Gina Marocci

Como era o Brasil antes da Independência - Parte 1

Antecedentes da Independência

A partir deste texto vamos nos preparar para os 200 anos da Independência da Bahia, que serão comemorados no dia 2 de julho. Contudo, como não conseguimos festejar direito o nosso 7 de setembro, vamos retornar um pouco no tempo para entender o clima político e social que reinava no Brasil em 1822.

A cada 15 dias adicionaremos um texto, que contará com os fatos políticos e administrativos do período e apresentará aspectos da história urbana dos lugares em questão.

De maneira bastante simplificada, antes da independência, o Brasil era dividido em 18 capitanias gerais e subordinadas; algumas foram anteriormente donatarias, mas foram confiscadas ou compradas pela Coroa Portuguesa.

É importante lembrar que a partir de 1763 a cidade do Rio de Janeiro passou a ser a capital da colônia. Desde o final do século XVIII aconteceram revoltas e insurreições em várias capitanias, principalmente por descontentamento pelos altos tributos pagos à coroa portuguesa.

A independência americana (1776), a Revolução Francesa (1789) e a independência do Haiti (1804) encontravam eco entre as colônias espanholas da América, e também no Brasil, cuja economia não ia bem devido à redução da extração do ouro, à proibição de abertura de fábricas determinada por D. Maria I, e à produção de cana-de-açúcar nas Antilhas, que fez o preço do açúcar despencar no mercado internacional.

As guerras empreendidas por Napoleão Bonaparte (1803-1815), contra as monarquias contrárias ao governo dele, também tiveram grande influência sobre o futuro do Brasil, principalmente a partir da instituição do Bloqueio Continental (1806), decretado por ele mesmo, que proibia todas as nações europeias a comercializar com a Inglaterra. Por causa disso, Espanha e Portugal sofreram retaliações e foram invadidos. A derrubada do rei Fernando VII desencadeou o processo de lutas pela independência nas colônias espanholas da América.

Em novembro de 1807 a coroa portuguesa, sob a liderança do Príncipe Regente D João, tomou uma drástica medida a fim de não cair nas mãos dos franceses: fugir para o Brasil, sob a escolta da marinha britânica, numa frota de 62 embarcações. A decisão resultou no embarque da família real e de centenas de pessoas, membros da nobreza, do alto clero e do corpo burocrático, como ministros, conselheiros, juízes da Corte, funcionários do Tesouro e militares. Na bagagem também vieram obras de arte, as joias da Coroa, o acervo da Biblioteca Real e todo o dinheiro do Tesouro.


Embarque da família real portuguesa em Lisboa (pt.wikipedia.org).

Ao chegar à costa brasileira, a frota dividiu-se em dois grupos: um grupo com parte da família real atracou em Salvador no dia 22 de janeiro de 1808; a outra parte rumou para o Rio de Janeiro. João de Saldanha da Gama Melo Torres Guedes Brito, 8º Conde da Ponte, era o governador da Capitania da Bahia (1805 a 1809) e foi o responsável pela recepção da família real em Salvador, a maior cidade da colônia, que contava com mais de 50 mil habitantes. Nesse período, duas importantes obras foram iniciadas, a do teatro São João e a do Passeio Público.

Durante sua estada na Bahia, D. João tomou decisões fundamentais que alteraram, efetivamente, o rumo da história da relação entre o Brasil e Portugal. A primeira foi a abertura dos portos no dia 28 de janeiro, que acabou com o monopólio português sobre a economia colonial e promoveu a entrada de outros produtos, principalmente os industrializados ingleses.

Criou a escola médico-cirúrgica, futura Escola de Medicina e classes de primeiras letras, e as companhias de seguros Comércio Marítimo e Conceito Público. Concedeu, ainda, autorização ao Governo da Capitania para dar continuidade à construção de 25 barcas canhoneiras, além da construção de novos elementos de defesa para a Bahia, liberou a criação de uma fábrica de pólvora, de uma fundição e de uma fábrica de vidros.


O 8º Conde da Ponte, trecho do frontispício de Salvador (Vilhena, 1801) e tela de Portinari sobre a chegada da família real (1952).

D. João, a rainha e seu séquito desembarcaram no Rio de Janeiro em 8 de março, quando foram recebidos com salvas de tiros de canhão, o povo a aplaudi-los pelas ruas cobertas de areia branca e ornadas com flores e ervas odoríficas. Das janelas decoradas com tapetes e colchas boiradas chuviam pétalas de flores sobre a comitiva.

Para alojar toda a comitiva real, o vice-rei d. Marcos de Noronha e Brito, o 8º Conde dos Arcos, cedeu o palácio dos vice-reis e o convento das carmelitas.

Como o palácio não satisfazia as necessidades da família real, foi-lhe oferecida a Quinta da Boa Vista, propriedade de um grande negociante, que se tornou a morada de D. João.

Prédios públicos e particulares foram escolhidos pelo vice-rei para abrigar os outros membros da corte e funcionários reais, muitas vezes com o despejo dos proprietários. Para isso, as fachadas eram marcadas com as inicias PR, que significavam Príncipe Regente, mas que o povo apelidou de Ponha-se na Rua ou Prédio Roubado.


Palácio Real e a Quinta da Boa Vista antes das ampliações e reformas.

Na época, o Rio de Janeiro possuía uma população de cerca de 40 mil habitantes e muitos problemas urbanos, como acontecia em Salvador, Recife e outras cidades maiores, então, a vinda de um contingente populacional acostumado com cidades com melhor qualidade urbanística impulsionou reformas importantes nela.

Ainda em 1808, D. João decretou a suspensão do alvará de 1785, que proibia a criação de indústrias no Brasil, contudo os produtos nacionais não tinham como disputar o mercado com os artigos industrializados britânicos.

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Para saber mais

COSTA, F. D.; PEREIRA, J. D. João VI: um príncipe entre dois continentes. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.