Preservar a história das lutas pela Independência do Brasil na Bahia é o que move o coração dos moradores do trajeto do cortejo a enfeitar suas fachadas anualmente para a festividade. A tradição de decorar as casas envolve famílias e os vizinhos e conta com histórias ricas como a de Dona Maria São Pedro, do Santo Antônio Além do Carmo, que completará 83 anos no dia 2 de Julho e há 38 anos exibe com orgulho sua arte em celebração à luta do povo baiano.
A residência de Dona Maria São Pedro foi vencedora por cinco anos consecutivos do tradicional concurso de fachadas da Prefeitura. Neste ano em que é celebrado o bicentenário da Independência do Brasil na Bahia, a atividade é retomada pela Fundação Gregório de Mattos (FGM), incentivando os moradores a decorar os espaços e premiando a residência mais criativa.
Costureira de formação, Dona Maria conta que produz toda a parte manual da decoração sozinha e com muita garra ao longo do ano. Sua inspiração, afirmou, surge até mesmo ao observar uma planta e, aos poucos, vai dando vida aos pensamentos e criando peças como bandeiras de fuxico e crochê, tapetes com as cores do Estado, faixas decorativas bordadas e vários outros elementos que juntos formam fachadas criativas. A bandeira do Brasil feita em crochê, por exemplo, levou seis meses para ficar pronta.
“Eu tenho muito amor no coração. Minha maior inspiração vem disso. E você pensa que eu vacilo? Eu me dedico muito. Vou pensando nas peças que posso fazer, peço a meus filhos para pesquisar na internet, vou nas lojas procurar material e vou criando”, contou a artista.
A tradição de enfeitar a fachada no 2 de Julho também celebra o aniversário de Maria São Pedro. Mãe de oito filhos e com 12 netos, ela tratou de envolver a família na atividade e criar fantasias para que os familiares deem vida a personagens ícones da Independência como o Caboclo, a Cabocla, Maria Felipa e Maria Quitéria. Esta última, sua filha Clelia Santana Leite, de 46 anos, dá vida há 5 anos.
“Eu costumo dizer que reencarno Maria Quitéria todos os anos. A garra dela para lutar e defender a cidade além de conseguir esse feito, mesmo sendo condenada pelo pai, foi muito grande. Quando minha mãe for descansar, vai caber a gente manter essa tradição e a responsabilidade é muito grande. História não se deixa para tras”, relatou.
Voltando ao passado - Este ano a família vencedora do concurso em 2002, de Sandra Moraes, da Soledade, retoma a tradição de decorar a fachada do imóvel e garante que terá uma decoração memorável. A família está radiante para relembrar a história iniciada em 2001 e que traz memórias tão positivas para os envolvidos. Aproximadamente dez mulheres estão trabalhando para fazer a decoração que terá como tema “Guerreiras da Independência”.
Sandra explicou que, por conta de algumas perdas familiares, a vontade de celebrar o 2 de Julho estava adormecida. Porém, neste ano, a família decidiu que era hora de retomar os trabalhos e aproveitar o concurso da Prefeitura como forma de celebrar a vida. “Esse nosso projeto vai unir a cultura de várias mulheres que participaram da Independência. Vamos entregar um folder para quem estiver passando com informações sobre a história do 2 de Julho, começando desde Cachoeira até aqui. É importante que as pessoas entendam a importância da data pro país e para nós”, detalhou.
O trabalho de decoração da família Moraes será árduo: vai iniciar no sábado, logo pela manhã, e só vai acabar quando o cortejo do Caboclo e da Cabocla passar. “Depois que a gente bota a decoração, as pessoas começam a se alegrar. Este ano, somos nós, mas ano que vem outros vizinhos vão querer participar também. Isso que é legal. Vai contagiando”, finalizou.
A filha, Hanna Moraes, conta que decorar a fachada do imóvel se tornou uma forma de unir a família e produzir boas memórias. Por isso, a expectativa para este ano está grande e contará até mesmo com a ajuda das primas Tatiane e Ticiane, de Lauro de Freitas, que deram a ideia para o tema deste ano. “Para mim, foram dias muito especiais quando decoramos nossa casa anos atrás. A gente via o Caboclo passar, os políticos acenando, e a festa se tornou um evento realmente da família. Quando a gente se unia para decorar era uma experiência sensacional”, relembrou