Palco

BTCA reconstrói Plantando Jardins para temporada na Sala do Coro

Sessões têm entrada trocada por 1kg de alimento

Foto: Drica Rocha
Plantando Jardins

Criado durante a permanência provisória do Balé Teatro Castro Alves (BTCA) no Palácio da Aclamação, onde foi apresentado em bela temporada de estreia em celebração aos 42 anos da companhia, o espetáculo “Plantando Jardins” se reorganiza para ocupar a Sala do Coro do Teatro Castro Alves (TCA), demonstrando a sua premissa: a capacidade de adaptação do grupo, a oportunidade de criar danças por onde ele passar. A performance terá quatro sessões entre os dias 27 e 30 de julho, quinta a sábado às 20h e domingo às 18h. A entrada será trocada no local por 1kg de alimento não perecível, a ser doado ao programa Bahia Sem Fome.

Com direção de Daniela Guimarães, diretora artística do BTCA, a obra foi pensada desde sua gênese para que pudesse ser ampliada, modificada, redimensionada a cada apresentação e a cada espaço novo a ser habitado. Tem como mote de investigação justamente o caráter itinerante que a companhia tem vivido no momento de transição entre a saída necessária de sua sede no TCA e a sua volta futura. Trata das questões da relação corpo e arquitetura, corpo e adaptabilidade, corpo e acaso.

“Plantando Jardins” fala sobre o convívio, a simplicidade, o estar junto em diferentes tempos, espaços e configurações entre pessoas e os mundos ao redor. Busca destacar a escuta e o respeito à coletividade, no entendimento de que cada sujeito é ação própria para o movimento do todo. É sobre a contemplação, o dar a ver-se, o tempo de olhar para o outro, para a dança do outro, para o assunto e as questões do outro: um debruçar sob a perspectiva do outro para tornar-se o outro também. Abrir-se para mirar e ser mirado. Prazer, diversidade, protagonismos alternantes e alquimias das trocas são perceptíveis. Os bailarinos estão todo o tempo em cena em um jogo comum, performando dezenas de solos, enquanto o coletivo dá suporte aos momentos individuais.

O jogo de “Plantando Jardins” é pautado no texto “A cidade e as trocas” do livro “As cidades invisíveis” (2010), de Ítalo Calvino, onde “a rede de trajetos não é disposta em uma única camada” e “os habitantes se dão ao divertimento diário de um novo itinerário para ir aos mesmos lugares”.

Na composição da dança, trabalha tanto a ideia de estrutura coreográfica por meio de uma composição dirigida quanto a linguagem da improvisação em dança em tempo real. A paisagem sonora liga música eletrônica e acústica, mesclando gravações com execução ao vivo sobrepostas também construídas com a improvisação como premissa. A dramaturgia da obra se debruça ao conceito de filme cênico, na busca das relações entre dança e cinema, onde a configuração da obra cênica acontece pelos modos de pensar o tempo e o espaço cinematográfico, como se assistíssemos a um filme feito ao vivo.