Cerchiaro, de 4 de setembro a 16 de outubro; Artes indígenas nos museus brasileiros: tensões e negociações, com Ivair Reinaldim, de 5 de setembro a 3 de outubro; Tecnologia na arte: da digitalizac?a?o à inteligência artificial, com Thiago Carrapatoso, de 5 de setembro a 3 de outubro; Arte Indígena Contemporânea (AIC): artistas e coletivos em catálogos de exposições, com Trudruá Dorrico, de 7 a 28 de setembro; Dissidência sexual e de gênero no Brasil Colônia, com Amara Moira, de 11 a 27 de setembro; Autobiografias e cultura visual no mundo afro-atlântico, com Rafael Domingos Oliveira, de 11 de setembro a 4 de outubro e Corpos e o Arquivo: institucionalização e crítica das representações, com Vivian Braga dos Santos, de 29 de setembro a 27 de outubro.

Com formato intensivo, o módulo de Estudos críticos tem como objetivo ser um espaço de debate sobre as intersecções entre a arte e as questões políticas e sociais de peso na atualidade. As aulas também transitam pelos assuntos propostos pelos ciclos temáticos que pautam o programa de exposições do museu a cada ano.

O curso Mulheres artistas: dinâmicas de gênero no modernismo brasileiro trata das trajetórias e produções de mulheres artistas atuantes no Brasil no século 20, principalmente escultoras, sendo algumas reconhecidas, como Maria Martins e Lygia Clark e as pintoras Anita Malfatti e Tarsila do Amaral, e outras desconhecidas do grande público, como Felícia Leirner, Pola Rezende e Mary Vieira. As aulas têm como objetivo apontar como as dinâmicas de gênero incidem sobre o campo artístico, revelando desigualdades. Aborda também as diferentes identidades de artista construídas por mulheres brasileiras ligadas a várias correntes estéticas.

As aulas de Artes indígenas nos museus brasileiros: tensões e negociações propõem uma experiência de reflexão, debate e troca sobre a presença das artes e de artistas indígenas nos espaços museais brasileiros na perspectiva da história da arte, partindo da análise de alguns estudos de caso, de modo a colocar em relação processos que envolvem tensões e negociações entre imaginários indígenas e não indígenas. O curso defende que a história da arte, enquanto posição teórica objetiva, assuma a urgência da revisão de suas práticas em diálogo com outras áreas de conhecimento e com as agências indígenas contemporâneas. Para isso, termos como enquadramento, deslocamento, descolamento e revisão de narrativas serão mobilizados e problematizados nos encontros.

No ano passado, o mundo da arte foi surpreendido pela popularidade de trabalhos em NFT. Logo em seguida, outro tema tomou as manchetes: a inteligência artificial. Obras feitas por algoritmos, textos inteiros sendo criados apenas por meio de perguntas, e artistas, antes mortos, apareceram em novos comerciais de publicidade. A partir deste cenário, o curso Tecnologia na arte: da digitalizac?a?o à inteligência artificial traz um panorama sobre como a tecnologia é trabalhada no setor artístico e museológico, além de contextualizar seu impacto na sociedade. O principal objetivo do curso, em formato de seminário, é dar a base para uma análise crítica sobre o uso das tecnologias no setor.

Arte Indígena Contemporânea (AIC): artistas e coletivos em catálogos de exposições propõe uma leitura e uma reflexão crítica sobre conjuntos de exposições que originaram catálogos de arte com autoria e organização de indígenas. O curso discute a produção da Arte Indígena Contemporânea (AIC) e os temas que ainda precisam ser descaracterizados nacionalmente, como os conceitos de arte, artefato, artista individual e artista coletivo, que assombram politicamente a AIC. Também será abordada a forma como os artistas e coletivos da AIC têm sido apreciados a partir de um lugar que reconhece, na expressão e no debate, as especificidades culturais indígenas através dos catálogos já publicados: Moquém Surarî (2021), Nakoada (2022), Joseca Yanomami: nossa terra-floresta (2022), MAHKU: Mirações (2023) e Carmézia Emiliano: a árvore da vida (2023).

O curso Dissidência sexual e de gênero no Brasil colônia propõe um mergulho na documentação do Brasil colônia e a reinvenção das percepções históricas do Brasil sobre sexualidade e gênero. Por séculos, a sodomia foi entendida como o pior crime/pecado que se poderia cometer, com consequências para toda sociedade que fosse permissiva ante tais comportamentos, o que explica a perseguição às dissidências sexuais e de gênero durante a colonização do Brasil. A análise da documentação produzida no período, contudo, mostra o quanto não foi possível erradicar do território os(as) antepassados(das) da atual comunidade LGBTQIA+, a despeito das penas extremas impostas por Igreja e Estado.

Com base em autobiografias de pessoas negras escravizadas, publicadas entre fins do século 18 e ao longo do século 19, o curso Autobiografias e cultura visual no mundo afro-atlântico discutirá produções escritas e visuais que conectam trajetórias afro-diaspóricas. Serão investigadas as “fissuras” nas práticas de representação da população negra no mundo moderno e suas vinculações com o colonialismo, branquitude e o poder instituído. O objetivo é possibilitar outros olhares para temas recorrentes da historiografia sobre escravidão, liberdade e abolicionismo, além de refletir sobre conceitos como “outremização” (Toni Morrison) e “dispositivo racial” (Suely Carneiro) para a compreensão das culturas visuais contemporâneas.

Que imagens sobre o Brasil e sobre os brasileiros estão gravadas em nossas memórias? Que léxicos utilizamos para nos descrevermos? De que modo essas representações visuais e linguísticas orientam nossos olhares sobre o Brasil e seus povos? Corpos e o Arquivo: institucionalização e crítica das representações levanta essas questões por meio de um percurso histórico sobre a prática do arquivo nas primeiras instituições nacionais do Brasil e sua herança europeia, moldada no bojo das colonizações e da fabricação do dito “Outro não-ocidental”. A partir dessa recuperação, serão discutidas estratégias artísticas de recusa a esses colecionismos de “corpos dissidentes” na arte contemporânea brasileira e seus diálogos transnacionais.

Todos os cursos do MASP Escola oferecem bolsas de estudo e descontos para professores da rede pública em qualquer nível de ensino mediante processo seletivo após inscrição, além de 15% de desconto para AMIGO MASP. As aulas dos cursos online serão ministradas por meio de uma plataforma de ensino ao vivo. O link será compartilhado com os participantes após a inscrição. Estes cursos serão gravados e cada aula ficará disponível aos alunos durante cinco dias após a realização da mesma. Os certificados de todos os cursos serão emitidos para aqueles que completarem 75% de presença.
 

Confira a programação completa:

Mulheres artistas: dinâmicas de gênero no modernismo brasileiro

Com Marina Mazze Cerchiaro

4.9 — 16.10.2023 | Segundas, 19h às 21h

Online (7 aulas)

As narrativas hegemônicas sobre a arte moderna vêm sendo revisadas criticamente por estudos que fraturam o discurso canônico, de modo a produzir histórias mais complexas e plurais que levem em conta questões raciais e de gênero. Este curso reflete sobre o significado de ser artista moderna mulher no Brasil, tendo em vista que a noção de artista moderno foi construída com base em estereótipos masculinos. Para tanto, enfoca as trajetórias e produções de artistas atuantes no século 20, principalmente escultoras, trazendo tanto nomes conhecidos do grande público quanto desconhecidos, com o intento de refletir sobre as razões de algumas dessas artistas serem projetadas pela crítica e historiografia da arte e outras permanecerem silenciadas.
A linha temporal se inicia na década de 1920 e vai até os anos 1960, destacando três momentos importantes do cenário artístico paulista e carioca: a Semana de Arte Moderna de 1922, a construção do Ministério da Educação e Saúde entre 1936 e 1945 e as primeiras Bienais de São Paulo (1951-1965). Pretende-se, assim, mostrar como as mulheres brasileiras pertencentes a diferentes correntes artísticas construíram imagens diversas de artista moderna e os modos como as dinâmicas de gênero incidem sobre o campo artístico, revelando desigualdades.

Investimento:

Público geral 5X R? 67,20

Amigo MASP 5X R? 57,12

Inscrições aqui


 

Artes indígenas nos museus brasileiros: tensões e negociações

Com Ivair Reinaldim

5.9 — 3.10.2023 | Terças, 19h às 21h

Online (5 aulas)

Vivenciamos a crescente presença da arte e de artistas indígenas nos espaços que constituem o sistema de arte, não apenas como produtores de objetos e imagens, mas também como sujeitos que fazem a mediação entre modos de vida e diferentes compreensões sobre o mundo. Nessa perspectiva, podemos nos indagar sobre como essas relações se estabelecem não só no tempo do agora, mas em processos históricos que precisam ser confrontados, reavaliados e abordados sob a multiplicidade de olhares.

Se a história da arte e os espaços museológicos se nutrem de modo recíproco, como a produção indígena foi e tem sido abordada e contextualizada nessas estruturas sistêmicas? Ao reavaliarmos essas relações, levando em conta a complexa rede de tensões e negociações existentes entre indígenas e não indígenas, podemos considerar como o presente pode ser capaz de reorganizar práticas e mesmo o que entendemos como arte em geral, não apenas na perspectiva de uma recorrente via de mão única – na qual as chamadas artes “não ocidentais” são incorporadas à estrutura sistêmica já existente –, mas na chave contrária, na qual as artes e artistas indígenas podem transformar o que entendemos como arte e os modos como desenvolvemos nossas práticas nesse sistema.

Investimento:

Público geral 5X R? 48

Amigo MASP 5X R? 40,80

Inscrições aqui


 

Tecnologia na arte: da digitalizac?a?o à inteligência artificial

Com Thiago Carrapatoso

5.9 — 3.10.2023 | Terças, 15h às 17h

Online (5 aulas)

O curso, que faz parte do projeto A internet deu ruim, traz um panorama sobre como a tecnologia é trabalhada no setor artístico e museológico, além de contextualizar seu impacto na sociedade. O principal objetivo do curso, em esquema seminário, é dar a base para uma análise crítica sobre o uso das tecnologias no setor. Nele, serão analisados o acesso aos dispositivos, a digitalização de acervos, a produção de obras de arte, a recepção por parte do público e das instituições museológicas, a ascensão das criptomoedas e NFTs – e logo depois a sua suposta morte – e discutiremos também a popularidade da inteligência artificial (IA).

O curso é destinado a todas as pessoas interessadas no tema e que queiram discutir as tecnologias no setor. Em algumas aulas, os alunos serão pedidos a se organizarem em grupos e preparem materiais para a aula seguinte. A organização dessas atividades será feita pela plataforma Discord, em um servidor próprio.

Importante: os exemplos sobre criptomoedas usados no curso são apenas para ilustrar o argumento e não são indicações de investimento. Deve-se procurar um especialista para entender onde investir o seu dinheiro. Não é o caso deste curso.

Investimento:

Público geral 5X R? 48

Amigo MASP 5X R? 40,80

Inscrições aqui


 

Arte Indígena Contemporânea (AIC): artistas e coletivos em catálogos de exposições

Com Trudruá Dorrico

7 — 28.9.2023 | Quintas, 18h às 20h

Online (4 aulas)

O curso fará uma leitura e uma reflexão crítica sobre conjuntos de exposições que originaram catálogos de arte com autoria e organização de indígenas. Será proposta a discussão sobre a produção da Arte Indígena Contemporânea (AIC) e os temas que ainda precisam ser descaracterizados nacionalmente, como os conceitos de arte, artefato, artista individual e artista coletivo, que assombram politicamente a AIC. Durante este percurso, será abordada a forma como os artistas e coletivos da AIC têm sido apreciados a partir de um lugar que reconhece, na expressão e no debate, as especificidades culturais indígenas através dos catálogos já publicados: Moquém Surarî (2021), Nakoada (2022), Joseca Yanomami: nossa terra-floresta (2022), MAHKU: Mirações (2023) e Carmézia Emiliano: a árvore da vida (2023).

Investimento:

Público geral 5X R? 48

Amigo MASP 5X R? 40,80

Inscrições aqui


 

Dissidência sexual e de gênero no Brasil colônia

Com Amara Moira

11 — 27.9.2023 | Segundas e quartas, 19h às 21h

Online (6 aulas)

A visibilidade conquistada nos últimos tempos pela comunidade LGBTQIA+ brasileira levou muita gente a pensar que esse seria um fenômeno estritamente contemporâneo e que apenas do começo do século 20 para cá teriam surgido figuras questionando as rígidas noções de sexualidade e gênero propagadas pelo Cristianismo. Essa percepção, no entanto, desconsidera o fato de que o Brasil colônia foi um período muito menos comportado do que imaginamos, algo que revelam os documentos produzidos pela Santa Inquisição, as legislações em vigor nos nossos séculos iniciais, os relatos dos primeiros viajantes e mesmo a literatura do período.

A sodomia (palavra guarda-chuva que designava um sem-número de práticas dissidentes de gênero e sexualidade) era o pior crime que, à época, se poderia cometer, só comparável ao de Lesa-Majestade, e a punição prevista seria a de morte na fogueira, "para que nunca de seu corpo e sepultura possa haver memória". O objetivo, portanto, seria o completo apagamento de tais existências. Pensando nisso, a proposta do curso será mergulhar nessa documentação tão surpreendente quanto desconhecida e reinventar a compreensão que temos da nossa própria história, com especial atenção a antepassades do atual movimento LGBTQIA+.

Investimento:

Público geral 5X R? 57,60

Amigo MASP 5X R? 48,96

Inscrições aqui


 

Autobiografias e cultura visual no mundo afro-atlântico

Com Rafael Domingos Oliveira

11.9 — 4.10.2023 | Segundas e quartas, 19h às 21h30

Online (8 aulas)

Com base em autobiografias de pessoas negras escravizadas, publicadas entre fins do século 18 e ao longo do século 19, o curso discutirá produções escritas e visuais que conectam trajetórias afro-diaspóricas. Serão investigadas as “fissuras” nas práticas de representação da população negra no mundo moderno e suas vinculações com o colonialismo, branquitude e o poder instituído. O objetivo é possibilitar outros olhares para temas recorrentes da historiografia sobre escravidão, liberdade e abolicionismo, além de refletir sobre conceitos como “outremização” (Toni Morrison) e “dispositivo racial” (Suely Carneiro) para a compreensão das culturas visuais contemporâneas.

Ao longo das aulas, a produção iconográfica que se relaciona com a escrita autobiográfica no contexto da escravidão será apresentada e mediada. O professor Rafael Domingos Oliveira auxiliará os participantes a redimensionar tensões entre representação e autorrepresentação; os modos de ver e os modos de ser; e entre a luta abolicionista organizada e a agência da população negra sob diferentes condições de interação social.

Investimento:

Público geral 5X R? 76,80

Amigo MASP 5X R? 65,28

Inscrições aqui


 

Corpos e o Arquivo: institucionalização e crítica das representações

Com Vivian Braga dos Santos

29.9 — 27.10.2023 | Sextas, 16h às 18h

Online (5 aulas)

O objetivo do curso é abordar a potência política de arquivos na representação, formatação e difusão de corpos nas narrativas nacionais, observando a prática de colecionismo do Outro como ferramenta de controle. Para tanto, o curso trabalha com um conceito ampliado de arquivo, a fim de observar como diferentes repertórios iconográficos se configuram como mecanismos de regulação de identidades. Essa abordagem é feita por meio de um retorno às formações de arquivos no contexto europeu e a migração da prática ao Brasil, primeiro por meio da renovação da disciplina de História Natural em Portugal e, em seguida, pelas instituições fundadas com a mudança da corte portuguesa para o país, e suas continuações na jovem República.

Identificada essa trajetória, o curso propõe a observação das formas contemporâneas de resistência a esse colecionismo. Essa discussão se faz pela proposição de uma virada pós-colonial da chamada arte da memória e seu uso do arquivo como elemento plástico. Pois, se outrora, essa arte centrou-se na reconstrução de uma memória fraturada pelo trauma, o afastamento contemporâneo das abordagens psicanalíticas manejadas para pensá-la permite identificar a não-universalidade dos sujeitos-artistas que a praticam. Esses “corpos dissidentes” nos revelam formatos diversos do dispositivo arquivo e sua operação biopolítica. Mais do que um exame, esses artistas propõem vias para escapar a novas capturas, inclusive àquelas empreendidas pelo sistema das artes.

Investimento:

Público geral 5X R? 48

Amigo MASP 5X R? 40,80