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Editora Brasiliaris chega ao mercado

Meta é reeditar, somente neste semestre, 300 clássicos nacionais

Foto: Brasiliaris
Livro

Jovens estão cada vez mais interessados pela literatura brasileira. É o que aponta um estudo feito pela Nielsen BookScan e divulgado pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL).

De acordo com a pesquisa, adolescentes com faixa etária entre 11 e 13 anos, são 84% dos simpatizantes pela leitura. O gosto pela leitura também aumentou nos grupos dos mais velhos, entre 18 a 29 anos, saltando de 63% para 72% durante a pandemia.

É de olho neste nicho que surge a Editora Brasiliaris, com o propósito de levar clássicos brasileiros até os mais jovens. A proposta é ambiciosa: reeditar cerca de 300 clássicos, dando uma nova vida às capas e deixando-as mais “atuais”. Quem está à frente deste projeto é Tomaz Adour, presidente da LIBRE (Liga Brasileira dos Livros) e editor-fundador da Vermelho Marinho, junto com Rodrigo Aguirre, diretor criativo e sócio fundador da agência Spirit, os mesmos que são amigos há 35 anos e estudaram juntos em um dos colégios mais tradicionais da cidade do Rio de Janeiro, o Santo Agostinho.

Ao apostar na máxima de que um livro sempre deve ser julgado pela capa, a Editora Brasiliaris quer trazer mais modernidade para os clássicos, pensando com um ponto da história. “Tentamos usar referências dos livros que sejam cruciais junto com elementos modernos. Vamos tirar aquela impressão das obras clássicas com capas simples que não chamam a atenção dos jovens, e que parecem ser desinteressantes", diz Aguirre.

Para o diretor criativo, os clássicos não têm muitas diferenças para os contemporâneos “A maioria dos livros tem pautas que acontecem ainda nos dias de hoje, como assuntos de política,o lugar da mulher na sociedade na época , entre outros temas, que se não houve uma diferença na escrita da língua portuguesa poderiam ser facilmente confundidos com livros lançados recentemente”. 

Algumas das obras a serem lançadas pela Brasiliaris são títulos como : Casa Velha do Machado de Assis, Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá de Lima Barreto, A Bela Madame de João do Rio, O Fim do Mundo de Joaquim Manuel Macedo, entre outros livros. O novo selo pretende concluir o primeiro semestre com o lançamento de 300 clássicos e até o fim do ano fechar com 500 obras lançadas.

“Esses clássicos são obras de muita relevância e podem ter sido um pontapé para diversos leitores darem início no universo da literatura, mas as capas por muitas vezes não atraem os jovens a conhecerem a obra. Com isso pensamos em trazer uma capa moderna que inspire as pessoas se interessarem” conta Tomaz Adour.

Além da nova roupagem, o objetivo é trazer a leitura de modo mais acessível para os jovens, “Hoje em dia os livros que são mais baratos costumam ser com páginas brancas, sem orelha e com capas simples. São essas formas que as editoras encontraram para baratear, mas elas por muitas vezes não agradam, nem chamam atenção dos jovens” conta Adour.

Rei dos Clássicos

Conhecido por ser o “Rei dos Clássicos", por conta da sua relação com a literatura desde o nascimento, neto do jornalista Jaime Adour Câmara -- um dos maiores colecionadores de livros do Rio de Janeiro, que tinha uma biblioteca com mais de 20 mil livros, e primo de Câmara Cascudo, o editor já descobriu mais de 1 mil obras de diversos autores brasileiros que foram "esquecidas" pelo público, chegando a publicar 200 títulos à frente da Vermelho Marinho.

Adour ainda quer mais: reeditar mais de 10 mil obras nacionais de autores do século passado. E para quem acha que para por aí, o editor pretende lançar obras inéditas que foram descobertas por ele em arquivos na Biblioteca Nacional e “reconhecer” mulheres escritoras que utilizavam pseudônimos masculinos no século passado. “Estima-se que sejam mais de 2 mil obras escritas por mulheres escondidas e que têm uma grande importância na nossa história”.

Uma destas mulheres que Adour tentou fazer justiça foi a escritora Júlia Lopes de Almeida, que foi uma das fundadoras da Academia Brasileira de Letras, mas jamais pode ocupar uma cadeira por ser mulher e foi representada por anos pelo seu marido, o escritor Filinto de Almeida. “No ano em que são celebrados 160 anos de seu nascimento, buscamos mostrar a importância da escritora para a sociedade, organizando uma campanha nas redes sociais”, explica.

Entre os títulos, destaque para Casa Velha, de Machado de Assis, Ânsia Eterna, de Júlia Lopes de Almeida e As Visões, de Santa Teresa do Francisco Mangabeira. “Os livros são uma forma de cultura, em que todos podemos de alguma forma aprender algo importante, ver como houve mudanças na língua portuguesa e as diversas narrativas que uma história pode ter”, conclui.