Artes Visuais

MuBE reúne de forma inédita legado de Niède Guidon na Serra da Capivara

Na exposição Pedra Viva: Serra da Capivara

Foto: Divulgação
Exposição

O Museu Brasileiro da Escultura e Ecologia -- o MuBE -- se transformou em uma grande "caverna contemporânea” com a nova exposição Pedra Viva: Serra da Capivara, o legado de Niède Guidon, e curadoria de Guilherme Wisnik e dos curadores convidados Gisele Felice e Ricardo Cardim.

A mostra une a importância do Parque Nacional com a trajetória da pesquisadora franco-brasileira e seus estudos sobre a ocupação humana na América, por meio de conceitos de arqueologia, paleontologia, geologia e botânica, além de arte contemporânea, ocupando as áreas interna e externa do museu.

Distribuídas pela área interna do Museu estão, pela primeira vez em São Paulo, 134 peças emprestadas da Fundação Museu do Homem Americano (Fumdham), selecionadas pela arqueóloga Gisele Felice, dentre as quais ossos de megafauna, artefactos líticos e cerâmicos dos sítios arqueológicos da região. Vêm, especialmente para a mostra, três fragmentos de pedra com pinturas rupestres originais com cerca de 12 mil anos de idade.

“A criação do Parque Nacional, em 1979, envolveu a remoção de famílias que viviam no local. Niède Guidon e sua equipe sabiam bem que uma ação consequente dependeria de um desenvolvimento econômico e social da região, envolvendo não apenas a atração do turismo, mas também a educação e a geração de renda para a população local. Mais de 40 anos depois, o seu legado é, ao mesmo tempo, científico, social e ambiental -- o que quer dizer, político”, comenta Guilherme Wisnik, curador da mostra.

"Era impossível preservar a cultura e a natureza em um local com tantas questões sociais e econômicas. Era necessário criar escolas de alto nível, preparar a população e criar novas fontes de trabalho", explica Niède.

A exposição também terá esculturas, fotografias, projeções, pinturas, desenhos e publicações. Obras de Marina Rheingantz, Rodrigo Andrade, Carmela Gross, Santídio Pereira, Lidia Lisbôa, Bruno Dunley, Fernando Limberger, Burle Marx, Alberto Martins, Gustavo Caboco, Davi de Jesus do Nascimento, Guga Szabzon, Castiel Vitorino Brasileiro, Raphael Oboé, Solange Pessoa, Iran do Espírito Santo, Maria Lira Marques, Tecfase, Mauro Restiffe, entre outros.

Além disso, espécies de plantas da Caatinga -- como o Mandacaru, o Xique-xique, o Cacto azul, a Macambira-de-flecha e o Caroá; e cerca de 500 peças secas de madeira nativa, obtidas com autorização da Secretaria do Meio Ambiente do Piauí, estarão presentes na área externa para representar o bioma. Assim, Niède e o acervo da Serra da Capivara mostram que a humanidade tem um passado antigo e rico, colocando a visão modernista em perspectiva.

“A exposição busca resgatar os conceitos que permearam o projeto inicial do MuBE como museu de ecologia. Para isso, propomos a união da arte, arqueologia, arquitetura e do meio ambiente no ano em que celebramos o aniversário de 90 anos de Niède Guidon, uma figura tão relevante para a preservação ambiental e cultural”, celebra Flavia Velloso, diretora-presidente do MuBE.
 

A exposição Pedra Viva: Serra da Capivara, o legado de Niède Guidon segue até o mês de julho. O MuBE, localizado na Rua Alemanha, 221 - Jardim Europa, está aberto ao público de terça a domingo das 11h às 17h. A entrada é gratuita.

Mais sobre Niède Guidon e a Serra da Capivara

Niède Guidon é uma arqueóloga franco-brasileira especializada em pré-história conhecida mundialmente pela defesa de sua hipótese sobre o processo de povoamento das Américas. Com seus estudos no interior do Piauí a partir da década de 1970, foi a principal responsável pela criação do Parque Nacional da Serra da Capivara, território com o maior número de sítios arqueológicos do continente americano. Nascida em 12 de março de 1933, ela completou seu nonagésimo aniversário neste ano.

O Parque Nacional da Serra da Capivara reúne mais de 1,3 mil registros pré-históricos da presença humana em 130 mil hectares de área. Liderada por Guidon, sua equipe encontrou evidências de que o povoamento do continente pode ser muito mais antigo e diferente do que se supunha, com pinturas rupestres de 35 mil anos e restos de fogueiras de 48 mil anos. Novos vestígios e novas técnicas de avaliação estimam a presença humana no continente a cerca de 100 mil anos atrás, segundo Guidon.

Museu Brasileiro de Escultura e Ecologia

O MuBE, ou Museu Brasileiro da Escultura e Ecologia, foi criado a partir da concessão do terreno, situado entre a Avenida Europa e a Rua Alemanha, pela Prefeitura de São Paulo à Sociedade dos Amigos dos Museus (SAM), no ano de 1986, para a construção de um Centro Cultural de Escultura e Ecologia.

Para a escolha do projeto do prédio da instituição cultural, foi realizado um concurso vencido por Paulo Mendes da Rocha. Nascia, então, o MuBE e seu prédio, que é um marco da arquitetura mundial e que conta também com o jardim projetado por Roberto Burle Marx.

O Museu tem como objetivo divulgar os mais diversos segmentos da arte, priorizando a escultura e os suportes tridimensionais.