Comportamento

Psicóloga mostra como é possível entender e controlar o ciúme

O contexto cultural reforça a ideia de posse ligada ao amor que se sente por alguém

Foto: Pixabay/Creative Commons
O ciúme geralmente surge quando há uma ameaça, real ou fantasiosa

Relacionamentos amorosos, familiares e amigáveis englobam uma mistura de sentimentos. Inserido na convivência, é normal o despertar de inseguranças e desconfianças gerando o ciúme e possíveis desentendimentos. 

Por causa disso, a psicóloga Jéssica Helena Vaz Malaquias, professora doutora do curso de psicologia da Universidade Cidade de São Paulo – UNICID, instituição pertencente a Cruzeiro do Sul Educacional, explica que o ciúme se apresenta como um receio de que o parceiro se envolva afetivamente com outras pessoas interpretadas como mais gratificantes, interessantes e atraentes. 

“Junto a essa emoção, o indivíduo ciumento percebe-se muito mais envolvido no relacionamento em comparação ao seu par. Paira sempre a desconfiança de que o outro não está tão conectado ao vínculo e que assim poderia evadir mais facilmente da relação amorosa.” 

Assim, o ciúme geralmente surge quando há uma ameaça, real ou fantasiosa, de que um terceiro possa mudar a dinâmica da relação entre dois. Daí o medo, a insegurança e a solidão podem tomar conta do indivíduo. Além disso, Jéssica frisa que isso ocorre também devido a um contexto cultural que reforça a ideia de posse ligada ao amor que se sente por alguém. 

“’Amo você e você é meu’ é uma ideia que parece estar bem presente nos relacionamentos atuais. Se você realmente acha que o outro é um objeto que pode estar sob seu domínio, já há algo bem delicado em seu relacionamento que pode levar a conflitos internos. Entender suas inseguranças e o que você acha que é estar em um relacionamento com alguém é fundamental para que o ciúme não seja mote de crises e instabilidades”, indica a especialista. 

Entendendo a autonomia da pessoa e a nossa 

Jéssica afirma: é preciso aceitar que toda pessoa é ativa na construção e no exercício de sua autonomia. Especialmente no que ela intitula como sociedade de extrema vigilância: pelas redes sociais, há uma falta de privacidade e excessos de compartilhamento, nas quais muita gente participa e acompanha as rotinas, emoções e dificuldades quase em tempo real. E, com isso, há uma percepção ilusória de que se perdeu a própria autonomia. 

“Mas isso só acontece porque nós nos colocamos sob esses olhares. Já vi situações cotidianas de casais que descobrem traição porque o parceiro teria feito postagem na rede social e a parceira descobriu ao acessar essa informação na rede. A maneira com que utilizamos essa grande rede de informações sobre nós e os outros parece nos privar de autonomia e parece dar espaço para cerceamos a autonomia do outro”, conta. 

Relações passadas 

A psicóloga indica que as pessoas podem e devem aprender que o passado faz parte de nós e o carregamos conosco. O ponto que pode ser incongruente é como a pessoa se relaciona com essas vivências anteriores: há uma adoração maior que o próprio presente ou um rancor, mesmo apegado? 

“É preciso elaborar o que vivemos com outras pessoas no passado, sabendo que elas marcam quem somos hoje também. Sobre autonomia, o princípio é: todos somos autônomos, somos dotados de pleno domínio sobre as nossas decisões e escolhas”, diz. 

Trabalhando a confiança e evitando o ciúme excessivo 

“Acredito que o primeiro passo seria ter muito claro que tipo de relacionamento o indivíduo deseja para si. É importante pensar como você gostaria de amar e de ser amado; pensar em que tipo de parceiro/parceira você é. Interessante também ter bem claro quais os modelos mais saudáveis de relacionamento em que você acredita. Modelos que fazem um e outro crescerem e se desenvolverem enquanto dupla. Se você realmente acredita que o outro existe para fazer você feliz, comece a rever seus pressupostos. O outro existe para que você possa ser feliz com junto com ele. Alinhe as expectativas que tem sobre as outras pessoas. O outro não é obrigado a atender as nossas ilusões, pois trata-se de uma pessoa cheia de histórias e contradições. O mais importante dentro disso tudo é saber que em um relacionamento o outro é sujeito autônomo, assim como você e, portanto, não deve ser tratado como objeto a ser possuído”, diz a profissional.  

Por fim, a docente do curso de Psicologia da UNICID explica que a procura por ajuda é fundamental quando a angústia provocada pelo ciúme e pela instabilidade no relacionamento se tornam insuportáveis ou mesmo quando o sujeito de fato se vê sem saída e preso na dificuldade de encontrar alternativas para si e para a relação.