As Nações Unidas calculam que uma mulher morre a cada dois minutos devido a complicações na gravidez ou no parto. Esse quadro persiste apesar da queda em um terço das taxas de mortalidade materna em 20 anos.
Entre 2000 e 2015, o índice baixou de forma significativa, mas estagnou amplamente entre 2016 e 2020, tendo até recuado em algumas regiões.
A publicação Tendências na mortalidade materna 2000 a 2020 ressalta que a pandemia de Covid-19 e a crise econômica podem ter influenciado esse quadro de forma negativa.
O relatório lançado, esta quinta-feira em Genebra, indica que a taxa geral de mortalidade materna baixou 34,3% em 20 anos. Em 2000, ocorriam 339 mortes maternas por cada 100 mil nascidos vivos, um número que chegou a 223 mortes maternas em 2020.
Quase 800 mulheres morreram por dia em 2020. Os dados são do estudo realizado pela Organização Mundial da Saúde, OMS, o Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, o Fundo da ONU para a População e o Banco Mundial.
Com mais de 76%, Moçambique está entre os 10 países com a maior percentagem de redução da mortalidade materno-infantil nos primeiras duas décadas deste século. A lista é liderada pela Belarus com 95,5%.
Entre as nações lusófonas, Angola aparece com um decréscimo de 73,9%, Brasil com um aumento de 5,4%, Cabo Verde com redução de 64,5% e a Guiné-Bissau com uma baixa de 46% de óbitos de mães na hora do parto.
Portugal teve um aumento de 10,5% nesses casos, São Tomé e Príncipe baixou 17,6% e Timor-Leste teve 73% de mortes.
Nas Américas, salientam-se a Venezuela por ter registrado o maior aumento de mulheres morrendo ao dar à luz até 2020, enquanto entre 2000 e 2015 os Estados Unidos estavam em destaque.
Para o diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, embora a gravidez deva ser um momento de imensa esperança e uma experiência positiva para todas as mulheres, ainda é tragicamente chocante e perigosa para milhões em todo o mundo.
O chefe da agência diz que as estatísticas ilustram a necessidade urgente de garantir que todas as mulheres e meninas tenham acesso a serviços essenciais de saúde e a seus direitos reprodutivos.
De acordo com o relatório, entre 2016 e 2020, as taxas de mortalidade materna caíram em duas das oito regiões: Austrália e Nova Zelândia em 35% e na Ásia Central e Meridional em 16%.
A taxa aumentou na Europa e na América do Norte em 17% e na América Latina e no Caribe em 15%. Em outras regiões estagnou.
Grandes crises humanitárias
A concentração das mortes maternas continua a ser observada em regiões mais pobres do mundo e em países afetados por conflitos. Cerca de 70% dos óbitos em 2020 ocorreram na África Subsaariana, onde a taxa é “136 vezes maior” do que na Austrália e na Nova Zelândia.
Em contextos de grandes crises humanitárias, tais como Afeganistão, República Centro-Africana, Chade, República Democrática do Congo, Somália, Sudão do Sul, Sudão, Síria e Iêmen as taxas ultrapassam o dobro da média global.
As causas principais do problema, que podem ser evitáveis ??e tratáveis, são sangramento grave, infecções, complicações de abortos inseguros e condições subjacentes, como HIV/Aids.
Para a OMS. é vital que as mulheres tenham controle sobre sua saúde reprodutiva. Elas devem ter decisões sobre se e quando pretendem ter filhos, para que possam planejar e espaçar a gravidez para proteger sua saúde.
A diretora executiva do Fundo de População da ONU, Natalia Kanem, considera a taxa de mulheres que perdem a vida nessas situações como desnecessária e inconcebível.
Ela defendeu que o mundo pode e deve fazer melhor investindo urgentemente em planejamento familiar e preenchendo a escassez global de 900 mil parteiras.