Existe um grande abismo entre o que se diz em matéria dos direitos femininos e o que se faz. Na política partidária, por exemplo, existem cotas mínimas para a candidatura de mulheres, mas os partidos falham na hora de financiar as campanhas delas.
A afirmação é da ex-representante do Fundo das Nações Unidas para a População, Unfpa, no Brasil, Rebecca Tavares, a entrevistada desta semana do Podcast ONU News. Para ela, existe uma espécie de “jogo de cena” em alguns partidos que recrutam mulheres apenas para preencher a cota obrigatória de candidatas.
“E eles tentam colocar as mulheres para preencher uma cota, mas eles não financiam as campanhas das mulheres. Então, realmente, eles fingem que estão apresentando mulheres como candidatas, mas não estão apoiando as campanhas das mulheres, então as mulheres não avançam.”
Após se graduar em educação pela Universidade de Yale, nos Estados Unidos, e concluir um doutorado em Harvard, Rebecca Tavares passou a se dedicar ao trabalho para o desenvolvimento no terreno.
Entrou na ONU pelo Unfpa, onde passou vários anos, até migrar para a ONU Mulheres, a agência que representou em alguns países da Ásia incluindo Índia e Afeganistão.
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Violência contra mulheres na política
Para Rebecca Tavares, o Brasil está hoje mais forte em termos de legislações. Mas, como outros países, também precisa aumentar, drasticamente, o número de mulheres nos Parlamentos e nos Executivos. A especialista elogia os esforços da sua ex-agência pelo mundo.
“Então, esse é um grande trabalho da ONU Mulheres: realmente promover a mulher na vida política e em políticas públicas, e também na vida do setor privado, educação em todos os setores. Mas como mulheres políticas é muito mais direta a forma de influenciar as políticas públicas sobre equidade de gênero. E agora, no Brasil, as políticas públicas são bastante progressistas. O marco jurídico legal no Brasil, especialmente quando se trata de violência contra a mulher, e acesso ao mundo do trabalho, acesso à educação etc. A questão de gênero está bastante avançada no Brasil. Só que, na prática, essas políticas não estão sendo implementadas de uma forma consistente.”
Ao se aposentar das Nações Unidas, Rebecca Tavares, que já havia passado pela Fundação Ford, voltou ao terceiro setor. Hoje, ela continua trabalhando com desenvolvimento na Brazil Foundation.
Este ano, a entidade está destinando US$ 1 milhão para apoiar empreendedores negros no Brasil e jovens que deixaram de estudar e não retornaram à escola após a pandemia. A meta é fazer com que eles terminem a formação e entrem no mercado de trabalho.
“Então estamos apoiando os aceleradores que estão oferecendo esse tipo de apoio para empresários negros. Também temos um programa junto com uma fundação cooperativa para assistir diretamente os “nem-nem”, os jovens que não estão estudando e nem trabalhando. E muitas dessas pessoas saíram, desistiram da educação durante a pandemia.”
A presidente da Fundação Brasil, Rebecca Tavares, lembra que a entidade está priorizando este ano projetos também na área de mudança climática e equidade de gênero.