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Furdunço tem o primeiro bloco montado por terreiro de umbanda

O bloco leva o tema "Salve a Malandragem!"

Foto: Divulgação
O Arrastão Pena Branca

O bloco Banda Tô Aê - Arrastão Pena Branca sairá no circuito Orlando Tapajós (Ondina-Barra) neste domingo (12 de fevereiro), participando do Furdunço. O primeiro bloco montado por um terreiro de Umbanda irá desfilar, no seu segundo ano de participação no evento, levando o tema “Salve a Malandragem!”, referência a entidades (guias espirituais) chamados Malandros e Malandras que trabalham nos terreiros levando alegria e leveza para aqueles que os procuram.

A mãe de santo, estudante de psicologia e arquiteta, Vanessa Magalhães de Iemanjá e Oxóssi, comenta sobre a emoção de estar participando novamente do evento. “Participar do Furdunço é uma grande honra, como baiana e foliã de carnaval há 20 anos, poder unir essa grande paixão com a fé, comunicando as mensagens da umbanda: de amor, caridade e respeito na avenida é algo extremamente gratificante. Cuidamos, com o nosso grupo, de cada detalhe com muito cuidado. O movimento Furdunço vai muito além do dia do desfile.”

Desde dezembro, a comissão organizadora do bloco fez pesquisas e estudos para a construção de toda a temática que envolve o cortejo. O conceito surge para trazer um olhar diferente da sociedade para a malandragem, que tem sido associada a hábitos de moral duvidosos e possui origem racista.

Essa associação permitiu que a criminalização - tendo como maior exemplo a Lei da Vadiagem - desses elementos não fosse questionada pela sociedade durante anos. A perpetuação da malandragem deve-se, exclusivamente, a setores populares (dentre eles, o religioso, como a Umbanda) que desafiaram o status quo, contando suas histórias e buscando reconstruir a imagem negativa que eles carregavam.

Carro alegórico, banda e foliões

O carro alegórico levará para a avenida uma exposição de arte itinerante dentro do tema “Salve a Malandragem”, composto por elementos presentes na cultura brasileira trazidos pelos povos africanos, na condição de escravos; e dos povos originários que tiveram suas terras tomadas e invadidas pelo branco europeu: os povos indígenas.

O objetivo do Templo Cacique Pena Branca e Pai Benedito de Angola, através dessa ação, é a divulgação e desmistificação dessas culturas, que são tão representativas para nossa sociedade e para nossa amada Umbanda, através das figuras dos caboclos, pretos velhos e demais linhas de trabalho, dentre elas, a de malandros.

O trio conta com a colaboração de artistas locais que contribuíram com suas obras para compor a decoração, nomes como Anunciação, Fernando Queiroz, Elson Junior, Graça, Bida, Vanderlei Oliveira e Silvia Campi. Também tem as artes em ferro com símbolos adinkra - um conjunto de símbolos ideográficos do povo acã, grupo linguístico da África Ocidental - da Luart e uma escultura de Zé Pilintra da galeria de arte Sal da Terra, no Pelourinho.

Para compor as roupas dos ogãs de toque e canto foi realizado pelo estilista Aládio, como também tem a participação do projeto Capoeira para Todos do Mestre Sombra, de Lauro de Freitas, e dos indígenas da Aldeia Tekoá Portal Tupinambá, de Massarandupió. Será uma manifestação dos mais variados modos: pelo canto, artes visuais e os figurinos dos cantores e curimba, além dos foliões.

Banda Tô Aê
Foto: Divulgação

Banda Tô Aê - Arrastão Pena Branca

Movimentando o bloco com seu som contagiante, a Banda Tô Aê - Arrastão Pena Branca levará muito axé para o Furdunço. Criada em 2016, na comunidade do Lobato, a banda Tô Aê era formada por um grupo de adolescentes que faziam apresentações com instrumentos artesanais na comunidade. Em 2017, participou pela primeira vez no Carnaval de Salvador e, em 2019, foi destaque na categoria samba, também neste grande festejo baiano. Em 2020, trouxe um repertório eclético para levar alegria e muita musicalidade para o circuito Ondina-Barra no Furdunço.

A banda tem uma parceria de longa data com a Curimba que nasceu no terreiro de Umbanda Templo Cacique Pena Branca e Pai Benedito de Angola, localizado em Vida Nova, Lauro de Freitas. Sua proposta, desde a formação, é ser porta-voz da religião, levando sempre a mensagem de amor e união onde estiverem.